Lula é eleito presidente do Brasil na votação mais apertada da história

Ex-presidente vai comandar o país para seu terceiro mandato após 12 anos; Bolsonaro se torna primeiro presidente que não se reelege

Por Paulo Guilherme Guri

Lula é eleito presidente do Brasil para os próximos quatro anos Arte/Band.com.br
Lula é eleito presidente do Brasil para os próximos quatro anos
Arte/Band.com.br

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil neste domingo (30) ao vencer o segundo turno das eleições com mais de 50% dos votos válidos. Lula volta a governar o Brasil a partir de 1º de janeiro de 2023 após 12 anos. Eleito em 2002, reeleito em 2006, o petista de 77 anos completados na quinta-feira (27) irá para o seu terceiro mandato como presidente. 

99,99% das seções totalizadas
Lula (PT) 50,90% x 49,10% Jair Bolsonaro (PL)
60.345.258 votos x  58.205.943 votos

O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu se reeleger. Esta é a primeira vez desde que o sistema eleitoral passou a permitir a reeleição do executivo, em 1998, que um presidente em seu primeiro mandato é derrotado em uma tentativa de reeleição.

Foi a eleição mais polarizada e acirrada da história. E também a votação mais apertada, com uma diferença de 1,8 ponto percentual (2,14 milhões de diferença de votos a favor de Lula). Até então, a votação mais apertada aconteceu em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB) por uma diferença de 3,28 pontos percentuais (3.459.963 votos).

O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), será o vice-presidente do Brasil. Alckmin tentou se eleger presidente por duas vezes, sem sucesso. Com a aliança com Lula, o ex-tucano volta à cena política com grande relevância.

A apuração mostrou uma disputa muito acirrada entre os dois candidatos. Bolsonaro começou na frente na apuração dos votos, mas a diferença foi caindo até que, às 18h44, Lula passou à frente com 50,01% dos votos. A partir de então, a distância dos votos válidos só foi aumentando a favor do petista.

Lula confirmou a preferência do eleitor registrada no primeiro turno, quando obteve 48,43% dos votos válidos (total de 57.259.504 votos) contra 43,20% (51.072.345 votos) de Bolsonaro. Ele vai governar um país com Congresso fortalecido no bolsonarismo. Bolsonaro obteve o apoio de muitos governadores, principalmente no Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, e ainda conseguiu eleger o ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como governador de São Paulo.

No segundo turno, Lula conseguiu um importante apoio da presidenciável Simone Tebet (MDB), da deputada federal eleita Marina Silva (Rede) que participaram ativamente da campanha do segundo turno. Teve ainda apoio do PDT, partido do candidato Ciro Gomes.

Com o resultado deste domingo, o PT volta ao poder seis anos depois de a presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo de Presidente da República após sofrer um impeachment.

Lula chega à presidência novamente após enfrentar um longo processo na Justiça com acusações de corrupção no âmbito da Operação Lava Jato e passar 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Lula foi preso em 5 de abril de 2018 e solto no dia 8 de novembro de 2019, um dia após o Supremo Tribunal Federal ter considerado a prisão em segunda instância inconstitucional.

Lula deverá discursar ainda na noite deste domingo para comentar a sua vitória. Está previsto um ato na Avenida Paulista, em São Paulo.

Votação

Lula votou na manhã deste domingo na Escola Estadual Doutor João Firmino Correia de Araújo, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. O ex-presidente saiu de casa, na região de Alto de Pinheiros, zona oeste da capital, por volta das 08h26, e chegou à seção eleitoral por volta das 09h21.

Lula estava acompanhado do candidato à vice em sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), da esposa, Janja Silva, do candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e da deputada federal eleita Marina Silva (Rede). 

Eu vou falar para vocês que hoje, possivelmente, seja o 30 de outubro mais importante da minha vida. Acho que é o dia muito importante para o povo brasileiro porque, hoje, o povo está definindo um modelo de Brasil que ele deseja", diz Lula em coletiva de imprensa na escola de São Bernardo do Campo. 

"Eu estou convencido de que o povo brasileiro vai votar no projeto em que a democracia seja vencedora, num projeto em que a participação popular na definição das políticas públicas seja vencedora e num projeto em que a gente possa resgatar as pessoas que estão com fome neste país”, afirmou Lula. 

Lula, em discurso, falou em resgatar as pessoas em situação de rua e inserir essa população na sociedade. “Tomar café, almoçar, jantar, trabalhar, ter um salário, ter acesso à cultura, ao lazer, ou seja, as pessoas viverem com cidadania”. Segundo ele, o país retrocedeu e o país precisa voltar a andar para frente. 

“É um dia muito gratificante e eu acho que para muita gente o 30 de outubro vai ser um dia muito especial para a história futura do nosso país”, finalizou.

Biografia

Lula nasceu em Garanhuns (PE) e se mudou ainda criança para o estado de São Paulo. Fez curso de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e trabalhou como metalúrgico em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Em 1980, Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Sua primeira eleição foi para governador de São Paulo em 1982. Não conseguiu se eleger. Em 1986, foi eleito deputado federal da Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição de 1988. Lula tentou ser presidentee perdeu três eleições consecutivas (1989,, 1994 e 1998), até chegar à presidência em 2002. Quatro anos mais tarde, foi reeleito presidente e ainda fez a sucessora sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff,.

Em 2017, Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2018, teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro. As condenações foram anuladas em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que a 13ª Vara Federal em Curitiba não tinha competência legal para julgar as acusações. O STF também considerou posteriormente que Moro agiu sem a devida imparcialidade no processo.

Band Jornalismo

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