Casal de drags diz que gasta mais de R$ 1000 por show e recebe cerca de R$ 250

Dora Criadora e Gabrielle Britt enfatizaram a importância de discutir valores de cachês para promover uma mudança positiva

Por Hanna Rahal

No mundo das drag queens, personagens geralmente femininos interpretados ligados ao universo LGBTQIA+, o caminho para a transformação é único para cada artista. Gabrielle Britt, que é a drag de Gisele Dias, e Dora Criadora, vivida por Felipe Brandão, compartilharam suas jornadas em uma entrevista exclusiva ao Band.com.br. O casal ainda deu detalhes do relacionamento e revelou como é ser homem e mulher drag. 

Inspiradas por “RuPaul's Drag Race”

As histórias de Gisele e Felipe têm pontos de partida semelhantes, impulsionadas pela influência do icônico programa "RuPaul's Drag Race". 

Ambos se encantaram com a arte drag, mas em tempos diferentes. Para Felipe, a série foi um divisor de águas, revelando a diversidade da cena drag além das fronteiras brasileiras.

Inicialmente, Felipe era um jovem familiarizado apenas com o estilo cômico de drags, como Silvetty Montilla, e viu-se surpreendido ao perceber a vastidão de expressões artísticas dentro dess universo. Essa revelação o impulsionou a explorar o mundo da maquiagem e da performance. Não demorou para surgir sua personagem, a Dora Criadora.

Já a atriz e cantora Gisele encontrou, com o reality show norte-americano, coragem para se montar e realizar seu sonho de adolescência, mesmo diante da escassez de referências de mulheres drag. Embora qualquer pessoa se tornar uma drag queen, historicamente elas são interpretadas por homens gays.

O aprendizado da maquiagem drag foi desafiador, de formas diferentes, para Gabrielle e Dora Criadora. Como um homem cisgênero - ou seja, que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído quando nasceu - Felipe teve que se familiarizar com uma prática pouco comum na vida cotidiana. Gisele já tinha noções de como se maquiar, mas teve que adaptar suas habilidades para a estética drag.

Quanto custa ser drag

Com processos distintos, Gabrielle e Dora Criadora compartilharam que suas produções para os shows e eventos que participam demandam cerca de 3 horas e meia para serem concluídas.

O casal concorda que na cena drag é preciso fazer muito com pouco. Como o orçamento é limitado, elas destacaram a necessidade de improvisação e customização de roupas para alcançar o visual desejado.

Mesmo com reaproveitamentos, as artistas explicaram que ser drag é uma jornada cara. Considerando maquiagem, perucas, roupas e outros acessórios, uma produção simples pode facilmente ultrapassar o custo de R$ 1 mil. Para a dupla, a peruca é considerada o único investimento inevitável, enquanto o restante pode ficar mais barato com criatividade e habilidades manuais.

Enquanto isso, os cachês de festas variam entre R$ 250 a R$ 300 reais, o que não leva em conta o tempo gasto em preparação, ensaios e “montação”.

Para mudar essa realidade, Gabrielle e Dora acreditam na importância da militância e união entre as drags. Elas também destacaram a necessidade de dialogar com contratantes, explicando os custos e tempo envolvidos na produção.

“A união da comunidade drag em prol de uma discussão mais aberta e transparente sobre remuneração é crucial para uma evolução positiva no cenário drag brasileiro”, reflete Criadora.

Rompendo barreiras como mulher drag

Questionada sobre o papel de representar as mulheres drags, Gabrielle expressou sua felicidade por ter visibilidade para falar sobre uma realidade pouco conhecida. Ela destacou a importância de esclarecer que mulheres também podem participar ativamente na cena drag.

A artista ressaltou a necessidade de reconhecimento e valorização das drags mulheres. “Muitas vezes, apesar de sua presença em eventos, essas artistas não são consideradas opção para performances pagas”, explica a jovem.

Dora Criadora destacou a resistência encontrada pelos homens no universo drag em aceitar mulheres que também praticam a arte.

“Eu namoro uma drag!”

Foi com essa chamada que Gabrielle, uma mulher cisgênera, pansexual e drag, começou um vídeo nas redes sociais para anunciar o relacionamento com Dora Criadora, um homem cis, pansexual e drag. Pansexual é quem se atrai por pessoas de todos os gêneros.

O casal se conheceu em uma festa enquanto ambas estavam montadas. À primeira vista, Gabrielle pensava que Dora era um homem gay. No entanto, com o tempo, surgiu uma conexão, levando-os a um relacionamento que transcendeu as barreiras da arte

Gabrielle Britt e Dora Criadora (Foto: Reprodução)

Ao decidirem compartilhar seu relacionamento nas redes sociais, Felipe admitiu a apreensão de se assumir novamente - de homem gay para pansexual - e destacou a importância de abordar o assunto.

É amor e aberto

As artistas também abordaram a escolha de ter um relacionamento aberto, esclarecendo que isso envolve comunicação constante e respeito mútuo. A decisão foi compartilhada com seu público em um vídeo, resultando em uma chuva de comentários e questionamentos sobre a autenticidade do amor entre eles.

Quanto a aumentar a família, ambos expressaram a falta de interesse em ter filhos, optando por dedicar-se a outros projetos e a companhia de seus adorados pets.

Ao discutirem o apoio familiar, ambos compartilharam gratidão por terem famílias compreensivas e receptivas. Dora destacou o suporte incondicional de sua mãe, uma artista, que desde cedo encarou com naturalidade sua paixão pela arte drag. 

O papo revela não apenas o que é esse tipo de arte, mas também a coragem e dedicação necessárias para transformar a cena drag no Brasil, além de assumir um relacionamento fora do padrão publicamente.

Assista à entrevista na íntegra:

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