Para historiadores, queda de Jango foi selada após recusar repúdio ao comunismo

Presidente deposto pelos militares, João Goulart tinha um comprometimento político com o sindicalismo e reformas progressistas

Da redação

O golpe de 1964 não aconteceu de uma hora para outra. Quando João Goulart, o Jango, assumiu a presidência da República, em 1961, o país já vivia um clima de grande polarização política. Aliás, o planeta, no auge da Guerra Fria, pulsava a tensão entre Estados Unidos e então União Soviética.

Jango chegou ao poder para substituir Jânio Quadros, personagem controverso da política brasileira, que renunciou ao cargo apenas sete meses depois de empossado.

Jango tinha um comprometimento político com o sindicalismo brasileiro. Por outro lado, a ideia de algumas reformas de base e a ascensão de movimentos sociais de operários, camponeses e estudantes eram vistas como ameaça pelas forças conservadoras. Cada vez mais pressionado, o presidente era acusado de ser comunista.

“Foi montada uma conspiração, uma rede conspirativa que reuniu militares, grandes empresários, empresas multinacionais, imprensa, para desestabilizar o governo de João Goulart”, pontuou a historiadora Heloisa Starling.

Para piorar a situação, o Brasil vivia uma enorme instabilidade econômica, sucessivas greves e inflação nas alturas.

Atuação dos EUA

O governo americano, que financiava tanto políticos como grupos conservadores no brasil, acendeu o farol vermelho. Achava que Jango caminhava perigosamente para a esquerda. Não deu outra e juntou tudo ao mesmo tempo.

Era dia 31 de março de 1964, quando tropas lideradas pelo general Olímpio Mourão Filho saíram de Juiz de Fora (MG) rumo ao Rio De Janeiro, onde Jango despachava no Palácio das Laranjeiras. Rapidamente, o movimento golpista ganhou força e em 1º de abril. A maior parte do país já estava sob controle militar.

Jango recusou repudiar o comunismo

Para alguns historiadores, o destino de Jango foi selado por um amigo e homem de confiança. O general Amaury Kruel, então comandante em São Paulo, sugeriu ao presidente que repudiasse o comunismo, na tentativa de frear a conspiração. Com a recusa, o militar aderiu e foi fundamental para o andamento do golpe de Estado.

Acuado pela conspiração em andamento, Jango deixou o Rio De Janeiro para tentar apoio em Brasília, o que não aconteceu.

No dia 2 de abril, Jango seguiu para Porto Alegre, também para tentar alguma ajuda, mas, com o avião ainda no ar, o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, tomou um passo decisivo para a concretização do golpe. Declarou vaga a presidência da República porque, segundo o parlamentar, “o senhor presidente deixou a sede do governo”.

O presidente do Senado encerrou a sessão rapidamente. Não houve debate. Nem mesmo houve tempo para isso. Não havia chance para discussão.

Novo presidente

Nome de consenso entre os militares, o novo presidente do Brasil passou a ser o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Ele toma posse com apoio da classe média e de grande parte da imprensa.

Em cerimônia transmitida pelo rádio para todo o país, o marechal prometeu passar o poder para aquele que ganhasse as eleições diretas de 1965. Nunca aconteceu essa eleição. Depois dele, vieram mais quatro presidentes militares escolhidos sem nenhuma participação popular.

Entre censuras e torturas

Aquele 1º de abril marcou o início de um dos períodos mais soturnos da nossa história. Foi uma época marcada pela luta armada, atentados, perseguições, censura, exílios, tortura... Foram 21 anos de autoritarismo, até que o Brasil voltasse a ter liberdade e democracia.

“Nós precisamos voltar ao passado e conhecer essa história para que a gente possa construir um repertório para o presente. Conhecer o golpe de 64 é um ótimo caminho para que a gente possa pensar a democracia que nós queremos no Brasil”, concluiu Starling.

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