A cidade de Chapecó (SC), elogiada nesta segunda-feira (05) pelo presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia, teve nos 3 meses de 2021 quatro vezes mais mortes por Covid-19 do que em todo o ano passado. Dados da prefeitura mostram que, até o dia 1º de janeiro, a cidade tinha registrado 123 óbitos pela doença. Agora, já são 536 mortos no total.
Para diminuir os números negativos, a cidade adotou em 22 de fevereiro, por 14 dias, toque de recolher das 22h às 5h e fechamento completo de serviços não essenciais, como restaurantes, lojas e shopping. Parques e praças também foram fechados.
Atualmente Chapecó segue as medidas restritivas estaduais. A região da qual o município faz parte se encontra no "risco potencial gravíssimo", a fase mais restritiva de Santa Catarina.
Bolsonaro também compartilhou um vídeo do prefeito João Rodrigues (PSD) mostrando leitos hospitalares vazios. "Aqui em Chapecó nós adotamos todos os protocolos. O protocolo do tratamento precoce também foi adotado", diz Rodrigues na gravação.
As imagens exibidas são do Centro Avançado de Atendimento Covid, uma espécie de hospital de campanha instalado no Centro de Eventos e inaugurado em 24 de fevereiro, depois que o Hospital Regional do Oeste, um dos maiores da cidade, esgotou sua capacidade. Os pacientes já estavam sendo internados em ambulatórios.
Apesar da desmobilização do Centro Avançado pela falta de pacientes, a cidade ainda tem 100% de suas UTIs ocupadas e 89% dos leitos de enfermaria de hospitais públicos tomados, de acordo com dados da prefeitura.
No dia 1º de março, o prefeito João Rodrigues deu uma entrevista a José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes, em que classificava a situação de Chapecó como "tragédia" e "catástrofe". Ele disse que a cidade era a segunda a apresentar a variante P1, que surgiu em Manaus, e atribuiu a ela o crescimento das mortes e infecções.
Tratamento precoce e restrições
Para a prefeitura, a queda no número de mortes se deve a um conjunto de medidas. Entre elas, estão a contratação de 150 profissionais de saúde, 40 mil testes, ambulatório de tratamento precoce, abertura de 75 leitos de enfermaria e 20 de UTIs no Centro de Eventos.
No ambulatório exclusivo para tratamento precoce há o uso de remédios como a cloroquina e a ivermectina, que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19 e já causaram efeitos adversos e morte de algumas pessoas com Covid-19 medicadas com eles. O paciente chega, faz a triagem, faz o teste, consulta e, se tiver confirmação, recebe a medicação, conforme prescrição médica. A unidade de saúde recebeu seu primeiro paciente em 18 de março.
O epidemiologista e professor de medicina da USP, Paulo Lotufo, ressalta que não existe tratamento precoce. "Após o diagnóstico opta-se ou não por tratamento, desde que haja comprovação de eficácia. Quanto à temporalidade, há tratamento tempestivos, após o diagnóstico, ou tardios. O termo tratamento precoce é estúpido, mas se popularizou por má fé ou ignorância", afirma ele.