Uma em cada oito pessoas em todo o mundo tem questões de saúde mental, sendo as mulheres e os jovens desproporcionalmente impactados. Três quartos dos afetados recebem tratamento inadequado ou não têm quaisquer cuidados. Os dados foram destacados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, neste 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior índice de pessoas com ansiedade: quase 19 milhões.
Diante desse cenário, é importante relacionar a causa com a campanha do Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama e saúde das mulheres.
O tratamento pode resultar em mudanças no corpo, como, por exemplo, a queda de cabelo e até a mastectomia (cirurgia de remoção completa da mama), o que pode afetar a saúde mental da paciente.
A assistente social Erika Batista, de 29 anos, foi diagnosticada com câncer de mama com apenas 28 anos. Em entrevista à Band, ela disse que sentiu o nódulo a partir de um autoexame após sentir um incômodo de baixo da axila. “Quando toquei, senti”, declarou.
“Quando recebo o diagnóstico, minha mãe estava em tratamento oncológico. Foi um susto! O câncer ainda é visto por muitas pessoas como sentença de morte. E não foi diferente para mim”, declarou Erika. Mãe de três meninos, ela conta que só pensava que seus filhos precisavam dela.
A assistente social conta que após receber o diagnóstico, ela se viu perdida, com “muito medo”. “Medo do tratamento em si, dos efeitos colaterais e medo de morrer mesmo”.
Com tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), Erika Batista iniciou o tratamento entre dois a três meses após a confirmação do diagnóstico, o que para ela, na época, era uma tortura. Ela foi submetida a oito sessões de quimioterapia e sofreu com os efeitos colaterais do tratamento, inclusive sem vontade até de se alimentar.
No período, a oncologista foi fundamental para o suporte emocional da paciente. “Eu criei vínculo com minha médica, confiei nela e comecei a cuidar da minha saúde mental também. Durante o tratamento eu ia compartilhando com ela as minhas dúvidas, angústias”, pontuou.
“Mexeu muito com minha autoestima quando o cabelo caiu…Mas aos poucos eu fui aceitando e entendendo que era por um tempo. E o principal era a minha cura”, afirmou Erika. Durante o tratamento, como prevenção, retirou as duas mamas e, atualmente, está com expansor para fazer a cirurgia de prótese em 2024.
Papel de profissionais da saúde
Mesmo com o suporte oncológico, por exemplo, o médico Bruno Conte, do Instituto Paulista de Cancerologia, aponta que é necessário ter ajuda psicológica. “O oncologista precisa ser apto para detectar se aquele sentimento do paciente é apenas uma angústia, um medo”, disse.
“Os transtornos psicológicos podem ser extremamente prejudiciais para o desenrolar do tratamento oncológico. Por isso, é de extrema importância a detecção precoce da condição e o tratamento imediato, para conseguir evitar danos maiores no futuro”, acrescentou o oncologista.
Para a psicóloga Fernanda Machado Viana, o papel do profissional é fundamental no processo de tratamento, já que o câncer de mama é um processo de transformação no paciente. “Com isso, a nossa missão é ajudar a pessoa na travessia do enfrentamento dessa doença, no sentido de acolher sentimentos que o incomodam, possivelmente desmistificar alguns processos do tratamento que podem causar sofrimento”, declarou.
O suporte psicológico pode ser tanto hospitalar quanto clínico para dar suporte emocional com relação aos tratamentos de quimioterapia, radioterapia, e se for necessário, na internação.
“Quando realizamos os nossos atendimentos, monitoramos se fazem exames de prevenção anualmente para que o diagnóstico precoce seja tratado o mais rápido possível”, disse a psicóloga.