A temporada 2022 da Fórmula 1 ficou marcada, entre outras coisas, pela adoção de um novo regulamento.
A ideia era adotar carros com visuais agressivos, mas que também apostar em mais downforce para facilitar as disputas. Muita coisa foi mudada - asas, assoalhos, pneus – para ajudar quem viesse atrás a incomodar mais quem viesse à frente.
A dúvida que ficou após o fim da temporada da F1: deu certo?
Para quem havia se acostumado a fechar o grid nos últimos anos, o progresso foi visível. Zerada em 2021, a Haas fechou o ano na oitava colocação, somando 23 pontos. A Alfa Romeo, penúltima em 2021 com 13 pontos, foi a sexta colocada em 2022 com 55. E até a Williams, que caiu de 23 para 8 pontos, pontuou em mais corridas em 2022 (cinco) do que em 2021 (quatro).
Mas para a turma do fundão reagir, o pessoal à frente teve que ser mais ameaçado. A Mercedes certamente foi quem mais sentiu: depois de disputar os títulos de pilotos (que perdeu) e construtores (que venceu) em 2021, foi apenas uma coadjuvante de luxo em 2022, terminando o ano com uma única vitória (George Russell, em São Paulo).
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A McLaren, que parecia candidata a brigar por vitórias na pré-temporada, também sentiu: depois de quatro pódios em 2021, com direito a uma inesperada dobradinha na Itália, o time se contentou com o quinto lugar no Mundial de construtores, contabilizando apenas um pódio. Sobrou para Daniel Ricciardo, talvez quem menos tenha se adaptado aos novos carros.
Na ponta, a Red Bull nadou de braçada, e até a Ferrari conseguiu colher frutos. Na outra ponta, a AlphaTauri sofreu e a Aston Martin demorou a reagir. A Alpine, quarta colocada entre as construtoras, ainda carece de desempenho para brigar por vitórias.
Mas entre prós e contras do novo regulamento, uma questão provocou incômodo. Ao longo de todas as 22 corridas do ano, houve apenas uma ocasião em que um piloto de fora das três principais equipes (Red Bull, Ferrari e Mercedes) conseguiu terminar ao menos no quarto lugar: Lando Norris (McLaren), com o terceiro lugar no GP da Emilia-Romagna. De resto, as três equipes dominaram as quatro primeiras posições de todas as provas, criando um abismo com as outras sete equipes.
O regulamento só deve ter outra mudança forte em 2026, com motores e combustíveis mais limpos. Mas, até lá, muita coisa deve ser corrigida para que a F1 alcance o que os dirigentes e os fãs esperam.
O que dizem os pilotos?
No Grande Prêmio de São Paulo, os pilotos comentaram em entrevista coletiva o que achavam do regulamento depois de praticamente toda uma temporada, com sugestões de possíveis mudanças.
Via de regra, a maioria gostou do que viu no primeiro ano. Mas espera que a situação possa passar por melhorias nas próximas temporadas, especialmente pensando em diminuir a diferença entre os carros da ponta, o pelotão intermediário e a galera que fecha o grid.
Confira:
Max Verstappen, Red Bull
Definitivamente a corrida melhorou. Algumas pistas são um pouco melhores do que outras, mas em algumas é muito difícil passar de qualquer maneira, não importa o carro que você usa. Mas acho que esse tem sido o alvo principal de qualquer maneira. E, claro, sempre há coisas que podem ser melhoradas. Os carros, você sabe, eles estão muito rígidos no momento e balançando um pouco. Mas acho que, no geral, as regras foram muito boas.
Carlos Sainz, Ferrari
Acho que a Fórmula 1 acertou a princípio. E, em geral, acho que esses carros novos nos permitiram correr mais perto, ultrapassar em lugares e curvas ou em circuitos onde antes era sempre mais difícil. Então eu acho que correr é mais emocionante. Acho que a distância no grid ainda é relativamente grande, mas assim que esses regulamentos se estabilizarem, acho que todos vamos convergir e o campeonato vai ficar cada vez mais interessante com o passar dos anos e das corridas. Eu acho que tem sido a direção certa.
Esteban Ocon, Alpine
Eu acho que definitivamente foi na direção certa. Talvez o que melhore seja o slipstreaming (fluxo de ar), que está bem baixo no momento. E acho que a outra coisa que também foi implementada com essa regra é para aproximar todo mundo e ainda não é o caso. O último carro do grid ainda está muito longe do carro da frente, então esse provavelmente é o próximo passo.
Pierre Gasly, AlphaTauri
Acho que, em termos de corrida, vimos mais ultrapassagens. Em termos de direção, parece que é mais fácil para nós seguirmos em algumas pistas. Definitivamente, desse lado, acho que eles têm proporcionado e melhorado o esporte. Por outro lado, olhando para todos os pódios deste ano, e só vendo Lando conseguiu subir ao pódio apenas uma vez, tirando os três primeiros: pessoalmente, eu esperava que pudéssemos ver um pouco mais de variedade na ordem de chegada, como nas primeiras posições, com talvez mais equipes de pelotão intermediário tendo a chance de lutar por pódios. Portanto, espero que isso seja algo que possa melhorar nos próximos anos e aproximar o grid, ter mais equipes lutando por pódios. Você sempre terá uma ou duas equipes dominantes, mas pelo menos com lacunas suficientes para dar oportunidades para o pelotão intermediário estar na disputa por pódios. Então, acho que esse foi um dos grandes alvos. Espero que com o tempo do túnel de vento e tal ao longo dos anos, vá (...) se fundir para um desempenho semelhante para a maioria das equipes. Como piloto, será o melhor para todos nós para nos dar a chance de lutar no topo.
Valtteri Bottas, Alfa Romeo
Também sinto que tudo foi positivo e a direção está certa. E como Pierre disse, acho que nos próximos anos, veremos que isso se aproximará. É o que todos esperamos e, em teoria, deveria ser assim. Então, no geral, sim, estou muito, muito feliz.
Lance Stroll, Aston Martin
Acho que houve uma grande melhoria. Perseguir carros é muito mais fácil do que costumava ser e estamos vendo corridas mais próximas. Concordo com Esteban. Acho que ainda há muita diferença entre os carros de cima e os carros de baixo. Mas, você sabe, essa é a Fórmula 1 há muitos anos, então acho que definitivamente foi um passo na direção certa.
Kevin Magnussen, Haas
Certamente perseguir é muito melhor agora. Em algumas pistas, na verdade, as ultrapassagens não são melhores porque o efeito de vácuo é menor com esses carros do que costumava ser. Então, em pistas onde perseguir não era um problema com os carros antigos, acho que talvez a ultrapassagem seja quase mais difícil, por causa do efeito de vácuo, mas no geral, com certeza é melhor.
Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.