Cerveja brasileira pode ficar mais barata com bactérias e fungos

Brasil importa 4,7 mil toneladas de lúpulo por ano; novas tecnologias podem aumentar produção local e baratear a bebida

Viviane Taguchi

A produção de lúpulo no Brasil ainda não atende a demanda do mercado cervejeiro
Renato Linhares/Embrapa

A cerveja brasileira pode ficar mais barata. Isso porque a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está testando bactérias e fungos que podem ajudar os agricultores brasileiros a aumentar suas lavouras de lúpulo.

Até hoje, o lúpulo, que é o principal ingrediente da cerveja, precisa ser importado. Isso aumenta os custos da bebida.

Os cientistas da instituição querem usar os microrganismos, chamados de bioinsumos, para acelerar o crescimento de mudas da planta e também, aumentar a sua produtividade nas lavouras. 

O que é lúpulo?

O lúpulo é o item que confere aroma e sabor à cerveja. Ele precisa ser importado porque a produção agrícola daqui não atende à demanda do mercado cervejeiro local. E é o ingrediente que mais pesa no custo de produção. 

Para que serve o lúpulo?

Para a produção de cerveja, os quatro ingredientes básicos são: água, trigo, cevada e lúpulo. 

O último é considerado o tempero da cerveja, exatamente o que lhe confere aroma e sabor. O lúpulo é o insumo mais caro da produção.

Quanto custa o lúpulo?

O produto importado é normalmente vendido em embalagens de 400 gramas, que podem custar até R$ 300.

Quanto lúpulo o Brasil importa?

Segundo a Embrapa, todos os anos, são importados cerca de 5 mil toneladas do produto. 

Em 2021, o Brasil importou, aproximadamente, 4,7 mil toneladas do insumo, totalizando mais de R$ 450 milhões, de acordo com informações da estatal.

De onde vem o lúpulo?

As grandes regiões produtoras de lúpulo no mundo encontram-se no Hemisfério Norte, nas faixas mais frias da América do Norte, Europa e Ásia. 

Comercializado em grande escala para diversas partes do mundo, o lúpulo passa por um processo térmico de conservação de sua vida útil de até dois anos, chamado peletização. 

O aroma e o sabor do produto, apesar de ainda marcantes, não são similares aos do produto fresco.

Como a produção de cerveja pode ficar mais barata?

Com técnicas que usam fungos e bactérias para criar mudas de lúpulo que produzam mais, em menos tempo. 

Estudos da Embrapa já provaram que mudas inoculadas com a bactéria Azospirillum possibilitaram aumento de 52% de biomassa na parte aérea da planta. 

“Nossa perspectiva é obter um bioinsumo que estimule a produção de mudas mais vigorosas, com menor tempo de viveiro e que reflitam em benefícios em relação à produtividade e, quem sabe, até na qualidade sensorial do lúpulo”, explica o pesquisador Gustavo Xavier, da Embrapa Agrobiologia (RJ).

No Viveiro Ninkasi, em Teresópolis (RJ), que também foi o primeiro reconhecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para produção de mudas de lúpulo no Brasil, os pesquisadores já realizaram testes.

Bactérias e fungos armazenados no Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner (CRB-JD), em Seropédica (RJ) já foram testados no local. 

São microrganismos que, reconhecidamente, têm a função de promover o crescimento de plantas, mas não se sabia ainda se teriam algum benefício sobre o lúpulo.

Além de fazer novos testes de campo com diferentes bactérias da coleção biológica da Embrapa Agrobiologia, os pesquisadores querem saber como se dá a interação do lúpulo com outros microrganismos, como fungos e bacilos. 

“Ainda que os resultados sejam preliminares, eles apontam as potencialidades de expansão desses bioinsumos para a cultura do lúpulo”, complementa Xavier.

Para diminuir essa dependência, além do Rio de Janeiro, a cultura do lúpulo também se expande em outros estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Norte. 

A maioria ocorre em pequenas propriedades com até um hectare, para atender à produção local de microcervejarias.

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