'Me resta esperar': tratamento de câncer no SUS é marcado por filas e descaso

Cesar Cavalcante mostra as diferenças das terapias no sistema privado e público de saúde no segundo episódio da série especial do Jornal da Band

Por Cesar Cavalcante

Em um dia de mais uma sessão de quimioterapia, acordo apreensivo, mas animado. Meu corpo assimilou o que era desconhecido, o tratamento e a doença. Nesse segundo episódio da série ‘Câncer - virei paciente’, vamos saber um pouco mais do tratamento contra a doença e como ele é diferente no SUS e no sistema privado.

Inclusive, sabe como a quimioterapia ataca o câncer? Ela é tóxica para células que se multiplicam mais depressa, como é o caso das malignas e também de muitas células normais. A diferença é que as células normais se recuperam.

Nunca gostei da expressão "batalha contra o câncer". Parece que termina com um vencedor e um perdedor. E um paciente oncológico nunca será um derrotado, tanto, que o processo deve ser visto como parte do tratamento. E é meu oncologista, Marcelo Calil, que tranquiliza no começo do tratamento. 

“Cesar tem uma doença chamada adenocarcinoma de estômago, que é o tipo mais comum de tumor maligno de estômago que existe. É o tumor que tem a capacidade de crescer no local onde ele está presente e de distribuir metástase para o resto do corpo. Isso é menos comum quando se diagnostica numa fase inicial, como é o dele”, explica Calil. 

Tratamento deve começar de imediato, mas esta não é a realidade de 80% dos brasileiros

No meu caso, comecei fazer a quimioterapia poucos dias depois do diagnóstico de câncer. Só que infelizmente essa não é a realidade para a maioria dos brasileiros. 80% dos pacientes de câncer no Brasil dependem do Sistema Único de Saúde, o SUS, para tratar a doença. E as filas e demora no tratamento atrapalham a vida dos milhões que vão atrás da cura do câncer. 

É o caso de Kelly Cristina, que tem 41 anos e, à época da gravação deste episódio, não havia começado o tratamento. “Descobri em julho do ano passado. Foi minha primeira consulta com oncologista. Mais de cinco meses depois. Aqui, foi a segunda consulta foi quando eu descobri o tipo de câncer”, relembra Kelly. 

Sem poder pagar plano de saúde, a Kelly foi encaminhada ao Hospital da Mulher. Ela fez a biópsia, que constatou o câncer em outubro de 2022. Há, no Brasil, uma lei que determina o início do tratamento 60 dias após o diagnóstico. Mas só pouco mais da metade consegue.

“É difícil, né? A gente tem que esperar, né? Tem momentos de que dá raiva, porque em alguns lugares a gente vê descaso, outros não, tem atendentes que vem falar com a gente: ‘sinto muito, mas a gente não tem culpa, né?’ A única coisa que me resta é esperar e entregar na mão de Deus e vê o que que vai ser né daqui para frente”, lamenta Kelly. 

Para os filhos de Kelly, a falta de tratamento abala a família. “A gente não esperava, fica abalado. Ela foi em três médicos, um fala uma coisa diferente do outro, mas não tem solução”, afirma. Além da fila longa, o SUS só dispõe de 5% dos remédios contra o câncer aprovados nos últimos dez anos. Não estamos falando nem de medicamentos revolucionários. E Em 2020, as biópsias caíram 40%. 

“É tem dia que eu acordo chorando, né? Eu acho que eu não vou aguentar a fazer aqui a quimioterapia. Às vezes eu acho que não vou aguentar passar por essa luta. Estou com as emoções assim confusa, meio atrapalhada”, afirma Kelly. 

Uma semana depois da gravação a Kelly conseguiu uma nova consulta e, enfim, começou a quimioterapia. Amanhã você vai ver que muitos pacientes, como eu, vivem rotinas normais mesmo em tratamento.

Confira o primeiro episódio de ‘Câncer - virei paciente’

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