“Não baixem a cabeça”, diz ex-diretor da PRF após ser exonerado por Bolsonaro

Silvinei Vasques se despediu de colegas da corporação após ter sua demissão publicada em Diário Oficial

Narley Resende

Silvinei Vasques foi exonerado do cargo de diretor-geral da PRF nesta terça-feira
Valter Campanato/Agência Brasil

Em mensagem interna, Silvinei Vasques se despediu de colegas da PRF (Polícia Rodoviária Federal) após ser exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) do cargo de diretor-geral da corporação. O texto não menciona a demissão. 

“Não baixem a cabeça”, diz a mensagem a “membros do Conselho Superior da PRF, gestores, policiais rodoviários federais, servidores administrativos, veteranos, pensionistas , terceirizados e estagiários”. 

Réu por improbidade administrativa, acusado de pedir votos a Bolsonaro, e investigado por blitze nas eleições, Vasques disse que buscoufazer o melhor e elevar nossa instituição a patamares jamais alcançados”. “Entregamos uma instituição sólida e forte”, escreveu.

Leia a íntegra:

"Senhores (as),

Encerro minha missão a frente do DPRF. Busquei fazer o melhor e elevar nossa instituição a patamares jamais alcançados. Crescemos muito, enfrentamos desafios e dificuldades. Agradeço a todos aos Membros do Conselho Superior da PRF, aos nossos Gestores, Policiais Rodoviários Federais, Servidores Administrativos, Veteranos, Pensionistas , Terceirizados e Estagiários. Entregamos uma instituição sólida e forte. Continuem, ficarei torcendo por vocês. Não baixem a cabeça!!! Vençam!!! Um forte abraço a todos e se cuidem muito, somos Policiais de uma das melhores Polícias do mundo!!!!!

Obrigado!!! Obrigado!!!"

A exoneração de Vasques foi publicada no "Diário Oficial da União (DOU) desta terça e assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Cargo

Apesar da exoneração, Vasques mantém um cargo de nomeação no governo. Ele foi nomeado em 6 de dezenbro para integrar a “Comissão de Coordenação da Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro”. 

Marcas da gestão 

Vasques comandou a PRF durante bloqueios nas estradas no segundo turno das eleições. Além de réu por improbidade administrativa desde novembro, por pedir votos a Bolsonaro, ele é investigado em um inquérito aberto pela PF (Policia Federal) por blitze realizadas no dia do segundo turno, contrariando uma determinação da Justiça.

O argumento era de que a PRF estaria investigando questões técnicas dos veículos, como condições de pneus, mas as ações podem ter dificultado a chegada de eleitores aos locais de votação. Há diversas denúncias de eleitores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Eles teriam sido parados, numa suposta tentativa de impedir sua chegada aos pontos de votação. 

O MPF (Ministério Público Federal) aponta que há indício de omissão da PRF por motivos políticos.

O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, já disse que o caso será investigado internamente também. “Nós tivemos, em 48 horas, padrões de atuações bastante atípicos. Tanto no dia da eleição, quanto nos dias subsequentes, quando iniciaram os bloqueios criminosos nas estradas. Isso será enfrentado com toda segurança. Tanto administrativamente, quanto o que for de competência da Polícia Federal e a própria corregedoria da PRF”, afirmou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. 

Caso Genivaldo, Direitos Humanos e chacina

Entre as polêmicas da gestão de Silvinei Vasques na PRF estão providências após a morte de Genivaldo de Jesus Santos, na cidade de Umbaúba (SE); a mudança na grade do curso de preparação de agentes concursados que deixou de conter disciplinas ligadas a direitos humanos; e a participação da PRF na segunda maior chacina policial da história do Rio de Janeiro. 

Genivaldo, de 38 anos, morreu depois que agentes da PRF fizeram uma “câmara de gás” em uma viatura e o trancaram dentro, na BR-101, no município de Umbaúba, no Litoral de Sergipe. A vítima tinha esquizofrenia. Após o assassinato, o diretor-executivo Jean Coelho e o diretor de inteligência Allan da Mota Rebello, da PRF foram dispensados dos cargos pelo governo federal, mas mantiveram suas promoções a novas funções em Washington, D.C., nos Estados Unidos. 

A morte de Genivaldo ocorreu no primeiro ano após a PRF mudar sua política de ensino interna. A PRF eliminou a disciplina sobre direitos humanos do curso que forma os novos agentes da corporação. A mudança na  grade de formação coincide com a morte de Genivaldo e com a morte dos policiais em Fortaleza

Embora os policiais envolvidos nas ocorrências citadas não sejam necessariamente formados nas últimas turmas da PRF, a mudança na formação pode representar uma alteração geral nos valores pregados na corporação. 

O outro ponto de tensão da gestão de Vasques envolve a participação de policiais rodoviários federais na operação na Vila Cruzeiro, na Penha, em maio deste ano. A ação foi em apoio à PM (Polícia Militar) e resultou em 23 mortos.

A Justiça Federal chegou a proibir a participação de equipes da PRF em operações policiais fora de rodovias, devido ao alto número de mortes nessas ocorrências. 

Agressão

Em 2001, um processo interno da PRF recomendou a demissão de Silvinei Vasques da corporação por agressão a um frentista de um posto de gasolina. A expulsão só não ocorreu porque o caso prescreveu. 

O episódio ocorreu no município de Cristalina, em Goiás. No dia 17 de outubro de 2000, o frentista Gabriel de Carvalho Rezende registrou boletim de ocorrência relatando ter sido agredido com socos e chutes por Vasques.

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