O 11 de julho de 2023 marca os 50 anos de uma das maiores tragédias da aviação civil brasileira. E, entre as vítimas, estava Antônio Carlos Scavone, um importante pioneiro da Fórmula 1 no Brasil.
Naquele 11 de julho de 1973, o voo Varig RG 820 que partiu de São Paulo com uma escala no Rio de Janeiro não conseguiu pousar em Londres, destino final: um incêndio em um dos banheiros da aeronave, já no fim do trajeto, encheu de fumaça o Boeing 707 prefixo PP-VJZ.
O comandando Gilberto Araújo da Silva tentou um pouso de emergência no aeroporto de Orly, nos arredores de Paris. Não conseguiu, chocando a aeronave em um campo de cebolas entre os vilarejos de Saussier e Saulx-les-Chartreux, ao sul da capital francesa. Dos 134 ocupantes, entre passageiros e tripulantes, 122 morreram. Entre os 12 sobreviventes, 11 tripulantes e apenas um passageiro - no caso, o brasileiro Ricardo Trajano.
Antônio Carlos Scavone estava entre os 40 passageiros que embarcaram no Aeroporto Internacional do Galeão com destino a Londres. Apaixonado por automobilismo, era jornalista da Rede Globo na época do acidente.
Antes de ganhar espaço nos bastidores, Scavone tentou a carreira de piloto, com provas de Fórmula 3 no currículo, mas desistiu logo diante do desgosto com a organização das disputas. Em agosto de 1963, sofreu um grave acidente, quando participava da segunda edição do Circuito Araraquara de Automobilismo pela equipe Willys. O saldo: fraturas no crânio, nas costelas e nos dedos.
O destino reservou a Scavone o brilho fora das pistas. Fundador da revista Autoesporte em 1964, começou a trabalhar em 1970 para incluir o Brasil no calendário da Fórmula 1, o que dizia ser um trabalho a longo prazo. Fundou a Scavone Promoções e Empreendimentos e começou a colocar o plano em prática depois de uma longa reforma no Autódromo de Interlagos.
Leia também:
A partir daí, começou a organizar várias provas internacionais, que valeram mais tarde a homologação da pista junto à F1. Em 1970, veio a Fórmula Ford. Em 1971, foi a vez da Fórmula 3 e da Fórmula 2.
Em 1972, aconteceu a primeira edição do Grande Prêmio do Brasil, realizado em 30 de março ainda como uma prova extracalendário. Aprovada, a prova ganhou a primeira edição oficial em 11 de março de 1973, com vitória de Emerson Fittipaldi.
Antônio Carlos Scavone, 33 anos, morreria exatos quatro meses depois. Na época, trabalhava como como comentarista da Rede Globo em provas pontuais da temporada 1973. No voo da Varig, viajava na companhia do também jornalista Julio Delamare (que chefiava o departamento de Esportes na Globo) para a cobertura do GP da Inglaterra.
A transmissão da prova foi mantida, mas com narração de José Maria Ferreira, o Giu Ferreira, e comentários de Janos Lengyel, então correspondente do jornal O Globo. A partir daí, Luciano do Valle assumiu as narrações da F1 no canal, com comentários de Giu Ferreira e Pedro Luís.
Fora das pistas, Antônio Carlos Scavone deixou dois filhos, de dois casamentos: Fábia, da união com Cláudia Dias de Souza (que se converteu ao budismo e assumiu a identidade de Monja Coen em 1981) e Alexei, do relacionamento com Líria Marçal.
No automobilismo, a semente plantada por Scavone vingou. Desde 1973, o Grande Prêmio do Brasil é presença fixa no calendário da Fórmula 1. A prova só ficou fora da temporada 2020 em decorrência da pandemia de covid-19. A partir de 2021, passou a ser disputada com o nome de Grande Prêmio de São Paulo.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.