Roupas, ataduras, cotonetes, estofados, óleo refinado e alimentação animal. Essas são algumas das inúmeras aplicações do algodão, que historicamente, há registros de usos desde a civilização Inca, há milhares de anos. E com o objetivo de celebrar seu papel no desenvolvimento econômico do mundo todo, há quatro anos, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) definiu o 7 de outubro, como o Dia Mundial do Algodão.
Nesta sexta-feira (6), a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo anunciou que vai instalar a Câmara Setorial do Algodão, fórum permanente que reúne representantes de toda a cadeia produtiva da fibra em prol do desenvolvimento da atividade. “Nossa expectativa é poder aproximar produtores, entidades representativas, pesquisadores e governo para que juntos possamos criar um ambiente de desenvolvimento e consolidação para a cultura do algodão no Estado, principalmente, ouvindo o setor na implementação de políticas públicas”, afirma o secretário executivo de Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai.
Para o coordenador das Câmaras Setoriais e Temáticas, da SAA, José Carlos de Faria Junior, esse é um grande passo para a união e representatividade do setor algodoeiro no Estado, tão importante para a economia agrícola do Estado. “A exemplo das outras cadeias produtivas presentes nas Câmaras da SAA, a cadeia produtiva do algodão contará com apoio direto de todo o corpo técnico da Secretaria, aproximando o todos os elos, produtor, a indústria e o poder publico”, explica.
Vale destacar que São Paulo, que já foi um grande polo produtor de algodão e da indústria têxtil, vem retomando a atividade no campo há cinco anos, com aumento de área plantada e volume de produção. De acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA – APTA), a estimativa de área para a safra 2022/23, é de 11,7 mil hectares, quase 22% maior que o registrado no ciclo anterior. Essa expansão vai resultar no aumento da oferta, passando de 27 mil toneladas para 34 mil toneladas, segundo previsão de junho do IEA-APTA.
Um dos produtores que vem contribuindo para essa retomada do setor no Estado de São Paulo é Laerce Maximiano, de Cosmorama, na região de São José do Rio Preto. Ele conta que seu pai já foi um grande produtor da fibra na região, que já foi conhecida como a “capital do algodão”, mas que por conta da infestação do bicudo nos anos 1980, a atividade praticamente acabou.
O bicudo-do-algodoeiro é a principal praga da cultura, capaz de dizimar até 70% da área em uma única safra. “Na época, não haviam tecnologias suficientes para impedir a infestação do inseto, mas hoje, temos produtos para fazer o controle biológico e temos apoio de gente qualificada para indicar as melhores práticas, principalmente no que diz respeito à irrigaçao”, explica o produtor.
Para o coordenador da assessoria técnica da SAA, Alberto Amorim, o problema do bicudo começou a ser superado quando as novas tecnologias ficaram economicamente viáveis e agora o setor tem tudo para retomar sua importância econômica no Estado. “Bioinsumos, manejo integrado, extensão técnica, entre outras práticas, contribuem para alavancar o setor”, avalia Amorim. Além disso, os produtores paulistas podem contar com recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP), iniciativa do governo estadual, operacionalizada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da CATI, que oferece apoio ao produtor rural para tecnificar suas propriedades.
Mas um dos atuais gargalos do setor é o preço. Segundo o produtor Lercio Maximiano, a cotação da arroba caiu cerca de 40% este ano. “O custo de produção dessa safra foi muito alto e, agora, o preço não está compatível. Esse ano, se empatar é lucro”, ressalta.
Para Laércio, uma alternativa para o produtor paulista driblar as baixas cotações é apostar em variedades de melhor qualidade e focar em mercados mais exigentes, como a indústria de tecidos finos e o mercado externo. A cotação do algodão é baseada na qualificação que pode variar de 80 a 400 fios por polegada quadrada.
“Vamos começar a estruturar a CS do algodão, reunindo toda cadeia produtiva para indicação das lideranças, até a escolha do novo presidente, como nas outras câmaras. A cada encontro serão levantadas questões importantes em prol do desenvolvimento da cadeia, e, com certeza, a pesquisa e a defesa agropecuária terão papel fundamental para melhorar a qualidade da fibra e, consequentemente, trará uma valorização do produto”, avalia José Carlos.
E os projetos de pesquisa dos institutos da SAA não ficam no papel. “22 variedades estão sendo testadas pela CATI na minha propriedade e os resultados dessa pesquisa serão fundamentais para melhorar a qualidade do produto final, que tem as melhores cotações” revela Maximiano.