‘Democracia sempre vencerá’, diz Arce após tentativa de golpe na Bolívia

País sul-americano sofreu uma tentativa frustrada de golpe de Estado nesta quarta-feira (26). O general Juan José Zuniga foi preso

Da Redação

‘Democracia sempre vencerá’, diz Arce após tentativa de golpe na Bolívia
Presidente Luis Arce, no palácio do governo em La Paz
REUTERS/Josue Cortez

O presidente da Bolívia, Luis Arce, declarou nesta quarta-feira (27) que a democracia no país sempre vencerá após tentativa frustrada de golpe de Estado. O chefe de Estado também agradeceu o apoio do povo boliviano. 

“Saudamos e expressamos nossa mais sincera gratidão às nossas organizações sociais e a todo o povo boliviano, que saiu às ruas e se manifestou por meio de diversos meios de comunicação, expressando seu repúdio à tentativa de golpe, que só prejudica a imagem da Bolívia, democracia a nível internacional e geram incertezas desnecessárias em momentos em que os bolivianos precisam trabalhar para fazer o país avançar”, escreveu o político na plataforma X, antigo Twitter. 

“A democracia sempre vencerá! Muito obrigado povo boliviano!”

Arce também afirmou que sempre defenderá a democracia e a vontade do povo boliviano “custe o que custar”. 

O presidente da Bolívia agradeceu as manifestações de chefes de Estado e organizações internacionais que condenaram e se manifestaram a favor da democracia do país sul-americano contra o governo “legitimamente eleito pela maioria dos bolivianos”. 

Entenda a tentativa de golpe na Bolívia

Linha do tempo 

Militares saíram em marcha pelas ruas da capital La Paz e rapidamente cercaram a praça Murillo, onde fica a sede do governo boliviano, com tanques. Eles ainda forçaram a porta do palácio presidencial com um carro blindado e invadiram o local.  

Enquanto isso, o presidente Luis Arce e seus ministros denunciavam pelas redes sociais uma tentativa de golpe. “Denunciamos mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada”, publicou Arce no X, antigo Twitter.

Um vídeo mostra o momento que o comandante da ação, o ex-chefe do Exército, Juan José Zuñiga, e o presidente ficam frente a frente dentro do palácio, em meio à confusão, enquanto ministros gritam ao fundo “não se equivoque, general”.  

Minutos depois, Zuñiga conversou com a imprensa e disse que Luis Arce continuava no poder, “pelo menos por enquanto”.

Vai haver um novo gabinete. Seguramente vamos mudar os ministros. A Bolívia não pode mais seguir assim, fazendo o que eles têm vontade. Estamos mostrando nossa insatisfação - disse o ex-chefe do Exército

Ameaças a Evo Morales  

Zuñiga havia sido demitido um dia antes do cargo de comandante do Exército depois de fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales, que reagiu e afirmou que o governo tentava um “auto-golpe”.

“Hoje, Evo Morales e Luis Arce politicamente estão rompidos, mas é importante dizer que Evo logo reforçou a importância de a população defender a democracia e o governo legitimo de Arce”, explicou Regiane Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).  

Reações e prisão

A Organização dos Estados Americanos (OEA) reagiu e condenou os acontecimentos na Bolívia, ressaltando que o Exército deve se “submeter ao poder civil legitimamente eleito” e que a comunidade internacional “não vai tolerar qualquer quebra constitucional no país sul-americano ou em qualquer outro”.  

Em pronunciamento, Arce convocou a população para se mobilizar contra a tentativa de golpe e afirmou que os militares que participaram da ação “mancharam o uniforme”.

Vamos fazer respeitar a democracia garantida pelo voto depositado pelo povo boliviano nas urnas - presidente Luis Arce

No fim da tarde, as tropas começaram a deixar a praça Murillo. Juan José Zuñiga foi preso no início da noite.

Reservas de lítio na Bolívia

A Bolívia possui atualmente a segunda maior reserva na América Latina de lítio, elemento usado na produção de baterias para carros elétricos, motivo pelo qual o país tem sido procurado por outras nações, incluindo da Europa, para desenvolver acordos comerciais.  

“É nesse contexto que temos que entender o golpe. O lado de Evo Morales tem uma posição mais nacionalista; e o lado dos militares que falam pelos interesses econômicos de Santa Cruz de la Sierra [região mais rica da Bolívia] tem uma posição mais internacionalizada, de menos impostos para atrair mais investimentos”, explicou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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