A história de Tiradentes e o movimento político dele mudaram o destino do Brasil. Na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo, Minas Gerais, a alta cúpula do Palácio do Governo se reunia para rezar. Bem pertinho, uma das maiores construções coloniais chama atenção.
Por mais de 100 anos. o edifício foi a sede do Colégio Dom Bosco, onde estudaram figuras importantes da história no passado. O prédio abrigou a sede do Regimento de Cavalaria. Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, serviu lá. Ele nasceu na fazenda do Pombal, município de Itápolis, era um dos sete filhos e o proprietário rural português que se dedicava a mineração.
Aos nove anos, Joaquim perdeu a mãe, aos 11, o pai. Foi criado pelo padrinho dentista Sebastião Ferreira Leite. Por isso, aprendeu detalhe por detalhe da profissão.
“Ele conhece as plantas medicinais e as plantas que diminuem a dor. Ele tinha muita habilidade na arte de tratar dos dentes. A gente não pensa nisso hoje, mas imagina o que que deve ser você sentir dor de dente no século XVIII, como dentista ele tinha livre acesso a todas as classes sociais. Ele tratava as pessoas mais simples, ele tratava escravos, ele tratava as prostitutas, ele andava nos bordéis falando com as pessoas, sempre proclamando esse ideal de libertação da capitania”, conta a historiadora Heloisa Starling.
Falava com todos
Joaquim também foi tropeiro, comerciante, minerador, farmacêutico e mais tarde seguiu a carreira militar. Virou um comandante da Patrulha do Caminho Novo, estrada que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro.
Por onde passava tinha o respeito de todos.
“Antigamente a gente aprende a que ele líder. Ele não era líder. Era o melhor propagandista que alguém que se mete em uma conspiração pode ter, porque ele comprou as ideias na íntegra, ele acreditava naquelas ideias”, afirma Starling.
Na casa dele, um detalhe chama atenção. “Ele andava falando, só que nenhuma das pessoas para quem ele convidou participar do movimento rebelde de Minas Gerais o delatou”, diz o historiador André Figueiredo Rodrigues.
Delação
Quem dedurou os revoltosos foi Joaquim José Silvério dos Reis que achou que podia trocar o perdão da dívida dele com a Corte por uma delação.
Depois disso, Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, levado para Ilha das Cobras, onde hoje fica o Hospital Militar da Marinha. Ele deu três depoimentos. Mas Tiradentes chegou a ser esquecido no cárcere. Só 14 meses depois, ele fez um quarto depoimento, dessa vez para o juiz da Devassa do Rio e de Minas.
“Nesse quarto depoimento, após tomar ciência do que os outros haviam falado, que ele assumiu o crime. Ele bate no peito literalmente e diz que ‘eu sou inconfidente, eu propus um projeto de libertação da capitania de Minas Gerais’”, afirma André Rodrigues.