Governo dispensa diretores da PRF em meio a crise na corporação

Morte de Genivaldo de Jesus Santos, ação violenta no Rio de Janeiro e mudança de valores pressionam a polícia

Por Narley Resende

O diretor-executivo Jean Coelho e o diretor de inteligência Allan da Mota Rebello, da PRF (Polícia Rodoviária Federal), foram dispensados dos cargos pelo governo federal. 

As dispensas ocorrem após cobranças por respostas envolvendo a morte de Genivaldo de Jesus Santos, que foi asfixiado em abordagem de agentes da corporação em Umbaúba, em Sergipe, e a participação da PRF na operação Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, onde 23 pessoas foram mortas.

Os diretores eram subordinados ao diretor-geral Silvinei Vasques, que permanece no cargo. 

As exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União e são assinadas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Não há justificativa apresentada no documento.

Caso Genivaldo

Genivaldo era esquizofrênico, foi parado por andar de moto sem capacete e morto após ser preso em uma câmara de gás improvisada.

O presidente Jair Bolsonaro lamentou o ocorrido nesta segunda-feira (30) e disse que a justiça vai ser feita "sem exageros". "Não podemos generalizar tudo o que acontece" no Brasil, disse. 

O presidente comparou a morte de Genivaldo com um caso ocorrido há duas semanas em Fortaleza, quando policiais rodoviários federais abordaram um homem em situação de rua e morreram após um dos agentes ter sua arma de fogo roubada. O homem abordado foi morto por um terceiro policial que passava na região.

“Ao abater esse marginal, vocês [da imprensa] foram para uma linha completamente diferente“, disse Bolsonaro, ao comentar o episódio.

Questionado especificamente sobre a ação da PRF em Sergipe, Bolsonaro disse lamentar o caso como o de Fortaleza, mas que não era questão de “generalizar“.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, se limitou a dizer que a PF (Polícia Federal) e a PRF abriram inquéritos, e que a apuração será a mais breve possível. “E, enquanto não houver a finalização desses procedimentos, não há o que se falar“, concluiu.

A PRF afastou os policiais Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia. Ao todo, cinco agentes assinam o boletim de ocorrência relacionado à morte de Genivaldo

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Cinco policiais assinam boletim de ocorrência da morte de Genivaldo
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Cinco policiais assinam boletim de ocorrência da morte de GenivaldoCinco policiais assinam boletim de ocorrência da morte de Genivaldo
Policiais foram afastados Reprodução
Cinco policiais assinam boletim de ocorrência da morte de GenivaldoReprodução
PRF dispensa diretoresReprodução
Arte com pedido de Justiça por Genivaldo Crisvector

Mortos no Rio de Janeiro

O outro ponto de tensão envolve a participação de policiais rodoviários federais na operação na Vila Cruzeiro, na Penha, na terça-feira (24). A ação foi em apoio à PM (Polícia Militar) e resultou em 23 mortos.

O procurador da República Eduardo Benones, coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial, no âmbito federal, pretende ouvir parte dos agentes da PRF envolvidos na ação.

Direitos Humanos 

A PRF eliminou neste ano a disciplina sobre direitos humanos do curso que forma os novos agentes da corporação. A mudança na  grade de formação coincide com a morte de Genivaldo e com a morte dos policiais em Fortaleza

Embora os policiais envolvidos nas ocorrências citadas não sejam necessariamente formados nas últimas turmas da PRF, a mudança na formação pode representar uma alteração geral nos valores pregados na corporação. 

A disciplina de Direitos Humanos e Integridade foi completamente eliminada do currículo deste ano. O texto que descrevia a formação dizia formar a “PRF como promotora de Direitos Humanos; Grupos vulneráveis; Violência contra a mulher; Crime análogo à escravidão, tráfico de pessoas; Abordagem policial a grupos vulneráveis.”

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