No fim do século 18, a sociedade reuniu médicos, boticários e poetas que debatiam o bem comum e eram simpáticos aos ideais republicanos.
Obras de Montesquieu, Voltarie, Rosseau faziam parte do dia a dia da sociedade literária do Rio de Janeiro. As obras, que possuem mais de 250 anos, estão guardadas na biblioteca nacional.
“A palavra democracia assusta? A noção de democracia como as noções de igualdade e liberdade assustava muito a coroa e também as autoridades”, explica o historiador Gustavo Henrique Tuna.
Obras de correntes iluministas eram proibidas de circular no Rio de Janeiro e também em Portugal. Elas eram consideradas incendiárias. E para espalhar a ideia de liberdade tinha que ser no boca a boca.
Muitas informações passavam de um morador para o outro nas boticas. Enquanto as pessoas iam esperar o preparo de um medicamento ou retirar algum pedido, elas dividiam as informações que liam nos livros.
“A partir de um determinado momento, elas fazem um passo adiante e algumas dessas boticas fecham a partir das 6 da tarde. Ai eles fazem reuniões para começar conceber uma revolta no Rio de Janeiro”, conta a historiadora Heloisa Starling.
O principal personagem dessa história é o poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga. Ele era professorar e em casa tinha uma das maiores bibliotecas da colônia, com quase 600 livros. Entre eles, muitas obras proibidas pela coroa.
“Ele é o professor também da geração que vai fazer a Independência do Brasil. Então, tem uma relação muito forte entre o Silva Alvarenga, essas ideias e o projeto de Independência”, diz Heloisa Starling.
Ousado, ele era o grande articulador. Quando seus bens foram confiscados, a coroa encontrou uma série de livros proibidos e clandestinos. Confrontado, Maneul dizia ter comprado o livro sem saber do que se tratava.
Mas ele não foi o único a negar de pé junto que não sabia de nada sobre livros e revolução. Nessa história tem um personagem que era chamado de “Passageiro Bonito”, que vivia em praça pública falando mal da corte, mas quando foi chamado para depor, ele disse que nunca tinha feito isso.
“Era um indivíduo chamado Antônio Gonçalves dos Santos. Ela parece muito nos autos elogiando o governo republicano francês dizendo que seria muito bom que uma revolução francesa acontecesse na cidade do Rio de Janeiro”, conta o historiador Bernardo Gerude.
Não demorou muito para que os integrantes da sociedade literária fossem enquadrados. Tanto que o vice-rei do Estado do Brasil, o Conde Resende, mandou fechar a sociedade literária e prender os principais participantes. Eles foram acusados de subversão e foi aberto um processo de devassa.
Enquanto o processo andava, eles ficaram presos na fortaleza do Morro da Conceição. Todos os envolvidos com a sociedade literária ficaram na cadeia por mais de dois anos, mas por falta de provas foram liberados.
Parte dos historiadores diz que a Conjuração do Rio de Janeiro nunca pensou em tomar o poder. O que os estudiosos queriam mesmo era batalhar por mudanças e que o movimento se restringiu apenas ao campo das ideias.