Quando a temporada 2023 da Fórmula 1 terminou, era difícil imaginar um mínimo problema na Red Bull. Afinal, o time venceu 21 das 22 corridas disputadas, levou Max Verstappen ao (terceiro) título do Mundial de pilotos, deu a Sergio Pérez o vice-campeonato e faturou o Mundial de construtores. O céu era – e ainda é, na verdade – o limite.
Mas algumas nuvens pesadas taparam o sol da escuderia austríaca antes da temporada 2024. O protagonista da crise: Christian Horner, o vitorioso chefe de equipe da Red Bull, no cargo desde 2005.
Horner é alvo de uma investigação interna após uma denúncia de comportamento inadequado. A sigilosa apuração interna, entretanto, indica ser a ponta de um iceberg que pode apontar uma intensa disputa nos bastidores de uma das mais vitoriosas escuderias da história da F1.
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A novela ainda está no começo, mas promete ser um dos pontos altos da pré-temporada de 2024. E antes que o campeonato comece, vale a pena tentar responder algumas perguntas.
O que está sendo investigado?
Há poucos detalhes a respeito. O incidente sob suspeita aconteceu em janeiro, durante uma competição de esqui em Kitzbuhel, na Áustria. O jornal alemão Bild fala em “fotos nítidas” que constam entre o material apurado. A imprensa britânica relata queixas de uma pessoa do quadro de funcionários do time a respeito do comportamento agressivo do chefe.
A investigação afeta a vida pessoal de Horner?
Não é surpresa que a imprensa britânica tem dado especial atenção ao casamento de Christian Horner com a cantora Geri Halliwell, integrante do grupo Spice Girls. Jornais como The Sun, Daily Star, Daily Mirror, Metro e Daily Record informam que a cantora está arrasada diante do ocorrido, mas prometeu apoio total ao marido – mesmo alertada que o caso pode arranhar a própria imagem dela.
A investigação pode ser parte de algo maior?
A princípio, não há mais nomes envolvidos na investigação. No entanto, de acordo com o site alemão F1 Insider, Christian Horner é um dos pivôs de uma intensa disputa interna na Red Bull que começou com a morte do fundador do conglomerado Red Bull GmbH, o empresário Dietrich Mateschitz, em 2022. Segundo o veículo, no fim de 2023, “surgiram rumores” de que o chefe de equipe estaria tentando afastar Helmut Marko, o influente consultor da equipe, do centro das decisões. Não conseguiu: o contrato de Marko foi renovado até 2026.
Como fica Max Verstappen na disputa interna?
As informações do caso foram publicadas no dia 5 de fevereiro pelo jornal holandês De Telegraaf, o que pode ser uma pista importante. Segundo o site Motorsport-Total, rumores nos bastidores da F1 apontam ainda para um desgaste entre Christian Horner e o pai de Max Verstappen, o também piloto Jos Verstappen. “O fato de a história ter vazado pela primeira vez na Holanda provavelmente não é coincidência”, afirmou a publicação, segundo a qual Max “é considerada uma pessoa leal, cuja lealdade reside principalmente em dois homens: seu pai e Helmut Marko”. Horner estaria isolado.
Quem será o chefe de equipe se Horner sair?
A possibilidade de Christian Horner pedir demissão está fora de cogitação, mas não está descartada a possibilidade de a equipe decidir pela saída do dirigente. Caso aconteça, dois nomes são cotados para a vaga: Jonathan Wheatley, diretor esportivo da Red Bull na F1, e Oliver Mintzlaff, ex-CEO do RB Leipzig e atual diretor-executivo de projetos corporativos e novos investimentos da Red Bull GmbH.
Adrian Newey vai deixar a Red Bull?
A alegada disputa entre Christian Horner e Helmut Marko teria afetado a relação entre o projetista Adrian Newey e o chefe de equipe. Ainda de acordo com o F1 Insider, Newey já avisou que permanecerá leal à equipe mesmo no caso da saída de Horner. O projetista, porém, já indicou antes que gostaria de trabalhar com Lewis Hamilton e com a Ferrari – e, como já se sabe, o heptacampeão assumirá uma vaga na equipe italiana no fim de 2024. A lealdade de Newey deve ser posta à prova, mesmo com a promessa à equipe.
Como isso vai afetar os resultados nas pistas?
A curto prazo, é difícil imaginar que a crise interna na Red Bull afete os resultados da equipe nas pistas, especialmente no começo da temporada. Com o modelo RB20 desenvolvido já ao longo de 2023, sob a tranquilidade oferecida pela eficiência do RB19, o time larga na frente para buscar mais vitórias em 2024. O único risco, a princípio, viria se alguma das principais acertasse em cheio com o projeto de um carro competitivo, que obrigasse a Red Bull a reagir – justamente no momento em que a equipe precisa de tranquilidade nas pistas para buscar paz fora delas.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.
