Nos últimos tempos, o trabalho dos comissários ganhou especial atenção do público na Fórmula 1. Responsáveis por garantir a segurança nas corridas, são eles que avaliam incidentes de prova e, eventualmente, distribuem punições.
O Grande Prêmio de São Paulo é o mais recente exemplo da atuação. Lewis Hamilton conquistou a pole position, mas largou em 20º lugar na corrida sprint depois que o comissariado verificou uma irregularidade na asa traseira de sua Mercedes.
Não foi só. Quinto colocado no sprint, o britânico perdeu mais cinco posições no grid para a corrida principal após uma troca de componentes na unidade de potência. Largou em 10º, deu show e venceu - tomando uma multa depois por tirar o cinco de segurança na comemoração.
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Mas nem por isso o trabalho dos comissários da Fórmula 1 acabou. A disputa entre Hamilton e Max Verstappen na 48ª volta da corrida em Interlagos, na qual o holandês da Red Bull teria espalhado na Descida do Lago, chegou a ser avaliado pelos comissários em São Paulo, mas sem resultar em punições.
Mesmo tendo vencido a prova, a Mercedes se incomodou com a manobra. A FIA (Federação Internacional do Automóvel) convocou uma reunião com as partes envolvidas e decidiria, a pedido da equipe alemã, se haveria uma análise da manobra. No fim, o pedido de revisão foi descartado.
Veja bem: toda esta lista diz respeito apenas a um dos 22 GPs da temporada, o que dá a noção do tamanho do trabalho dos comissários na Fórmula 1. Para Felipe Giaffone, comentarista do Grupo Bandeirantes de Comunicação e comissário em diversas categorias ao longo dos anos, o “protagonismo” do comissariado é fruto de uma exigência dos próprios pilotos por mais segurança nas disputas.
“Não é que o critério mudou (agora). Ao longo do tempo, sim. Vem ficando um pouco mais rígido. Mas isso, vamos lembrar, até a pedido dos próprios pilotos. Se você libera, bate demais e também dá confusão. A partir da hora que você começa a punir mais, começa a cometer mais injustiças. Sempre tem aquele incidente que não foi preto no branco. Você acha de um jeito, eu posso achar de outro, e é aí que dá confusão”, explicou, em entrevista ao blog.
“Para falar a verdade, eu gosto da época mais antiga, liberava um pouco mais. Só que os próprios pilotos são contra. A gente precisa lembrar que os carros estão muito rápidos. É sempre uma posição difícil. Eu trabalhei por lá como comissário bons anos e sofri na pele isso aí. Toda vez que você tem uma posição que não é preto no branco, fica complicado.”
E aí vale explicar como é o trabalho dos comissários. Segundo Giaffone, são quatro pessoas em uma sala específica, com acesso a informações diversas sobre as corridas - inclusive colhidas por outros integrantes fora da sala. Diante de incidentes que fujam do roteiro esperado em cada grande prêmio, eles entram em ação.
“Na sala dos comissários, você tem os quatro comissários, sendo um piloto local e dois internacionais, e mais um cara que fica mexendo em todas as câmeras. Câmera, rádio do piloto, telemetria. A gente tem acesso, nos comissários, a tudo. E para ver isso tão rápido, às vezes esse tanto de informação complica. Você tem que decidir um negócio tão rápido e tem tanta informação para ver que, às vezes, fica bem complicado”, reconhece Giaffone.
Os prazos para a análise de cada incidente são importantes, segundo o comentarista. O tempo quase sempre é curto, mas às vezes pode ser ainda mais curto.
“Cada situação é uma situação. Por exemplo: se você tem uma batida em que os dois carros saem, esquece, não tem porquê de ser rápida essa punição. Mas se é uma punição no final da prova, tem que ser o mais rápido possível para não ter mudança de pódio. Eles pedem sempre para demorar de três até cinco voltas no máximo para sair a punição”, explicou.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.