Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes estrelam juntos um espetáculo que discute o universo LGBTQIA+ e as relações humanas. “A Herança”, do americano Matthew Lopez, é uma peça longa, tanto que é divida em duas partes, somando um total de 6 horas. Mas isso não tem desanimado o público, que tem lotado o teatro, com sessões esgotadas. Em entrevista ao programa Antenados, comandado por Danilo Gobatto na Rádio Bandeirantes, os atores falaram sobre este sucesso e também sobre a importância da produção.
Para Gianecchini, inclusive, atuar nela é uma forma de militância. “Esses dias, na minha rede social, tinha um menino me cobrando uma militância pela causa LGBT. A minha militância é estar fazendo essa peça, não tem nada mais militante do que isso. É muito mais do que você ficar gritando por aí. Na minha opinião a militância mais precisa é essa, quando você faz uma coisa que chega no coração das pessoas. Minha militância é essa, entre os projetos todos que eu poderia fazer, essa peça”, ressaltou ele.
Em 2020, em entrevista à agência de notícias EFE, ator se declarou pansexual – uma pessoa que sente atração por outras intendente de gênero, de como se expressam ou orientação sexual. Ele frisou que ficou muito feliz poder falar sobre o assunto, mas que vê a cobrança por mais detalhes como fofoca.
“Quando eu senti a necessidade e falar da minha sexualidade mais fluída, é muito legal de falar, mas não tem mais o que falar. A próxima coisa seria especulação de fofoqueira, não adentro nessa parte. Durante muito tempo quis entender a liberdade de ser, cada um olhar para sua sexualidade e ter coragem para vive-la. Mas as pessoas querem sempre uma coisa a mais”, destacou o ator.
“A Herança” acompanha um grupo de homens gays que trocam experiências de vida e que se veem envoltos em um conflitos de gerações. Tudo começa quando Eric (Bruno Fagundes) está prestes a ser despejado de seu apartamento e começa a refletir sobre a própria vida. Isso o aproxima de Walter (Marco Antônio Pâmio) e Henry (Reynaldo Gianecchini). Em quarto elemento, Adam (André Torquato, aparece em suas vidas, e uma série de conceitos como amor, saudade e perda são resinificados.
O espetáculo ganhou uma série de prêmios no exterior e chegou a ser definido por um jornalista do Daily Telegraph como “talvez a peça americana mais importante deste século”.
“Eu fiquei passado com o texto. Acho que é o texto mais lindo que li de teatro e um dos mais importantes na nossa década. É impossível o público não se identificar. É localizado na comunidade LGBTQI+ mas em última análise é sobre todas as nossas questões”, relata Gianecchini.
Quem primeiro teve contato com o texto foi Bruno, que ficou encantado ao assistir ao espetáculo em Nova York e ficou obcecado em trazê-lo para o Brasil. Ao entrar em contato com Zé Henrique de Paula, que também estava atrás dos direitos, ele formou uma parceira e conseguir montar a peça, que é dirigida pelo próprio Paula.
“O feedback tem sido unânime: as pessoas não veem o tempo passar. Tem muita coisa acontecendo em cena, é uma história linear", afirmou o intérprete.
Outro tema que é muito latente no roteiro é o conflito entre gerações, por opor personagens mais jovens com outros que viveram os horrores da epidemia da AIDS.
“Essa geração nova não sabe direito o que é isso. Ninguém morre de AIDS hoje em dia se se tratar. Tem toda uma discussão dessa abertura de caminho que uma geração abre para a outra”, ressaltou Gianecchini.
“Essa peça tem uma visão otimista. Ela tem um final onde essa passada de bastão tem mais o sentido de aumentar a consciência”, complementou Fagundes.