"Vinhos e Vinhas" mostra vinhedos de 120 anos e a rolha feita por árvore protegida há 8 séculos

Série especial do Jornal da Band mostra a delicada e cuidadosa confecção manual da cortiça

Giba Smaniotto, do Jornal da Band

No quarto episódio do especial Vinhas e Vinhos, do Jornal da Band, vamos conhecer uma vinícola que tem mais de um século em Portugal, e ver como são feitas as rolhas de cortiça.

A reportagem vai em direção a região de Portalegre, mais ao norte do Alentejo, até a Tapada do Chaves, vinícola que existe há mais de um século e foi comprada pela Fundação Eugênio de Almeida. De cima, é um mosaico de cores.

Abaixo, o tempo mostra que os vinhedos são muito resistentes. Eles têm 120 anos. É bem menor e diferente do parreiral que conhecemos atualmente, quase metade do tamanho de uma pessoa.

O vinhedo centenário fica a quase 600 metros de altitude, em cima de um maciço de granito - o melhor lugar para a maturação lenta das uvas. Os primeiros parreirais de uva escura foram plantados em 1901. Por isso, a Tapada do Chaves é considerada uma lenda Alentejana.

Outro local, na década de 1950, era usado para fermentar o vinho e funcionava da seguinte forma: a uva era colocada em tanques construídos no chão. Com o passar do tempo, ela ia fermentando e o suco subia, ficava armazenado, e o suco descia novamente, e era um processo. Sobe e desce, sobe e desce.

“Portanto, era um processo até, do ponto de vista atual, bastante ecológico, e sustentável na medida em que era a própria fermentação que gerava a força necessária para que o suco subisse e voltasse a descer passando pelas massas e extraindo os componentes que tem que extrair da pele da uva”, explicou Pedro Baptista, enólogo da Fundação Eugênio de Almeida.

Para retirar o vinho, duas etapas: “Vinha primeiro através desta torneira e tirava o vinho, já fermentado. Depois abre essa portinha, aqui alguém vai lá dentro”, apontando para os recipientes.

Com o passar do tempo, até a história fica mais interessante.

“Essa garrafa que estamos vendo é de 1961, da vinícola Tapada do Chaves, está engarrafada desde essa época. É uma relíquia. É a história dessa casa, desta vinícola”, orgulha-se o enólogo.

As exportações das vinícolas da Fundação Eugênio de Almeida já representam 40% da produção. E a tendência é aumentar.

Nessa região de planície e clima quente, típico do Alentejo, um projeto inovador já tem sido testado, há cinco anos, para a criação de novas uvas e o desenvolvimento de novos vinhos. Grandes escavações desnivelaram o terreno. Os “tobogãs” são cuidados diariamente pelos mesmos trabalhadores que colhem a uva. O resultado é que os parreirais conseguem receber com mais intensidade o vento e a luz do sol.

“Nossa expectativa é que vá dar um resultado excelente, que todo frescor, toda acidez, todo equilíbrio que se quer de um vinho alentejano, que os vinhos alentejanos são conhecidos por serem vinhos de alguma maneira com muita fruta, por vezes é difícil encontrar o equilíbrio entre o frescor e a acidez. Que com este vinho e com estas características nós vamos conseguir precisamente isso”, afirmou João Teixeira, diretor da Fundação Eugênio de Almeida.

O artesanato na feitura da rolha de cortiça

Não dá para deixar de fora dessa série um outro produto fundamental para o vinho que também sai do Alentejo. É da árvore do sobreiro que se tira a rolha. Em um deles, explorado há um bom tempo, deve demorar de 8 a 10 anos para se recuperar.

São árvores centenárias, que significam tanto para a economia portuguesa, que são protegidas, por lei, desde o início do século 13. 

O processo da retirada da cortiça, que é a casca do tronco, é tão delicado que é realizado por trabalhadores muito treinados. A cortiça passa por uma seiva que se descola. Tudo é feito com o velho machado. Já até tentaram fazer o processo com máquinas modernas, mas não deu certo.

“A rolha de cortiça ainda é a melhor, é a que garante que aquele vinho vai envelhecer com classe, com elegância, e vai conservar melhor esse líquido. O problema é que é a rolha mais cara, porque o sobreiro demora muito para crescer, para produzir, né, os portugueses falam: você planta um sobreiro para o seu neto. O seu neto é que vai usufruir daquele sobreiro, então é um processo que é caro”, justifica Ricardo Castilho, diretor da revista “Prazeres da Mesa”.

Só em 2020, foram 100 mil toneladas de cortiça retiradas da região, o que rendeu 40 milhões de rolhas, que é quase a metade da produção mundial. Merece um brinde.

E se for acompanhado por um prato típico português, como o bacalhau Gomes de Sá, que vai cebola, salsa, batata, alho, pimentão, ovos e azeitona, melhor ainda.

O que que fica mais gostoso? A comida portuguesa com o vinho ou o vinho português com a comida?

“Ambos se completam, né? O vinho com um bom bacalhau é maravilhoso, viu?”, recomendou  Valdeci Castro, gerente do restaurante Rancho Português.

No próximo episódio da série do Jornal da Band, aguçamos nossos sentidos pra entender melhor como decifrar um bom vinho.

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