Jornalistas especializados na F1 relembram o que faziam no dia da morte de Senna

Mariana Becker, Reginaldo Leme e Fábio Seixas falam do 1º de maio de 1994. Rádio Bandeirantes traz trechos de narrações e reportagens marcantes com Ayrton

Bruno Puzzovio | Guilherme Cimatti | Cayami Martins | Beatriz Avellar

Há 30 anos, todos nós morremos na curva Tamburello. Tudo ficou pelo caminho no circuito de Ímola, na Itália, Nós morremos com Ayrton Senna no dia primeiro de maio de 1994. A Fórmula 1 é a busca pela velocidade. Hoje, temos a certeza que 30 anos passaram rápido demais.

“A vocês todos que estiverem assistindo agora eu digo que, seja quem você for, seja qualquer posição que você tenha na vida, em nível altíssimo ou mais baixo social, tenha sempre como meta muita força, muita determinação”, dizia Ayrton Senna.

Exemplo de dedicação, Ayrton Senna foi a inspiração do povo brasileiro em todos os domingos. Aquele era mais um domingo. A expectativa era pelo sucesso do piloto na Williams, depois do tricampeonato pela McLaren. Mas tudo ficou pelo caminho naquela curva de Ímola. O mundo chorou a morte de Senna. A repórter Mariana Becker foi uma das milhões de lágrimas naquele 1º de maio.

“Eu lembro desse dia, mas porque foi no dia seguinte no meu aniversário faço aniversário no dia 30 de abril. No dia seguinte a gente estava fazendo um churrasco no jardim, e como em tanta casa brasileira ou você estava na frente da TV no domingo ou você deixava a TV ligada bem alto. Eu estava passando e eu vi uma um ritmo diferente no som que eu estava ouvindo ali. E vi que o Ayrton tinha batido”, relembra a repórter.

Senna, sinônimo de sorriso no rosto, de repente, virou choro. O sonho de qualquer narrador é acompanhar a carreira de esportistas vencedores, transmitir seus feitos, traduzir a história e resumir conquistas. Narrador da Band e voz da Fórmula 1, Sérgio Maurício já trabalhava na área. E em um momento como aquele não existe a experiência para relatar o que aconteceu.

"Foi uma lembrança de um dia muito ruim, né? Naquele dia eu não estava trabalhando. Por incrível que pareça era um domingo, eu estava de folga, então eu fui chamado nós fizemos lá que ele aquele final de plantão melancólico, com aquelas notícias todas tristes, depois já culminando com a com a notícia do falecimento dele. Então eu obviamente não guardo boas recordações desse domingo.

Especialista em Fórmula 1, o jornalista Fábio Seixas diz que, como a maioria dos brasileiros, teve um dia muito complicado naquele dia 1º de maio de 94.

“Quem viveu esse dia não vai esquecer jamais e lembra exatamente onde estava, o que estava fazendo e eu lembro, né? Eu estava assistindo a corrida e, como milhares de brasileiros, eu assisti a batida ao vivo e fiquei em toda aquela expectativa com toda aquela tensão e com toda aquela torcida, esperando que o Senna saísse do carro, o que nunca aconteceu”, recorda o narrador.

Um “supercampeão”

Apresentador do Bandeirada, da Rádio Bandeirantes, e comentarista da Fórmula 1 na Band, Reginaldo Leme acompanhou a carreira inteira de Ayrton Senna.

“Eu me convenci tanto disso que quando o apresentei a boa parte da Imprensa internacional no fim de semana de Mônaco 1984, eu mesmo dizia para o jornalista que ele estava diante não de mais um brasileiro talentoso, mas de um supercampeão. Naquele mesmo fim de semana, ele fez milagres na pista superando pilotos como Niki Lauda e Alain Prost em uma corrida histórica”, analisa.

Desde os primeiros momentos até o último dia, uma personalidade marcante. Como conta Reginaldo Leme.

“Ao mesmo tempo, introspectivo em algumas atitudes no relacionamento com os outros, mas extremamente expansivo naquilo que era o seu mundo: os paddocks e boxes da Fórmula 1. O certo é que isso tinha uma explicação: a autoconfiança do Ayrton. Foi algo que eu nunca vi, mesmo em outros supercampeões. Eu fui testemunha de momentos em que, mesmo dois anos antes de entrar em um carro de Fórmula 1, ele já falava do futuro carregando a certeza de que seria um campeão mundial”, completa Reginaldo.

Como a maioria dos pilotos as primeiras aceleradas aconteceram no kart. A ida para a Fórmula 1 foi natural, passando pela Lotus e McLaren, onde construiu uma história brilhante. Em 1988, a consagração: Ayrton Senna da Silva conquistava o seu primeiro título mundial.

Após o título Ayrton disse ao repórter e comentarista da Rádio Bandeirantes Edgar Mello filho que estava aliviado após tanta pressão que colocou em si mesmo.

“Isso só vai ajudar vai somar muito na minha vida e vai me dar aquela paz interior, a tranquilidade que eu não tinha até então para me dar toda a força necessária para continuar nessa luta na corrida que a minha vida”, falou o campeão à época.

Em 1990, Ayrton Senna se tornou bicampeão mundial. Dias inesquecíveis. Histórias quase que inacreditáveis e uma carreira Impecável. Como não se lembrar da vitória no Grande Prêmio do Brasil, em 1991? Fábio Seixas conta as suas lembranças desta corrida.

“Eu estava lá em Interlagos, em 1991, como torcedor. No momento em que ele vence a prova, Interlagos explode em emoção, em comemoração. Foi um negócio de de conquista de Copa do Mundo até a hora que ele para o carro, e ele parou o carro exatamente na minha frente. Aí teve a invasão de pista, gente que conseguiu eh rasgar o alambrado e passar para a pista, né? Todo mundo lembra daquela daquela festa, dele saindo do carro, depois a gente ficou sabendo da quebra do câmbio, que ele fez aquelas últimas voltas apenas com uma sexta marcha”, disse. Naquela mesma temporada de 1991, o tricampeonato mundial.

A McLaren Ficou pequena para o melhor do mundo. A parceria entre Ayrton Senna e Williams começou justamente naquele triste ano de 1994. Senna tinha disputado três corridas até o Grande Prêmio de Ímola. Naquele fim de semana na Itália, o piloto brasileiro Rubens Barrichello sofreu um grave acidente. Um dia depois foi a vez do austríaco Ratzenberger, que acabou falecendo. O clima era estranho em Ímola. Nada parecia no lugar. Até que aconteceu o que ninguém gosta de lembrar.

Legado

Senna não foi apenas um piloto vitorioso na Fórmula 1. Exemplo também fora das pistas, ele é reverenciado no mundo todo, como conta o correspondente do Grupo Bandeirantes na Europa Felipe Kieling.

“Frequentemente quando eu estou fora do país e falo que eu sou brasileiro é comum as pessoas falarem: Pelé, samba e também Ayrton Senna. No mundo do automobilismo, então, nem se fala. Acompanhando alguns GPs in loco, sempre vi pessoas usando o famoso boné do Senna”, relatou.

Mesmo após 30 anos da sua partida, o legado continua inspirando os amantes da velocidade.

“O que eu acabo me inspirando no Senna é a determinação dele, o comprometimento com aquilo que ele faz. Ele era extremamente focado, dedicado e eu acho que esse ensinamento do Senna a gente pode usar no nosso dia a dia, naquilo que a gente for fazer, ter muito foco, muita disciplina, muito trabalho e dedicação”, explica Kieling.

Nas manhãs de domingo sua ausência é sentida, mas seu espírito continua a guiar e inspirar pilotos e fãs ao redor do mundo.

“Senna faz parte dessa geração, dessa transição de pilotos para pilotos-atletas e eu acho que o o que ele deixou para nós foi uma obstinação, uma devoção, uma dedicação total aquilo que ele fazia, que era o automobilismo”, complementa Sérgio Maurício.

Três décadas depois, Senna continua sendo o espalho de pilotos. Lewis Hamilton tem Ayrton como ídolo.

Há 30 anos, todos nós morremos um pouco na curva Tamburello. Mas Ayrton Senna, de alguma forma, segue vivo dentro de nós.

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