Jornal da Band

'É como levar um soco': repórter da Band conta como foi diagnóstico de câncer

Cesar Cavalcante descobriu um tumor no estômago aos 29 anos; jornalista conta próprio tratamento e traz histórias de outros pacientes em série especial

Por Cesar Cavalcante

Sem vícios, boa alimentação, não dispensa atividade física. Com 29 anos, os exames, sempre perfeitos menos o último. O paciente descobriu um câncer de estômago em um exame de rotina, e esse paciente sou eu. Por anos, falei com pessoas enfrentando os mais desafiadores problemas. E agora eu estou do lado de cá e, como jornalista, a gente sabe quando uma história merece ser revelada e por isso eu decidi contar a minha na série ‘Câncer - virei paciente’, no Jornal da Band

Receber esse diagnóstico é como levar um soco tão forte e perder o rumo. Nada faz muito sentido. O medo do finito, da morte, bate à porta. Mas como um lutador que é golpeado e ainda tem os sentidos, percebi que devia me reerguer e continuar. 

“A hora que eu vi que o Cesar ligou extremamente ansioso, chorando, preocupado com seu diagnóstico, ali eu tentei fazer o que eu faço com todos os meus pacientes: dar atenção, conversar acalmar”, relembra o cirurgião oncológico Jorge Nahas. 

O diagnóstico foi o pior dia da minha vida. Imaginar o tanto de coisa que poderia perder. A maior certeza da vida não me dava medo, me dava um terror que eu nunca experimentei. Mas também veio uma notícia animadora: diagnóstico precoce.

“No caso do Cesar, eu costumo dizer que foi um anjinho que pousou no ombro dele, porque ele teve uma simples queimação no estômago, que é comum no dia a dia, mas que por sorte resolveu pedir uma endoscopia”, diz o cirurgião. 

Também percebi que não estava sozinho nessa. A cada ano, no Brasil, cerca de 700 mil pessoas experimentam o baque que eu tive. E os números só crescem. Quis, então, ouvir algumas dessas pessoas, saber o que as inspiram a superar. 

‘Vi que ia continuar vivendo, todos os dias estou ganhando’

Mamma Bruschetta, apresentadora do Melhor da Tarde, descobriu um câncer de esôfago aos 70 anos. Aos seus milhares de seguidores, mostrou força ao raspar os cabelos, marca de uma personalidade vaidosa. Mas também teve medo.

“Me deu um sentimento de perda, pensava: ‘Meu Deus do céu, eu que já vivi tanto, mas tenho muita coisa ainda pra fazer, tanta coisa para ver na vida, que vou ficar com dó de morrer. Mas com o tempo, vi que ia continuar vivendo, então todos os dias estou ganhando”, afirma. 

‘A vida é o mais precioso que tenho e vou abrir mão dela?'

Argemino Carraro acabou de terminar o tratamento contra um câncer no reto, aos 69 anos. O morador de Santo André, no ABC Paulista, relembra como foi o diagnóstico de câncer. “Quando eu li o exame aqui em casa, vi que era maligno, percebi que a coisa não era muito boa. Aí levamos na médica, até ela deu uma voltinha para falar a palavra câncer. A gente não costuma ouvir história boa dessa doença”, relembra. 

Assim como eu, o Seu Argemiro não imaginava que a saúde não estava bem, ainda mais depois de se transformar em maratonista e mudar radicalmente a alimentação, justamente para viver mais saudável, mas foi a mudança de hábito que ajudou no tratamento. 

“Perdi um irmão com o mesmo câncer que o meu, ele descobriu o dele logo depois de mim e se foi. Aí vi que preciso lutar. Porque Deus me deu um dom...a vida. Que é o mais precioso que eu tenho e eu vou abrir mão dele?”, questiona Argemino. 

Argemino enfrentou sessões de quimioterapia, radioterapia e uma cirurgia, tudo isso encarado com muito bom humor. “Coitada das enfermeiras que faziam quimioterapia na clínica, porque tinha dia que elas queriam me expulsar de lá. Eu não podia chorar, estava passando mal. Então você tinha que se divertir. Fazia piada do tratamento, de tudo”, relembra. 

Força para enfrentar o câncer não vem só do paciente

Descobri que a força para encarar um câncer não deve vir só do paciente. Além da equipe médica, a chamada rede de apoio é fundamental: amigos, familiares, colegas de trabalho fazem a diferença. No meu caso, recebi uma cartilha do que fazer: o tratamento a seguir, como se alimentar e cuidar da cabeça pra não afundar. 

Por isso, fui atrás de ajuda profissional. Encontrei a Andrea. Ela está há 20 anos na profissão e agora me ajuda. “É um diagnóstico muito difícil, né? E aí a cabeça fica um turbilhão, passa muita coisa e a importância de cuidar da mente é exatamente essa: para aprender a lidar com a situação”, explica a psicóloga Andrea Souza. 

“É preciso entender como funciona o processo. Por isso, primeiro é importante ficar calmo para entender como vai ser o processo para entender que vai passar. E o que eu sempre falo é que é importante que o paciente tenha um objetivo, fora da doença”, diz a psicóloga. 

Hoje, mais pessoas são curadas do que morrem de câncer. Mas há desigualdades. Amanhã na série ‘Câncer - virei paciente’, no Jornal da Band, eu mostro meu tratamento e o de uma paciente que depende do SUS.

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