Olá, amigos
Se você perguntar aos profissionais da F1 se sentem falta do grande líder histórico do evento, Bernie Ecclestone, a maioria irá dizer que reconhece sua importância na transformação da F1 em um espetáculo mundial e milionário, mas hoje “os tempos são outros”. O modelo centralizador de Ecclestone não mais funcionaria.
Ecclestone deixou a direção executiva da Formula One Management (FOM) em janeiro de 2017, aos 86 anos, depois de o grupo norte-americano Liberty Media adquirir por 8 bilhões de dólares, ou R$ 44 bilhões, os direitos comerciais da F1. Ecclestone dirigiu a competição de 1971 até a chegada da empresa de John Malone, há quase cinco anos.
É mesmo verdade que a profissionalização não apenas da FOM como da FIA, nos últimos anos, bem como a mudança de postura das lideranças das equipes, aproximou a F1 da realidade do mundo, hoje, onde as mídias sociais conectam tudo, dentre outros importantes desdobramentos, como a necessidade de conter despesas e sair em defesa da natureza. Ecclestone via tudo isso com certo desdém.
Mas não podemos negar, também, que em determinadas situações a presença de um grande líder bem intencionado, com poder de persuasão mágico, a exemplo de Ecclestone, atende os interesses maiores do evento.
Isso me veio à mente, hoje, ao ver que os comissários desportivos da FIA precisaram de um dia para tomar a decisão de multar Max Verstappen, da Red Bull-Honda, por tocar no aerofólio traseiro da Mercedes W12 de Lewis Hamilton, e desclassificar o piloto inglês da tomada de tempo para a sprint race. Razão: o flap móvel abrir mais dos 85 milímetros permitidos. O resultado da sprint race serviu para definir o grid do GP de São Paulo, neste domingo, com largada às 14 horas.
Com Ecclestone na liderança da F1, seus poderes se estendiam para além da FOM, sua área natural de atuação, a de exploração dos direitos comerciais, e entravam na seara da FIA, quem tem a responsabilidade de verificar os que cumprem as regras técnicas e esportivas. E, claro, punir os infratores.
Em conversa com três amigos da antiga na F1, ainda atuantes nas equipes, demos risada ao projetar como seria se Ecclestone estivesse em Interlagos, ontem no fim da tarde, e visse que os comissários não haviam ainda tomado uma decisão sobre o que fazer com Hamilton e Max.
Ecclestone falaria duro com diretor de prova, Michael Masi, exigindo uma definição imediata dos quatro comissários desportivos: os italianos Matteo Perini e o ex-piloto Vitantonio Liuzzi, o americano Tim Meyer e Roberto Pupo Moreno, ex-piloto brasileiro de F1.
Ele iria, ainda, se inteirar do caso em maior profundidade e sugerir o que fazer. Gostava sempre de medidas conciliatórias. “Ok, Mercedes, você não deixou o DRS de Hamilton mais aberto do permitido de propósito e, portanto, leve esta reprimenda. Saiba, no entanto, que da próxima vez haverá maiores consequências.
Para Max, possivelmente Ecclestone iria sugerir uma reprimenda também, destacando que se repetir o feito será punido.
Outro dirigente das antigas e muito influente no universo da F1, Max Molsey, ex-presidente da FIA de 1992 a 2009, agiria com bastante vigor, nada de passar panos quentes. Não permitiria que a história se arrastasse, gerando incertezas na competição. E Mosley tinha ainda mais poder, pois mandava na FIA. Como advogado que era, não há dúvida, tanto Max quanto Hamilton transgrediram as regras e, por esse motivo, sofreriam as punições previstas no regulamento.
Autoritário ao extremo, Mosley diria aos comissários, pessoalmente ou por telefone, para colocar Hamilton e Max no fim do grid. E sem discussão. Pouco tempo depois do ocorrido conheceríamos a decisão da FIA, ou de Mosley. Ele morreu em março deste ano, aos 81 anos.
São escolas de gestão distintas, a baseada na pessoalidade da dupla Ecclestone-Mosley e nas decisões colegiadas do grupo que administra hoje a F1, onde a política e os interesses, apesar de sempre presentes, têm um peso menor, em favor da observação das regras.
Qual dos dois modelos você considera melhor para a F1?
Abraços
Livio Oricchio é um jornalista brasileiro e italiano, especializado em automobilismo, notadamente a F1, e em outra de suas paixões, a divulgação científica. Cobriu a F1 para o Grupo Estado de 1994 a 2013 e então para o GloboEsporte.com até 2019. Residiu em Nice, na França, durante boa parte da carreira, iniciada na F1 ainda em 1987. Colabora, desde então, com publicações de diversos países. Tem no currículo a presença em quase 500 GPs. Em boa parte desse espaço de tempo também foi repórter e comentarista de F1 das rádios Jovem Pan, Bandeirantes e Globo. Em 2012 ganhou a mais prestigiosa premiação da área, o Troféu Lorenzo Bandini, recebida em cerimônia na Itália.