Saúde

'Pod saudável' existe? Pneumologistas criticam dispositivo que viralizou na web

Especialista pontua que promoção de cigarro eletrônico do tipo é 'uma afronta a qualquer inteligência humana'

Por Luiza Lemos

Reprodução/Instagram/Iz Health

Nesta semana, um vídeo circulou na internet divulgando um pod, dispositivo eletrônico para fumar, que supostamente seria saudável e que ajudaria na performance do dia a dia e para manter a produtividade. Segundo o vídeo, o Pod IZ Health é um concentrado vitamínico, sem nicotina, em que a absorção dos nutrientes ocorre pela mucosa do pulmão, pela inalação do vapor. 

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Para o pneumologista Gleison Guimarães, a propaganda não passa de uma “falácia criada para vender” e que o produto traz riscos à saúde. Segundo o médico, o primeiro erro do vídeo é justamente a forma de absorção de nutrientes. “A mucosa brônquica só serve para a troca de oxigênio e gás carbônico, qualquer dispositivo como esses, que atingem de 300 a 400ºC geram lesões no pulmão”, explica. 

Gleison critica a propaganda por afirmar que a mucosa absorveria algum nutriente, já que, segundo ele, a única mucosa que faz essa função no corpo é a gastrointestinal. “Afirmar que a brônquica serve para absorver nutrientes é uma afronta a qualquer inteligência humana”, critica.

Luiz Augusto Andreoli, pneumologista do Grupo Trasmontano, alega que apesar do produto informar que é saudável, há riscos de usar o Pod Iz Health. “O vapor contém substâncias químicas que podem ser cancerígenas”, explica. 

Segundo ele, com a adição da nicotina, “os riscos de um cigarro eletrônico é de bronquite, trombose, AVC, hipertensão, aumento da frequência cardíaca e fechamento de vasos”. "Os pod's contêm altas quantidades de nicotina e em sua maioria superiores a presente no cigarro convencional”, informa. 

Philipe Colares, pneumologista do Hospital 9 de Julho, concorda ao dizer que o produto não é mais saudável por não ter nicotina. “Mesmo sem o vício da substância, os consumidores correm sérios riscos inalando vapores desconhecidos para a mucosa do pulmão. Solventes e aditivos, incluindo a vitamina E, causou mortes e internações de jovens que usavam cigarros do tipo nos Estados Unidos”, explica. 

Para o pneumologista, o maior dano gerado por cigarros do tipo são as substâncias diluídas no gás, que são cancerígenas, além de trazer riscos cardiovasculares e pulmonares. “Além de substâncias como diluentes, essências e estabilizares, que, quando inaladas, causam grave doença respiratória, conhecida como EVALI”, explica, citando a lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico. 

A Band tentou entrar em contato com a IZ Health para pronunciamento oficial, mas sem sucesso. Não há mais perfis da empresa nas redes sociais após a repercussão do vídeo. 

Venda proibida pela Anvisa, mas oferecidos na internet

Em nota oficial no site, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirma que a comercialização, a importação e a propaganda" de cigarros eletrônicos são proibidos, "independentemente de sua composição e finalidade". 

Apesar da proibição, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia estima que há 650 mil usuários de dispositivos eletrônicos do tipo. Na internet, é possível encontrar diversos modelos de cigarro eletrônico, com ou sem nicotina, além dos ‘Pod’s saudáveis'. 

O valor varia entre R$ 55 e R$ 80. Há diversos sabores, com vitaminas, aminoácidos, hormônios e até melatonina, hormônio do sono que foi liberado pela Anvisa apenas em 2021 para uso como suplemento alimentar, ou seja, usado junto à alimentação, sem ser absorvido pela mucosa do pulmão. 

Em nota para o portal da Band, a Anvisa informou que a fiscalização e ações feitas contra a venda de cigarros eletrônicos são organizadas pela Receita Federal, pela Polícia Federal, pela Polícia Civil, pela Polícia Rodoviária Federal, por Órgãos de Defesa do Consumidor e pelas Vigilâncias Sanitárias.

“A Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 46, de 31 de agosto de 2009, proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. Desse modo, é importante lembrar que se trata de produto não permitido no Brasil e, portanto, sua importação configura contrabando, sendo crime, cuja fiscalização é de competência policial", informa a nota. 

A Anvisa cita que a fiscalização de lojas físicas é de responsabilidade das autoridades locais, ou seja, estados e municípios. “No caso da venda em lojas físicas, a denúncia pode ser feita na própria vigilância sanitária do município”, explica. 

A Anvisa realiza a fiscalização online de qualquer produto do tipo, entretanto, o órgão avisa que “esta não é uma atribuição exclusiva da Agência. Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais também podem fiscalizar qualquer tipo de irregularidade sanitária”.  

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