Após um período afastado devido à pandemia de Covid-19, o espetáculo “Caros Ouvintes” está de volta. A peça de sucesso pode ser vista no Teatro UOL, em São Paulo. Os atores Léo Stefanini e Eduardo Semerjian e o autor Otávio Martins conversaram com o programa Antenados, comandado por Danilo Gobatto na Rádio Bandeirantes,, e derem detalhes da produção.
A história se desenrola em um estúdio de rádio, bem no momento em que as radionovelas enfrentam uma crise por causa da chegada da televisão e das telenovelas, o que muda definitivamente o comportamento do público.
“A gente está falando da transição da imaginação para a imagem pronta. Você ouvir uma novela te dá a possibilidade de imaginar como aquilo está sendo feito. Montamos um estúdio de radionovela que é feito ao vivo no palco, com as mesmas instrumentações que tinham na época”, explica Martins.
“Alguns atores não vingaram e foram trabalhar com outras coisas. Muitos dos grandes atores e atrizes sumiram porque passamos a ter um padrão de beleza. A voz da mocinha não condizia às vezes com a aparência. Às vezes a mocinha era uma senhora mais rechonchudinha de 40 anos. É uma homenagem a esses radioatores geniais e uma amostra de como as tecnologias às vezes sobrepõem profissões que eram dadas como certas”, complementa ele.
Ao mesmo tempo, a obra também é uma reflexão sobre as mudanças sociais pelas quais a sociedade pode passar. A trama também mostra o início da ditadura militar no Brasil e faz um alerta sobre o risco do autoritarismo, além de refletir sobre o papel das artes em momentos difíceis.
“Uma das coisas mais legais do ‘Caros Ouvintes’ é que retrata um risco que estamos correndo sempre, a ameaça de um autoritarismo. De uma forma lúdica, através de uma história muito bem contada. As pessoas vão, riem, e ao mesmo tempo choram. Acho que isso é o estado da arte pura. É uma peça antifascista", explica Stefanini.
Ela também destaca como a tecnologia força as pessoas a se adaptarem. “Tudo muda muito. O que não acredito é que o rádio não morreu, ele de certa maneira está renascendo. É uma espécie de reciclagem do que conhecíamos. A questão vai depender do lado humano, de como as pessoas vão utilizar a tecnologia” , reflete Semerjian.
Para Stefanini, a peça também tem um componente bastante pessoal, uma vez que seu pai, Fúlvio Stefanini, atuou em radionovelas. “Ele se emociona muito quando vai ver ‘Caros Ouvintes’ porque é pouco a história da carreira dele", frisa.