O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se considerou traído pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por conta da manutenção da taxa básica de juros (Selic) no patamar de 13,75% ainda na semana passada.
Em comunicado, o órgão afirmou que as taxas de juros permanecerão altas até o final do ano por conta da situação econômica do país. Lula acusa o presidente do BC de atuar de maneira política, já que foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião", afirmou o comunicado.
Apesar da autonomia da instituição, Campos chegou a participar de jantares e eventos do núcleo bolsonarista e apoiar decisões do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Ele marcou presença também em eventos de aliados do ex-presidente, como a posse do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Informações da colunista Mônica Bergamo indicam que Lula disse a interlocutores que se sente traído por Campos Neto porque o governo federal depositava esperanças no diálogo com o órgão para superar as dificuldades econômicas e evitar uma recessão.
O presidente e a equipe econômica entendem que a gestão atual não tem responsabilidades por erros de outros governos. Lula queria um voto de confiança do Comitê de Política Monetária (Copom) para baixar a Selic e buscar novos investimentos para o país.
Com a manutenção por parte do Banco Central, o órgão estaria dificultando a recuperação do crédito e a atividade econômica, colocando o Brasil no caminho da recessão, de acordo com a Presidência da República.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já elogiou a atuação de Campos, também criticou a decisão da instituição. No entanto, o governo avalia que uma queda de braço com o órgão pode abalar a confiança dos investidores no país.