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Como é a experiência de assistir a um GP de F1 (lotado) em tempos de Covid-19?

Emanuel Colombari

Circuit of the Americas, o Cota (Imagem: Fórmula 1/Site oficial)
Circuit of the Americas, o Cota (Imagem: Fórmula 1/Site oficial)

Um grande evento esportivo, com público massivo, ainda assusta em tempos de pandemia da Covid-19.

O cenário é parecido com o vivenciado no Grande Prêmio dos Estados Unidos, de 22 a 24 de outubro, em Austin, no Texas. Com algumas diferenças, é claro.

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A principal: as exigências no Circuit of the Americas (Cota) foram bastante brandas. Sem necessidade, por exemplo, de comprovação de vacinação ou do uso de máscaras nas dependências do autódromo.

Foi o que relatou Gabriel Marcondes, desenvolvedor que mora nos EUA e que compareceu às arquibancadas do Cota. Ao blog, Marcondes contou que houve “zero exigência de vacina, zero controle, zero pedido de teste” para o público presente ao GP dos Estados Unidos. Desde 10 de março, o uso de máscaras no Texas é opcional, e não mais obrigatório.

“Mesmo nas lojas. Fui a uma farmácia, e não podem exigir máscara. Alguns lugares pedem máscara, mas eles não podem exigir. Em restaurante e bar, acaba não usando máscara mesmo, porque você vai comer, então desencana disso. Mas, no geral, zero preocupação com a pandemia”, relatou.

“No transfer (para a pista), precisa de máscara. Foi a única vez que eu vi ser obrigatório máscara: dentro do ônibus para o evento. Já na pista, um calor insuportável. Eu comecei de máscara, mas desisti também. Pouquíssimas pessoas estavam usando máscara lá na pista”, contou.

Uso de máscaras já não é obrigatório em Austin, no Texas (Imagem: Gabriel Marcondes/Cedida)

Segundo dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) publicados pelo jornal The New York Times, até 3 de novembro, 67% dos norte-americanos tinham tomado pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, enquanto 58% já estavam completamente vacinados. De acordo com levantamento da Universidade Johns Hopkins, até o dia 4 de novembro, os Estados Unidos registraram 46.261.126 casos desde o início da pandemia, com 750.578 mortes.

Até a mesma data, o Texas havia imunizado integralmente 54,91% de sua população. Foram mais de 34,8 milhões de doses de vacinas aplicadas, com 15,5 milhões de pessoas totalmente vacinadas, para uma população de cerca de 29 milhões de pessoas.

Para quem vai ao GP de São Paulo, a exigência será maior. Segundo o site oficial, os torcedores precisarão levar documento com foto e o comprovante completo de vacinação (duas doses ou dose única), “apresentado obrigatoriamente através do aplicativo Chronus i-Passport, o passaporte sanitário oficial do evento, que estará disponível gratuitamente e o cadastro deverá ser feito até o dia 10 de novembro”.

A entrada de maiores de 12 anos que não tenham recebido pelo menos uma dose da vacina será proibida. Quem estiver com o esquema vacinal incompleto deverá apresentar teste negativo para Covid-19 do tipo Antígeno (realizado até 24 horas antes de cada acesso ao autódromo) ou RT-PCR (realizado até 48 horas antes de cada acesso ao autódromo). O uso de máscara será obrigatório, excesso durante momentos de alimentação.

Bem diferente do que Gabriel Marcondes viu no GP dos EUA. “Não tinha nenhum cuidado específico com Covid-19. Não tinha distanciamento, não tinha nenhuma higiene especial. Mesmo os vendedores de comida das barracas lá dentro, alguns não usavam máscara.”

(Vale registrar: no período posterior à corrida, Gabriel não apresentou sintomas de Covid-19, e realizou testes que deram diagnóstico negativo para a doença.)

Em Interlagos, a organização anunciou a disponibilização de totens com álcool em gel 70% em todos os setores das arquibancadas, além da distribuição de álcool em gel perfumado – uma parceria com a Giovanna Baby. Neste quesito, as duas provas ficam no empate.

“Principalmente perto das praças de alimentação, tinha álcool em gel disponível para as pessoas limparem as mãos. O banheiro, bem feitinho, limpado frequentemente, e tinha água e sabão para limpar a mão”, descreveu, destacando a “estrutura muito boa” do circuito texano para o fim de semana da Fórmula 1.

“Os americanos sabem fazer evento. Bastante barraca de comida, bastante barraca de bebida. Pagamento só com cartão, não aceitavam dinheiro. Os banheiros estavam funcionando muito bem. Eram banheiros químicos, o que se espera de um evento. Eram bem limpinhos. Essa parte da estrutura era boa”, acrescentou.

Estacionamento a US$ 500 e nada de transporte público

Já que falamos do transfer para o autódromo em Austin, vale a pena abordar também outras situações pelas quais o Gabriel passou no GP dos EUA.

Segundo ele, foram US$ 270 pelo ingresso para os três dias (“o pacote mais barato, admissão geral”). Com a entrada em questão, o torcedor poderia assistir a programação de qualquer lugar aberto, como os gramados ao redor da pista.

“As arquibancadas são vendidas separadas e são mais caras - a partir de US$ 500. Eu assisti o primeiro treino na curva 1 e assisti quase todo o resto na curva 11. É bem legal esse esquema. Andei pelo circuito inteiro, vi vários pedaços, vi várias categorias, de várias posições diferentes na pista. É um esquema bem legal, que acho que faria muito sucesso no Brasil”, contou.

“A única arquibancada permanente é aquela arquibancada principal na reta, de concreto, e ela é coberta. Todas as outras arquibancadas são estruturas temporárias, de metal, e não são cobertas. Mas eu imagino que a maior parte do público estava naquele esquema que eu estava: basicamente todo mundo leva sua cadeirinha dobrável e monta a cadeirinha no gramado, ou leva uma toalha, senta no gramado direto. É uma coisa muito americana - americano adora sentar no gramado, tomar um sol (...). Do lado da pista, tem um morro; você vai lá no morro, senta no morro e assiste a corrida do jeito que você quiser.”

Público com ingressos mais baratos pode assistir movimentação sentado em gramados (Imagem: Gabriel Marcondes/Cedida)

Inaugurado em 2012, o Circuit of the Americas fica em uma área afastada do centro de Austin, depois do Aeroporto Internacional Austin-Bergstrom. Por isso, o acesso por ser um pouco complicado.

“Não tem transporte público para a região do autódromo, que é bem longinho da cidade. Fica até mais longe que o aeroporto - o aeroporto é metade do caminho. Mas o evento tinha um shuttle saindo de quatro pontos da cidade - inclusive que foi o que eu usei também, saindo do centro da cidade. Deixava a gente na porta, por US$ 40 a diária, que foi o que eu peguei. Tinha um de US$ 20 a diária, que deixava o pessoal um pouco mais longe. Por US$ 40, deixava bem na porta do evento mesmo”, relatou Gabriel.

“O pessoal pode ir de carro também, e aí a facada: o estacionamento para os três dias de estacionamento para o evento fica US$ 500. Talvez não fique tão caro assim se você vai em uma turma de cinco, vai dividir, aí beleza. Mas tem a desvantagem também: é um evento muito cansativo, galera vai e bebe, e tem um trânsito desgraçado também. A região tem estradinhas pequenas que chegam lá. Trânsito é sempre um gargalo - é no Brasil também, sei que nas corridas da Europa também é um gargalo, e aqui não é diferente. Por isso resolvi ir pelo ônibus mesmo.  Em alguns momentos, quando muita gente está indo ou voltando ao mesmo tempo, vai ter uma fila grande para embarcar o pessoal, mas vale a pena o ônibus.”

A área do embarque mereceu especial atenção das autoridades de segurança de Austin. Mas o policiamento ficava da porta para fora, e a segurança do lado de dentro era particular.

“Na cidade, eu vi que a polícia estava tentando organizar a região de embarque dos ônibus, fila. Ainda nos acessos ao circuito, nas estradas, tinha polícia também. Da porta para dentro, não tinha polícia, era segurança privada. Eu também não vi nada muito ostensivo, não reparei muita coisa. Mas dentro do circuito é privado.”

Camiseta ‘vendeu que nem água’

Mas a prova em Austin leva vantagem sobre o GP de São Paulo em algumas questões. Uma delas: a venda de merchandising. Nas provas da Fórmula 1 no Brasil, costuma ser uma missão complicada conseguir comprar camisetas e bonés oficiais de equipes – noves fora a questão do câmbio atual, é claro.

Nos EUA, assim como na Europa, o merchandising das equipes está mais acessível. Segundo Gabriel, eram muitos os stands de vendas para os fãs.

“Sou culpado de ter gastado um pouquinho ali, porque a camisa da McLaren estava tão bonita... Dava para comprar bastante boné, camiseta, casaco, tudo que você imaginar relacionado às equipes. Basicamente, é o mesmo merchandising que você vê nas lojas online das equipes, pelo mesmo preço”, lembrou.

“Tinha também algumas barracas menos comuns, algumas barracas de outlet, que eu via que elas vendiam materiais que temporadas anteriores. Tinha alguns bonés da Ferrari de 2012 lá, eram mais baratinhos. Mas, em geral, era o mesmo preço que a gente vê no site. Uma camiseta a partir de US$ 40, US$ 60. Boné de US$ 40, boné de US$ 70, boné de US$ 120. Aquela camiseta da McLaren, de futebol americano, vendeu que nem água, era US$ 100. Rolou muito dinheiro nisso aí”, acrescentou.

O GP dos Estados Unidos costuma fazer estardalhaço com os eventos marcados para o fim de semana da prova. Em 2021, por exemplo, houve apresentações de Kool & The Gang e do DJ Diesel após a corrida do domingo.

As atrações do fim de semana foram um ponto positivo para Gabriel. “Havia parque de diversões, um monte de coisa para fazer, muitos shows acontecendo o tempo inteiro, dezenas de shows por dia”, lembrou o brasileiro – que, como um todo, gostou muito da experiência.

“O clima é muito bom. Eu não sou lá uma pessoa muito sociável, mas a gente puxa um papo ali com uma galera de vez em quando, muita gente jovem. O público da Fórmula 1 mudou, trouxe muita gente jovem, que era uma preocupação que a Fórmula 1 parece ter nos últimos anos, e deu certo. Muita gente conversando, falando que começou a ver Fórmula 1 pela Netflix (em referência à série Drive to Survive) e agora está acompanhando direto”, afirmou, destacando ainda a presença de um grande público feminino na prova.

“Eu fui em corrida no Brasil e sei que, no Brasil, é insuportável o clima para mulheres. O ambiente é hostil mesmo, gente sendo machista, mexendo com mulher, cantando mulher, coisa ridícula assim. Não vi nada disso aqui. Também tinha bastante criança. A McLaren me surpreendeu: é a maior torcida, muita gente torcendo para a McLaren. Eu fiquei muito feliz com isso. Muita gente das mais jovens torcendo para Red Bull e Ferrari, que ainda tem a tradição dela, tem bastante torcedor. A Mercedes é que tem menos torcida”, acrescentou.

Gabriel aprovou experiência em Austin (Imagem: Gabriel Marcondes/Cedida)

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.