Nico Hülkenberg não venceu o Grande Prêmio do Canadá. Com isso, chegou a mais um recorde negativo na Fórmula 1.
Aos 36 anos, o experiente alemão da Haas chegou a 215 corridas na Fórmula 1, sem vencer nenhuma delas. Assim, superou Andrea de Cesaris como o piloto que disputou corridas na história da F1 sem vencer - o italiano passou em branco nas 214 provas na qual esteve presente.
No caso de Hülkenberg, há alguns detalhes que tornam este feito mais desabonador. O primeiro é que o veterano alemão supera De Cesaris com alguma folga no número de largadas: 212 contra 208. Entre todos os finais de semana que disputou, Hulk ficou parado no grid em três: Austrália-2013 (problemas do sistema de combustível), Bélgica-2015 (falha no motor) e Inglaterra-2020 (embreagem).
O segundo é que Nico Hülkenberg, como se sabe, jamais conquistou nem mesmo um pódio na Fórmula 1. Bateu na trave várias vezes, é verdade, mas está em sua 11ª temporada como titular (fora corridas como reserva entre 2020 e 2022) sem jamais chegar entre os três primeiros. Entre os dez pilotos que mais correram sem vencer, todos conseguiram chegar ao pódio alguma vez – inclusive alguns nomes do grid atual, como Kevin Magnussen (173 corridas) e Lance Stroll (154 provas).
Por fim, vale destacar: mesmo com números tão desfavoráveis, Nico Hülkenberg ainda tem um mercado razoável na Fórmula 1. Em 2025, ele será titular da Sauber, no último ano do time suíço a caminho do ambicioso projeto da Audi na F1.
E é aqui que queríamos chegar: por que uma equipe aposta em Hülkenberg?
Parece não fazer sentido uma marca tradicional como a Audi buscar resultados competitivos na Fórmula 1 com um piloto que nunca conseguiu se mostrar competitivo. Mas acredite, isso faz algum sentido.
Antes de chegar à F1, Hulk empilhou resultados impressionantes em categorias de formação. Foi campeão da Fórmula BMW alemã (2005), da Fórmula 3 europeia (2008) e da GP2 (2009), entre outros feitos. Nunca emplacou na principal categoria, é verdade, mas isso não é atestado de falta de qualidade. Basta ver nomes que fracassaram na F1 e brilharam em outras categorias: Emanuele Pirro, Henri Pescarolo, Yannick Dalmas, Alessandro Zanardi, Sébastien Buemi... A lista é longa.
Mas se você quer brilhar na Fórmula 1, você precisa de um piloto que entenda de F1, e não de outras categorias, certo? Certo.
E todo mundo imagina que a Audi quer brilhar na Fórmula 1. Mas provavelmente a marca alemã não tem pressa e sabe que os bons resultados não devem vir logo de cara.
E é aí que entra o currículo de Hülkenberg. O alemão terá 37 anos quando começar a temporada 2025, com experiência de sobra para ajudar a Sauber – e depois a Audi – a desenvolver o carro. Caso acerte logo de cara, o sonhado primeiro pódio pode até vir.
Faz sentido. Faz sentido?
Por um lado, Hülkenberg é um piloto – praticamente um motorista – com características desejadas a equipes da "segunda metade" da F1. Experiente, maduro, sofre poucos acidentes, carismático e capaz de ajudar a desenvolver carro. Com essa mistura, tem atraído simpatia e somado pontos com regularidade em 2024 a bordo da Haas.
Não por acaso, vai para a Sauber receber um belo aumento de salário – algo inviável dentro do orçamento da Haas. E ainda correrá com pouca pressão, já que provavelmente a Audi deve apostar em um nome mais competitivo para liderar o projeto.
Por outro lado, Hülkenberg é um piloto característico da atual Fórmula 1. Com calendários longos e pouca renovação no grid (muito por conta da estrutura das academias de formação de pilotos das equipes em categorias como a Fórmula 2 e a Fórmula 3), é um dos poucos nomes com alguma “mobilidade” entre as vagas no grid.
Aí, acaba rodando de um lado para o outro entre projetos que não brigam por muita coisa, e que nem oferecem muito aos pilotos. Vira um daqueles que fazem figuração por muito tempo e tiram espaço de nomes que poderiam fazer melhor na F1.
Os dois pontos de vista são válidos. Você escolhe o seu.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.