Nesta semana, as atenções se voltaram para as consequências das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul. Além das evidentes repercussões humanitárias, o país enfrenta desafios econômicos, especialmente no setor alimentício. A produção de alimentos, incluindo arroz, leite, ovos e frango, pode ser afetada, despertando preocupações sobre possíveis aumentos de preços.
O Rio Grande do Sul é um dos principais polos produtores de arroz do Brasil, respondendo por aproximadamente 70% da produção nacional. Contudo, não ficou claro o que foi salvo de arroz, tendo em vista que boa parte da safra já havia sido colhida antes das enchentes. Mas não há certeza se toda essa safra estava protegida nos galpões ou se acabaram contaminadas.
Elcio Guimarães, chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão, ressaltou em entrevista exclusiva à Rádio Bandeirantes a complexidade da situação. Ele afirmou: "Hoje nós já temos uma estimativa de colheita acima de 84%, ou seja, restam por colher 16% desse arroz."
A distribuição geográfica da produção de arroz no estado oferece alguma mitigação aos impactos das enchentes. Regiões como a Fronteira Oeste, onde estão localizados municípios como Uruguaiana e Alegrete, não foram tão afetadas e já haviam colhido a maioria de sua safra. No entanto, as incertezas persistem sobre a extensão das perdas.
Diante desse cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs a diversificação da produção agrícola como medida preventiva. Ele enfatizou a importância de evitar a concentração excessiva da produção em determinadas regiões, como é o caso do Rio Grande do Sul, que concentra mais de 80% da produção nacional de arroz. Guimarães comentou sobre essa proposta: "É uma medida que sim é factível, mas gostaria de pensar nessa situação um pouco mais calma e a médio prazo, de maneira mais estratégica."
No entanto, ele alertou para a complexidade da transição para a diversificação agrícola, especialmente em regiões onde o arroz é a cultura predominante. "Não é simplesmente para o gaúcho tirar o arroz e colocar outra coisa, porque esse arroz será produzido em outras regiões do país", explicou Guimarães.
Quanto aos reflexos nos preços do arroz, Guimarães expressou expectativas de aumento, embora não significativo. Ele destacou que as atuais informações não indicam uma iminente escassez do produto nos próximos meses. "Não acredito que nos próximos meses a gente vai ter nem falta do produto, nem nenhum aumento significativo dos preços", afirmou.
Diante da possibilidade de importação de arroz, Guimarães enfatizou que o Brasil historicamente importa e exporta o produto para regular o mercado interno. Ele explicou que o país já adota essa prática como uma estratégia natural de funcionamento do mercado.
Setor questiona eficácia da importação do arroz
Uma medida provisória (MP), publicada em edição extra do Diário Oficial da União na última quinta-feira (9), autoriza a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a importar até 1 milhão de toneladas de arroz em caráter emergencial. A ideia é manter estoques para regular o mercado, mesmo com o risco de desabastecimento descartado.
O governo diz que a medida é para evitar que as especulações sobre o abastecimento elevem os preços. Será comprado arroz já pronto para consumo, de países vizinhos como Argentina, Uruguai e Paraguai. O produto será destinado, principalmente, a pequenos varejistas.
A Federação da Agricultura do Rio Grande Do Sul (Farsul) afirma que a importação não é necessária. Com 90% da safra colhida, os problemas, segundo os agricultores, são o escoamento do produto, já que muitas rodovias estão intransitáveis, além da emissão da nota fiscal para o transporte, que depende da Secretaria da Fazenda gaúcha.
“Isso parece uma medida absolutamente intempestiva e desnecessária. Até porque não vai conseguir tirar mercado. O que temos de resolver são os problemas de logística e emissão de nota fiscal, porque o nosso centro processador do governo do estado do Rio Grande do Sul está embaixo d'água”, comentou Gideão Pereira, presidente da (Farsul).
Longe da discussão e dos principais afetados, estão os consumidores. Nos mercados, eles dizem que o preço já subiu.
“Está muito caro. Subiu demais, tanto aqui como em qualquer outro supermercado. Está um absurdo”, lamentou a cozinheira Goaimá Farias.