Quem acompanha a Fórmula 1 já sabe de cor e salteado que a categoria vai ter um novo regulamento a partir de 2022 – que deveria ter entrado em vigor já em 2021, mas que foi adiado em decorrência da pandemia da Covid-19.
O novo modelo dos carros já foi inclusive apresentado, e você já deve ter visto: novos pneus, novas asas, um monte de coisa. Mas você entendeu de fato o que vem de mudança por aí?
Bom, resumidamente, vamos tentar explicar – e, antes disso, entender – o que muda na F1 para 2022.
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É claro que a Fórmula 1 está de olho no público. Por isso, bolou um carro com um visual mais agressivo, mas também com mudanças aerodinâmicas importantes para tentar deixar as corridas ainda mais disputadas.
Desde que a categoria começou a trabalhar no novo carro, em 2017, percebeu que precisaria criar mais downforce (aquela pressão aerodinâmica que mantém os carros “presos” ao solo) para gerar disputas mais equilibradas. Para isso, apostou no chamado efeito-solo, que fez sucesso na F1 entre as décadas de 1970 e 1980.
Para facilitar a compreensão, pense no efeito-solo de helicópteros e aviões. A posições de asas ou pás de hélices faz com o que o fluxo do vento empurre a aeronave para frente e/ou para cima. No caso dos monopostos, a ideia é o contrário: aproveitar o fluxo do vento para deixar os carros mais grudados na pista, garantindo mais aderência.
Nos modelos utilizados pela Fórmula 1 até 2021, os carros perdiam downforce quando vinham atrás de outros carros – pegando o vácuo, por exemplo. Segundo estudos da própria categoria, a perda era de 35% a uma distância de 20 metros, chegando a 46% a 10 metros. Com os novos carros, a perda de sustentação aerodinâmica para quem vem atrás é de 4% a 20 metros, e 18% a 10 metros.
E como isso foi conseguido? Abordando várias questões sensíveis à aerodinâmica dos carros. O bico e a asa dianteira foram simplificados. Os barge boards (aquelas peças que ficavam ao lado do cockpit, atrás das rodas dianteiras e à frente das entradas de ar laterais) foram abolidos.
O assoalho dos carros também foi reformulado para acelerar a passagem de ar sob os carros, o que gerará menos pressão e grudará os carros na pista. As asas traseiras e os difusores terão design bem restrito, sem os endplates (aquelas bordas laterais nas asas traseiras), justamente para diminuir a turbulência do ar que sai do carro nessa corrente.
Com tudo isso, a tendência é que a Fórmula 1 fique mais lenta. Em compensação, oferecerá mais segurança para as disputas. Assim, tornará a briga mais equilibrada e imprevisível.
Fora isso, outras mudanças serão bem visíveis. Como os pneus, que passam de 13 para 18 polegadas. A promessa da Pirelli é não apenas deixar o visual mais impactante, como também oferecer compostos de perfil mais baixo, com menos deformação, ajudando também na aerodinâmica dos carros.
A princípio, os pilotos gostaram do que vem por aí. “Desenvolveram esse novo carro para podermos acompanhar os carros com mais proximidade. Espero que seja o melhor carro que a Fórmula 1 já viu”, afirmou Lewis Hamilton, da Mercedes, em entrevista coletiva a jornalistas brasileiros antes do Grêmio Prêmio de São Paulo.
“Posso dizer que há um trabalho muito duro sendo feito nos bastidores, não só nesta temporada. Você está sempre recebendo atualizações do carro, e temos que nos concentrar no carro do ano que vem. O time está de fato fazendo um trabalho duro”, acrescentou o heptacampeão, assegurando que “não é um trabalho fácil para nenhum dos times”.
Com um cenário mais favorável para perseguidores do que para perseguidos, a Fórmula 1 espera ver o pelotão intermediário colando nos líderes, e o pessoal do fim do grid andando mais perto do pelotão intermediário. Assim, se tudo der (muito) certo, é possível termos três, quatro e até cinco equipes brigando por vitórias com regularidade.
“A equipe grande que está em vantagem, como a Mercedes, como a Red Bull, esse status dela vai ser mantido. Agora, não tenha dúvida que McLaren, que Ferrari, que Alpine, que vêm progredindo, elas já estão trabalhando nesse carro. Elas têm aí aberta uma possibilidade, uma oportunidade, de serem tão boas, tão competitivas, lutando tanto por vitórias quanto Mercedes e Red Bull. Isso vai acontecer”, afirmou Reginaldo Leme, comentarista do Grupo Bandeirantes de Comunicação.
“Em 2022, a gente vai ter, na pior das hipóteses, cinco equipes lutando por vitórias. Na pior das hipóteses – mas tem outras também. Esses dias, a AlphaTauri e a Alfa Romeo, pessoas de lá de dentro, dizendo: aguardem que nós seremos a grande surpresa do ano que vem. Tomara que todas sejam a grande surpresa”, completou.
Emanuel Colombari
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.