O 8 de março marca a celebração do Dia Internacional da Mulher, uma data que resgata a luta por direitos das mulheres. Não por supremacia feminina, mas por igualdade em condições de vida para homens e mulheres.
A luta é antiga – pelo menos desde o fim do século XIX, mulheres dos Estados Unidos e da Europa já reivindicavam melhores condições de trabalho. No início do século XX, movimentos passaram a celebrar a participação da mulher na sociedade, ao mesmo tempo em que protestavam por diversas questões. Em 1975, a ONU unificou a data de 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
No automobilismo, a presença das mulheres é historicamente pequena, mas sempre digna de registros. Ao longo de décadas, elas se fizeram presente dentro e fora das pistas, como pilotas, engenheiras e dirigentes. Iniciativas recentes como a W Series e a F1 Academy vêm tentando diminuir essa diferença, embora a Fórmula 1 já não tenha uma mulher disputando corridas há mais de 30 anos.
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Para marcar esta data, o blog compartilha um artigo escrito por Fabiana Ecclestone, vice-Presidente da FIA (Federação Internacional do Automóvel) para o Esporte na América do Sul, a respeito da diversidade de gênero no automobilismo. Neste 8 de março, mas também em todo o ano, a questão não pode mais ser ignorada.
O impacto positivo da diversidade de gênero no automobilismo: como as mulheres estão mudando a cara do esporte a motor
Por Fabiana Ecclestone*
O automobilismo é um esporte que, historicamente, tem sido dominado pelos homens. Não é por menos: foi inventado por eles. Nos considerados “anos de ouro” das décadas de 1960 e 1970, as mulheres vistas nos autódromos eram em sua maioria esposas de pilotos e chefes de equipe ou namoradas – e que cumpriam magistralmente a função de cronometrista, sempre sentadas na mureta, faces tensas, com cronômetro de bolso (de ponteiro, ainda), caneta e prancheta na mão anotando tempos de volta de seus maridos/namorados que se arriscavam a altíssimas velocidades na pista – e muitos não voltaram.
Exceções – raras – sempre existiram. Maria Teresa de Filippis foi a primeira mulher a disputar a Fórmula 1, em 1959; Lella Lombardi, em 1975, foi a de maior sucesso chegando inclusive a pontuar no GP da Espanha daquele ano. E há a primeira destas exceções, ainda antes da existência da própria F1: a destemida francesa Hellé-Nice, que desafiou e venceu vários de seus concorrentes e estabeleceu diversos recordes de velocidade nos anos 1930 e 40.
A presença feminina sempre foi crescente no esporte a motor, mas de maneira muito tímida. Como protagonistas da competição, houve casos de sucesso como Michèle Mouton, vice-campeã mundial de rali em 1982 e vencedora de diversas provas, e o da alemã Jütta Kleinschmidt, até hoje a única mulher a vencer o rali Dakar na categoria geral, em 2001. Em ambos os casos, são feitos gigantescos.
No entanto, nos últimos 20 anos, o envolvimento feminino no esporte a motor, passou a crescer e nas mais diversas funções, seja como piloto, chefe de equipe, na engenharia, comunicação, marketing, jurídico e de eventos. Esse incremento se intensificou ainda mais nos últimos 10 anos com mais mulheres ocupando mais e mais posições consideradas chave, e este fenômeno está mudando a cara do esporte. Para melhor. Para uma visão mais ampla e mais diversificada.
Há várias razões para esse aumento. Uma delas é a crescente conscientização sobre a igualdade de gênero e a importância da diversidade e inclusão em todas as áreas da sociedade. Outra razão é a implementação de políticas de igualdade de gênero por parte de empresas, equipes e organizações esportivas, que estão trabalhando ativamente para atrair mais mulheres para o esporte.
Felizmente, muitas organizações esportivas estão trabalhando ativamente para tornar o automobilismo mais diverso e inclusivo. A FIA, por exemplo, estabeleceu a Comissão de Mulheres no Automobilismo para promover a igualdade de gênero no esporte. Além disso, a Fórmula 1 criou a F1 Academy, uma categoria exclusivamente feminina que visa oferecer uma plataforma para as mulheres se destacarem no automobilismo. A chefia da nova categoria, inclusive, é de Susie Wolff, que já foi piloto de testes da Williams e foi chefe da equipe Venturi na Fórmula E – pessoa com experiência e altamente capacitada para o cargo.
Em resumo, o aumento do número de mulheres no esporte a motor é um desenvolvimento importante que beneficia a indústria e abre portas para muitas mulheres que desejam seguir uma carreira no automobilismo, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a igualdade de oportunidades para todos os envolvidos.
Não podemos desistir e continuaremos buscando oportunidades.
*Fabiana Ecclestone é brasileira, advogada, e atua como Vice-Presidente da FIA (Federação Internacional do Automóvel) para o Esporte na América do Sul
Emanuel Colombari
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.