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Depressão tem cura? Tire suas dúvidas sobre o transtorno

Psiquiatra responde às principais perguntas dos brasileiros no Google

Por Luccas Balacci

O Brasil é o país da América Latina com a maior prevalência de depressão, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Dúvidas sobre o transtorno mental levam muitos brasileiros à internet – o que jamais substitui o atendimento médico especializado.

A Sala Digital, parceria da Band com o Google, separou as principais dúvidas sobre o assunto e convidou o psiquiatra Rodrigo Borghi, pesquisador e colaborador do Instituto de Psiquiatria do HC Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), para respondê-las.

Depressão é doença?

“A gente usa o termo doença porque fica um pouco mais acessível. Como a depressão foi muito marcada por uma questão de subjetividade, de pessoas acharem algo abstrato, a gente usa esse termo ao falar com o paciente. A psiquiatria, porém, se refere a essas condições como transtornos, porque falamos de uma disfunção de comportamentos que deveriam ser normais.”

“Tristeza todo mundo tem, mas quando essa tristeza pode significar uma depressão? Quando ela é um excesso, ou não é adequada a situação – estar triste em uma situação onde deveria estar alegre, por exemplo. Chamamos de transtorno porque falamos de comportamentos que trazem um sofrimento clínico significativo, que atrapalham o indivíduo, causam um prejuízo funcional.”

Quais os sintomas da depressão?

“A gente tem dois sintomas centrais na depressão que precisam estar presentes, senão todos os demais não importam: a tristeza ou humor triste na maior parte do tempo; e a perda de interesse, prazer e motivação em fazer aquilo que gosta. Na sequência, há outros critérios, os sintomas acessórios, que incluem cansaço, perda ou ganho de peso e de apetite, insônia ou sonolência excessiva, desatenção ou queixas cognitivas, dificuldade de tomar decisões e lentidão psicomotora. Há ainda os sintomas físicos, o que a gente chama de sintomas somáticos, como dores no corpo, no estômago e outras queixas gástricas, além de mudança do ritmo intestinal, diarreia, constipação.”

“Então, globalmente, a depressão é a presença de um dos dois sintomas principais associados a mais ou menos quatro desses outros sintomas, persistindo por mais de 15 dias e trazendo sofrimento clínico significativo e prejuízo funcional, atrapalhando o indivíduo e a inserção social adequada dele.”

Como saber se estou com depressão?

“É importante ter o tempo como parâmetro. A resposta emocional de tristeza é normal a nossa espécie e não vai durar mais do que o necessário. Então, quando ela persiste, é importante ficar atento. Outro ponto importante é que a tristeza não precisa ocupar todo o tempo, mas sim a maior parte do tempo.”

“Muitas pessoas têm a visão da depressão grave, da pessoa que está deitado, de cama, impossibilitado de fazer algo. Há pacientes, porém, que ainda conseguem viver minimamente bem, com algum nível de prejuízo. Se aquela emoção está inadequada para o que está vivendo, persiste ao longo do tempo e é exagerada, é algo disfuncional.”

“E a ajuda profissional vai ajudar a diferenciar. As pessoas precisam perder muito ainda do preconceito com o médico psiquiatra e de falar das emoções de forma natural. Mas o primeiro sinal de alerta é a questão do exagero, da intensidade e da persistência.”

Depressão tem cura?

“Essa pergunta é muito interessante, porque ela leva a uma discussão quase filosófica. A cura é um conceito muito individual, cada paciente pode entender de um jeito. Para um, é sobre não ter mais os sintomas; para outro, não ter os sintomas e não precisar mais de nenhum tratamento. Eu diria que a cura é conseguir deixar de ter os sintomas, recuperar a qualidade de vida e voltar a funcionar."

“Alguns pacientes precisam de um tratamento crônico, para sempre, e estão curados mesmo tomando o medicamento. Outros vão precisar do remédio por um tempo determinado, vão se curar mas podem ter novos episódios ao longo do dia. É um conceito subjetivo.”

Como sair da depressão?

"Tudo vai começar com uma busca profissional por ajuda. Muita gente questiona como se portar no psiquiatra e eu digo que é como um médico de qualquer outra especialidade. É sobre falar o que está sentindo naquele momento. Na psiquiatria, a gente vai tentar identificar esses padrões para definir o melhor tratamento para o paciente.”

“Alguns estudos dizem que quando o quadro é muito leve, o tratamento começa pela psicoterapia. Já quadros que se mostram moderados podem ter indicação da medicação como uma estratégia combinada à terapia e às mudanças de hábitos. Não adianta apenas prescrever um remédio, é preciso rever a higiene, a qualidade do sono, a atividade física, o cuidado com a alimentação. Tudo vai ajudar na melhora do quadro.”

Como ajudar uma pessoa com depressão?

“Primeiro, eu diria disponibilidade, é preciso estar disponível para essa pessoa. Depois, a escuta, mas uma escuta sem crítica e sim de apoio. Algo mais na linha do ‘eu estou do seu lado, eu estou junto, a gente vai superar isso junto’ e menos na linha do ‘sai dessa, levanta dessa cama!'."

“Não que você não possa pedir isso para a pessoa, mas é preciso entender a necessidade da persistência e da resiliência. Há pacientes que, em um dia, conseguem dar uma volta no parque e, em outro, não conseguem. É importante não se frustrar e se voltar aos passos anteriores – a disponibilidade, a escuta e a persistência para motivar a pessoa a buscar o tratamento, a consulta com um psiquiatra. Essa escuta sem crítica ajuda a pessoa com quadro depressivo a falar, a querer ajuda.”

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