Em viagem a Chapecó, nesta quarta-feira (7), Jair Bolsonaro voltou a falar de tratamento precoce contra a Covid-19. Acompanhado pelo ministro da Saúde Marcelo Queiroga, o presidente defendeu, mais uma vez, o o uso de medicamentos contra o coronavírus, contrariando recomendação da ciência, que não tem dados que comprovem sua eficácia contra a doença.
“Hoje, têm aparecido medicamentos que ainda não estão comprovados, que estão sendo testados, e o médico tem essa liberdade. Tem que ter. É um crime querer tolher a liberdade de um profissional de saúde”, disse em discurso na cidade do oeste catarinense.
João Rodrigues, prefeito de Chapecó, é um entusiasta do uso do kit de remédios. Mas a cidade de 224 mil habitantes, elogiada pelo presidente no combate à doença, tem taxa de mortalidade de 240,6 por 100 mil habitantes, bem acima da média nacional, que é de 160,3. Em Santa Catarina, o índice é de 161,2.
Na cidade catarinense, 537 pessoas morreram de covid - 410 somente este ano. A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 98%.
O sistema de saúde de Chapecó entrou em colapso em fevereiro, e pacientes precisaram ser transferidos para o Espírito Santo. Por isso, o prefeito decretou lockdown de 14 dias.
Conforme apurou o repórter Caiã Messina, no Jornal da Band, técnicos do Ministério da Saúde estranharam a postura de Marcelo Queiroga. Ele assumiu o cargo com a promessa de seguir a ciência, mas hoje fez uma defesa pública do tratamento precoce.
“Aqui em Chapecó, no estado de Santa Catarina, que tem um sistema de saúde muito organizado, nós podemos ter o exemplo de que é possível conciliar a autonomia do médico com a recuperação dos nossos pacientes”, discursou.
Médicos afirmam que, sem eficácia comprovada, insistir no “kit covid” é um desserviço.
“Além de poderem apresentar efeitos colaterais graves, a gente já tem relatos de possível hepatite medicamentosa por ivermectina, ainda passa que as pessoas têm a sensação de que estão protegidas, porque estão tomando as medicações de forma profilática, preventiva.”, explicou o infectologista Luiz Gustavo Santos.
Segundo dados do Painel de Notificações de Farmacovigilância da Anvisa, ao menos nove mortes estão relacionadas ao uso desses medicamentos.
E a quantidade de registros de efeitos adversos pelo uso desses remédios aumentou muito. Só as reclamações de cloroquina tiveram alta de 550%. Antes da pandemia, em 2019, foram 139 registros de efeito adverso relatados no Brasil. Em 2020, o número subiu para 916. Já os de hidroxicloroquina foram de zero a 168; de azitromicina, de 25 a 82; e ivermectina de 0 a 11 registros.