Eduardo Martini, um dos nomes do teatro brasileiro, conversou com exclusividade com Danilo Gobato no programa "Do Bom e do Melhor", da Rádio Bandeirantes. O ator, dançarino e diretor, que possui uma carreira de mais de 40 anos, revelou detalhes sobre a tarefa de interpretar Clodovil Hernandes, figura polêmica e multifacetada, em seu espetáculo "Clô, pra Sempre".
Durante a entrevista, Martini falou sobre a importância de seu trabalho ser autêntico e alcançar diretamente o público. Ele destacou que, tanto em comédias como "Cá, entre nós", que divide o palco com Suzy Rêgo e Cristiana Oliveira, quanto em dramas, seu objetivo é sempre se conectar profundamente com a plateia, criando um diálogo sincero e tocante. "A gente faz um teatro para de fato alcançar o espectador, a plateia, conversar diretamente", afirmou.
Martini compartilhou que o projeto "Clô, pra Sempre" nasceu de sua admiração por Clodovil e da vontade de explorar a complexidade de sua vida e personalidade. A peça aborda episódios dolorosos da vida do estilista e apresentador, como o abandono pelos pais biológicos e adotivos, e os abusos sofridos.
Segundo o artista, essa abordagem honesta e sem julgamentos permite que o público veja Clodovil como ele realmente era. "Eu fiz um espetáculo contando a vida do Clodovil sem criticar e sem defender", explicou.
A caracterização de Clodovil tem sido amplamente elogiada pelo público, que se impressiona com a semelhança: "Procurei o máximo tentar esses cabelos loiros, essa história toda, porque eu gosto da realidade do cognitivo das pessoas", comentou.
Para o ator, é essencial entender e transmitir o comportamento dos personagens que interpreta, aprendendo com eles e, ao mesmo tempo, ensinando algo à plateia.
O intérprete ainda descreveu como a determinação e a ousadia de Clodovil influenciaram sua própria trajetória e o ajudaram a crescer tanto pessoal quanto profissionalmente. "A coragem de assumir coisas, de falar coisas, a coragem de ter atitudes... isso me mudou muito", confessou.
O ator também mencionou a responsabilidade que sente ao representar alguém que já não está mais aqui para se defender das críticas e mal-entendidos. Ele lembrou das acusações injustas que Clodovil enfrentou após sua morte e enfatizou a importância de respeitar a memória das pessoas.
Eduardo Martini compartilhou momentos pessoais que o aproximaram ainda mais de Clodovil e afirma: "Ele era um cara muito genial, ele era delicadíssimo comigo".
Sobre o processo de construção do personagem, Martini revelou que passou por momentos intensos de estudo e preparação, buscando capturar não apenas a aparência, mas também a essência de Clodovil.
Ele contou que, ao se ver interpretando Clodovil pela primeira vez, sentiu uma conexão tão forte que o levou às lágrimas. "Parecia que o Clodovil estava do meu lado", disse emocionado.
O artista enfatizou que sua interpretação de Clodovil é um trabalho sério e respeitoso, longe de qualquer caricatura. "O Clodovil não é uma comédia. Eu não estou usando peruca, eu estou fazendo um ser humano, uma persona que já existiu", explicou, sublinhando a profundidade e a responsabilidade envolvidas em seu trabalho.
O espetáculo “Clô, pra sempre”, é um monólogo escrito por Raphael Gama sobre a vida e a obra do estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandes (1937-2009). A peça está em cartaz aos sábados no Teatro União Cultural.