Sem citar Lula, Campos Neto defende nos EUA 'independência' do Banco Central

Presidente do Bacen participou de evento em Miami, diante de pressão sobre a autoridade monetária

Da Redação

Roberto Campos Neto em palestra nos EUA
Reprodução / Vídeo

Em evento em Miami, nos Estados Unidos, o presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (7) autonomia da instituição para definir os juros básicos do País. Segundo ele, o mercado é uma “ferramenta para corrigir erros” na economia. 

“A principal razão da autonomia do BC é desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político, porque eles têm clientes e interesses distintos. Quanto mais independente você é, mais efetivo você é e menos o país vai pagar em termos de custo-benefício da política monetária", defendeu Campos Neto.

A autonomia formal do Banco Central foi aprovada em lei em 2021 e recentemente questionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O governo precisa de um voto de confiança do Comitê de Política Monetária (Copom) para baixar a Taxa Básica de Juros e como consequência estimular investimentos para o País e implantação de programas de crédito mais barato.

Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e deve ocupar o cargo no Banco Central por mais dois anos. 

O atual presidente do Bacen chegou a participar de jantares e eventos de núcleo bolsonarista e a apoiar decisões do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. 

Campos Neto também marcou presença em eventos de aliados de Bolsonaro, como a posse do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Na última quarta-feira (1º), o Bacen manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quarta vez consecutiva, na primeira reunião desde que Lula tomou posse.

Nesta terça-feira (7), Campos Neto palestrou no evento “2023 Milken South Florida Dialogues”, em Miami, nos Estados Unidos.

“Meu medo é que a taxação seja usada como um mecanismo [de ajuste financeiro] que pode ser resolvido pelos mercados”, disse. 

Em sua fala, o presidente do BC não falou diretamente sobre os recentes atritos com o governo do presidente Lula e preferiu focar seu discurso na agenda pró-digitalização de seu mandato, como o sistema de pagamentos Pix. 

Independência questionada

A bancada do PSOL informou nesta terça-feira (7) que vai pedir ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que compareça à Câmara Federal para explicar a política de juros da instituição. 

O requerimento de convite será protocolado nesta terça-feira (7) na Mesa-Diretora da Casa pelo líder da bancada da sigla, deputado Guilherme Boulos (SP). 

"O Banco Central não tem independência nenhuma nas mãos de Roberto Campos Neto, que é um infiltrado do bolsonarismo. O Brasil tem a maior taxa de juros real do mundo, por isso queremos que ele esclareça as motivações da atual política de juros. O Banco Central deve responder ao povo brasileiro", disse Boulos.

Mais amigável

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (7) que a ata do Comitê de Poítica Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (7) pelo Banco Central (Bacen), foi mais "analítica" e "amigável".

“Hoje teve a ata do Copom. A ata veio melhor do que o comunicado. Uma ata mais extensa, mais analítica, colocando pontos importantes sobre o trabalho do Ministério da Fazenda. É uma ata, vamos dizer, mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados”, disse Haddad. 

Segundo Haddad, o governo está buscando soluções para manter um bom nível de arrecadação sem onerar o contribuinte, e que para obter crescimento da economia e inflação baixa e sob controle, será necessário coordenar as políticas fiscal (que afeta as contas públicas) com a monetária (que define os juros).

Na segunda-feira, Haddad disse que um comunicado do Copom poderia ter sido "um pouco mais generoso" com o governo, diante das medidas anunciadas em janeiro para melhorar as contas públicas.

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