Nos últimos tempos, é possível que você tenha ouvido falar pelo menos alguma vez em NFT, mesmo que não saiba exatamente do que se trata. O que você talvez não esperasse é que a novidade chegasse rapidamente ao automobilismo mundial.
Para entender o que é NFT (sigla em inglês para “token não fungível”), é preciso entender antes o que é fungibilidade (o F da sigla). Trata-se do conceito que determina valores financeiros a determinados bens, e que permite que eles sejam trocados por outros bens de mesmo valor – como, por exemplo, a compra de um item em troca de dinheiro.
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O NFT é a versão digital deste bem. Em resumo, o ativo digital se transforma em uma peça única mediante uma configuração numérica, e como é não fungível, vira um artigo único, sem circulação. Mais ou menos como uma obra de arte em ambientes digitais, que não permitem reprodução exata – original, só há um.
“São arquivos desenvolvidos através da criptografia, que tornam os tokens exclusivos e funcionam através de uma rede blockchain. Porém, diferentemente de outras criptomoedas, os NFTs não podem ser negociados livremente - seu propósito é que os ativos consigam ser identificados de maneira única”, descreve Mayra Siqueira, gerente no Brasil da Binance, uma das principais plataformas para as negociações de criptomoedas.
“Explicando de maneira mais simples, um bitcoin terá o mesmo valor caso seja trocado por outro sendo assim algo fungível, mas ao trocar um NFT por outro diferente, a mesma regra não se aplica, já que o valor daquilo é algo único - assim como um quadro por exemplo. Essa exclusividade e indivisibilidade são o que agregam valor ao token, e por isso acabam sendo uma ótima maneira de comercializar arte no geral, uma vez que podem ser representados por uma imagem, ativo digital, músicas, terrenos virtuais, skin para jogos e outras possibilidades.”
Recentemente, dentro do mercado das criptomoedas, o NFT se transformou em uma plataforma para o comércio de diversos conteúdos online – graças ao sistema, você pode ser dono de um meme, por exemplo. No futebol, clubes como Atlético-MG e Corinthians já comercializaram NFTs entre torcedores, com cards de jogadores e registros de lances.
No automobilismo, a pioneira a apostar em NFTs foi a japonesa Ai Miura, campeã da Fórmula 3 japonesa. Cinco dias depois, veio o segundo piloto do mundo nesse mercado – e o primeiro brasileiro: Guilherme Samaia, bicampeão da Fórmula 3 brasileira (2015, na categoria Light, e 2017, na categoria principal). Na Fórmula 1, o francês Pierre Gasly lançou em outubro sua coleção de crypto art para leilão.
No caso de Samaia, os NFTs são figuras desenvolvidas pela Typed Studio, sob a direção de Tina Castro, com a coordenação da CFuture, empresa que patrocina o piloto na Fórmula 2. Ao todo, 48 artes foram desenvolvidas e colocadas à venda.
“Escolhemos retratar meus três últimos anos nas pistas. Serão 16 figuras remetentes à temporada de 2019, mais 16 à de 2020 e mais 16 de 2021. São itens variados retratados nas figuras, como meus capacetes e os carros. Cada item comercializado é único e impossível de ser copiado, o que confere um status de exclusividade, colecionabilidade e transferência de valor”, explicou Samaia.
No caso de Gasly, 350 NFTs foram colocados à venda, retratando a primeira vitória na Fórmula 1 (Itália-2020) e outros dois pódios (Brasil-2019 e Azerbaijão-2021). O francês ainda oferece aos compradores produtos como camisetas e bonés autografados, além de encontros e a possibilidade de ganhar minicapacetes.
Para Mayra Siqueira, a movimentação dos pilotos é sinal de que o automobilismo também está se beneficiando da tecnologia neste mercado, já bastante visado no esporte.
“Os NFTs geram uma possibilidade enorme quando se trata de colecionáveis digitais para os amantes dos esportes. O futebol não foi o único esporte a explorar esse universo - a NBA, com a coleção Top Shots, pode vender vídeos e fotos de momentos marcantes para a história do basquete, e com isso conseguiu arrecadar mais de US$ 700 milhões em menos de um ano. Esses colecionáveis podem ser lançados tanto por clubes e federações, mas também pelos atletas individualmente, assim como fez o argentino Lionel Messi fez em agosto desse ano com a criação de obras de arte criptografadas que celebravam pontos de destaque em sua carreira”, lembrou.
“Os exemplos citados permitem que as organizações esportivas consigam estabelecer uma melhor conexão com seus fãs ao disponibilizar a eles algo único. Existe ainda a possibilidade de criação de NFTs dinâmicos para experiências específicas - por exemplo, se o time atingir tal pontuação, um NFT será liberado para compra. O mundo do esporte ainda está explorando as possibilidades que o universo cripto pode proporcionar, e os NFTs parecem ser uma boa saída quando se trata de inovação e de conexão com seus públicos”, acrescentou.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.