Copa do Mundo

Ex-seleção critica convocação de Daniel Alves e diz que Rodinei merecia chance

Para Zé Carlos, que disputou a Copa de 1998, ciclo do experiente lateral já se encerrou

Por Emanuel ColombariRodrigo Lima

Para Zé Carlos, que disputou a Copa de 1998, ciclo do experiente lateral já se encerrou
Wilson Carvalho/CBF

Prestes a completar 31 anos, Rodinei, do Flamengo, merece ser testado na lateral direita da Seleção Brasileira, e tem condições de assumir a titularidade na posição durante o ciclo até a Copa do Mundo de 2026.

É a avaliação de Zé Carlos, lateral que defendeu o Brasil na Copa de 1998 e disputou as semifinais daquela edição contra a Holanda. Em entrevista ao Band.com.br, o ex-jogador afirmou que o jogador do Flamengo “poderia ter tido uma oportunidade” já na Copa do Mundo de 2022.

“Gosto do Rodinei. É um jogador bem para frente, que nem a gente jogava. Lateral tem que ter força, velocidade, chegar no fundo. O apoio tem que ser importante. Vejo ele como uma boa esperança futura”, disse Zé Carlos.

O ex-jogador de São Paulo, Grêmio, Ponte Preta, Juventude, Portuguesa e Matonense, entre outros clubes, demonstrou contrariedade à presença de Daniel Alves na Seleção Brasileira para a Copa de 2022. Mesmo reconhecendo a importância do lateral nos últimos anos, Zé Carlos acredita que a presença do jogador de 39 anos pouco acrescenta ao Brasil no Catar.

“É duro você falar ‘não levaria’, porque parece que você está deixando de lado todo o trabalho, todo o currículo do Daniel. Mas tem uma época em que as coisas vão tomando outro rumo. Gosto de explicar antes para não dizerem: ‘Quem é você para falar do Daniel?’. A idade chega, o momento chega, tem que dar oportunidade para outros. No meu ponto de vista, na minha maneira de interpretar o futebol hoje, não tinha motivo de o Daniel estar lá hoje. Tem laterais aí, como o (Rodinei) do Flamengo, que poderiam ter tido uma chance, uma oportunidade”, analisou.

“Copa do Mundo é tiro curto. No meu ver, pode ver esse jogo contra a Suíça, era a oportunidade de lateral, e ele (Tite) acabou improvisando. Qual é o objetivo? Ele pensou mais no elenco ou na amizade? Existem essas coisas no meio do futebol, que eu não curto muito, mas que a gente aprende a conviver”, completou.

Na partida contra a Suíça, pela segunda rodada do Grupo G, o Brasil não contou com Danilo, titular da lateral direita, lesionado. No entanto, o técnico Tite optou por escalar o zagueiro Éder Militão na posição, no lugar de Daniel Alves. Para Zé Carlos, a prioridade deveria ser escalar quem é da posição.

“Quando tive a oportunidade, que o Cafu levou amarelo (nas quartas de final da Copa de 1998, contra a Dinamarca), o Zagallo me colocou para jogar, eu era o lateral. Imagina se ele tivesse me levado e improvisasse? Qual é o objetivo de eu estar em uma Copa do Mundo? É a pergunta que eu devolvo. Qual é o objetivo de o Daniel estar na Copa do Mundo sendo que surgiu a vaga na posição dele e foi improvisado?”, questionou.

“Eu não teria levado o Daniel. Já que ele está, tem que colocar. Qual é o objetivo? Eu gostaria que ele (Tite) me respondesse isso. Qual é o objetivo? Ele está com um jogador mais versátil e – com todo o respeito ao Daniel – mais novo. É uma carta queimada, vejo dessa forma. Por que não dá oportunidade a outro jogador?”

Do desemprego ao carrinho contra a Holanda

Depois de defender o Juventude no Campeonato Brasileiro de 1996, Zé Carlos começou o ano de 1997 sem contrato. Veio a chance de defender a Matonense na Série A-2 do Campeonato Paulista. Com o título na competição e o acesso à elite estadual, as portas se abriram rapidamente para o lateral.

“Acabou 1996, começou 1997, e eu estava desempregado. Até a convocação da Copa do Mundo fez um ano e três meses apenas. Quer dizer: de desempregado a um ano e três meses depois, eu estava na Copa do Mundo. É bem interessante isso. Na época, o presidente da Matonense, o (Antônio) Galli, acabou me levando para a Matonense. Fomos campeões da Série A-2, e de repente o Darío (Pereyra) pediu minha contratação e eu vim para o São Paulo”, lembrou.

“No começo, eu não joguei. Fiquei quase um mês só treinando, me aperfeiçoando, até que tive a oportunidade contra o Atlético-MG e não sai mais. Nesse mesmo ano de 1997, mesmo tendo jogado menos o Brasileiro, menos jogos que todos os laterais, eu acabei ganhando pela votação a Bola de Prata de melhor lateral direito do campeonato, uma conquista bem interessante que ocasionou a renovação por mais três anos com o São Paulo. No decorrer do próximo ano, em 1998, fomos campeões paulistas, veio a (primeira) convocação e eu não estava. O Flavio Conceição não pode vir, aí na segunda convocação eu tive a opção do Zagallo”, descreveu.

Com a convocação, Zé Carlos acabou tendo a chance de ser titular na semifinal, contra a Holanda – Cafu levou cartão amarelo contra a Dinamarca nas quartas e precisou cumprir suspensão. E o novo titular acabou dando conta do recado, mesmo sentindo o desgaste de entrar em campo depois de mais de 50 dias sem atuar.

“Eu acabei o Campeonato Paulista voando, jogando todos os jogos. Joguei (a decisão) dia 10, Dia das Mães. No dia 12, fomos a São Januário jogar contra o Vasco na Copa do Brasil, perdemos de 4 a 3. Fui jogar um jogo só em julho, acho que dá 52 dias desse jogo contra o Vasco até a semifinal contra a Holanda (na verdade, 56). É um espaço muito grande para um atleta profissional. Na seleção, às vezes não se treina a mais. Quem está de fora treina igual os demais. Quem joga, condiciona - é o que realmente condiciona. O treino dá apenas uma controlada para se manter. Infelizmente, não se pode treinar mais – se machuca, você vem embora. Minha preocupação era essa, de não estar no meu ápice físico, 100%”, contou Zé Carlos, que permaneceu em campo durante os 90 minutos do tempo normal e os 30 minutos da prorrogação.

“Senti (a condição física), deu câimbra ainda. Teve um lance já na prorrogação, o (meia) Zenden foi cruzar, dei o carrinho, acabou travando a bola com ele na linha de fundo. Deu câimbra em mim e deu câimbra no Zenden. E o Zenden vinha jogando.”

Muito otimismo

Zé Carlos admitiu o incômodo com a lateral direita na Copa de 2022, mas não quer dizer que não esteja otimista com a seleção brasileira no torneio. Pelo contrário: o ex-jogador vê uma geração talentosa, cheia de talentos individuais que podem decidir partidas a qualquer momento.

“Já estava antes. Mais pelo Vinícius Júnior, o próprio Rapinha, jogadores de frente ali. São jogadores diferentes, que o Brasil estava precisando, que o Brasil sempre teve. Jogadores mais versáteis, que pegam a bola, com qualidade, e já fazem a diferença. O futebol igualou muito hoje. Os jogadores pegam uma seleção como a Sérvia, como outras - antigamente, uma Sérvia já entrava derrotada em campo, pela qualidade. Hoje, não. Hoje, você tem que fazer acontecer. Jogadores desses times pequenos sempre jogam em grandes clubes na Europa. Não tem nada a ver mais como era antigamente. É preocupante isso, mas a diferença no meu ponto de vista é a qualidade do jogador de frente. Jogadores rápidos, que criam situações, que era um ponto forte do Brasil e que andou perdendo essa qualidade. Com Raphinha, com Vini Júnior, essa versatilidade voltou um pouquinho. É o que dá mais confiança: em um jogo preso, amarrado, difícil, os jogadores fazem a diferença”, acredita.

Novo protagonista no Brasil

Para o ex-lateral, tanto Vinícius Júnior quanto Raphinha têm condições de assumir o protagonismo na Seleção Brasileira. Especialmente caso Neymar seja desfalque.

“O Neymar, ultimamente, na minha maneira de ver, ele tem sempre vindo para a seleção como uma promessa e não vem acontecendo. Sem discutir a qualidade dele como atleta, mas mais uma vez eu vejo que não vai sobrar para ele. Está entre o Raphinha e o Vini, mas eu estou mais apostando no Vini - pela velocidade, pela audácia dele, que toda bola pega e vai para cima. Lembra muito o Ronaldo Fenômeno”, comparou.

Brasil favorito ao título

Agora, longe dos gramados e falando como torcedor, Zé Carlos apontou qual seleção gostaria que o Brasil enfrentasse em uma possível final da Copa do Mundo.

“Eu, como jogador, jamais iria preferir alguém. Mas como torcedor, eu escolheria a Espanha. Não sei se vai dar certo de as duas se cruzarem só na final, mas eu prefiro a Espanha. É uma equipe que, não teoricamente, mas que é um país que joga um futebol muito próximo do Brasil e, na frente, o Brasil tem mais qualidade”, disse Zé Carlos.

Ao falar sobre o futebol apresentado pelas seleções que estão no Catar e se alguma equipe está jogando melhor que o Brasil, Zé Carlos foi enfático.

“Eu não tenho visto. Tenho visto um futebol bem jogado, como eu vi da Espanha, mas, igual ao Brasil, eu não tenho visto. Eu vejo o Brasil como o grande favorito e tem grandes chances de chegar na final e ser campeão”, afirmou o ex-lateral.

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