Inteligência artificial é aliada ou vilã da educação? Especialistas avaliam uso

Chat GPT e outros programas já influenciam alunos na sala de aula, mas devem ser usados com moderação dos professores

Por Luiza Lemos

Chat GPT já é usado por alunos
Reprodução/Freepik

A inteligência artificial chegou impactando os mais diversos setores, causando mudanças no modo de utilizar a tecnologia, em consumir informações e até na produção de conteúdo. Na educação, não é diferente.

O Chat GPT, programa de I.A que gera textos a partir de pedidos do usuário, causou preocupação em pais e professores após alunos começarem a usar o sistema para realizarem tarefas. Com as novas descobertas a partir da inteligência artificial, profissionais da educação se questionam em como a I.A irá afetar o aprendizado dos alunos. 

Alimentada pelo conteúdo da internet, a inteligência artificial generativa, que gera textos ou imagens, pode ser afetada pelo viés do conteúdo que utiliza para dar a resposta ao usuário. Alex Paiva, head de produtos do Educacional, da Positivo Tecnologia, diz que o Chat GPT puramente não pode ser totalmente a base para o aprendizado justamente por essa razão, mas que o professor pode utilizar a partir do cunho educacional. 

“A I.A coleta milhões de dados, é a internet inteira, que está cheia de coisas ruins que permeiam a internet. Dependendo do comando apresentado, não irá dar respostas nos padrões de educação. Quando você utiliza ele, está sujeito a perigos do tipo de informação recebida e exposição da privacidade perante ao sistema”, avalia. 

Outro sistema, que gera imagens, também pode afetar as pesquisas dos alunos, segundo Leticia Lyle, pedagoga e diretora da Camino School. “Quando usamos o Dall-e, por exemplo, quais são os estereótipos que estão presentes nas imagens geradas? Ao solicitar uma foto de uma pessoa poderosa, por exemplo, quais são as escolhas que o modelo irá tomar em relação à raça e gênero da pessoa retratada?”, questiona.

Alunos já utilizam plataformas para tarefas e atividades | Reprodução/Freepik

Mesmo com os problemas, há alunos que utilizam a I.A para aprender e realizar tarefas. Por isso, na visão de Leticia, o momento é de descobrir o impacto desse tipo de sistema na sala de aula. “Adultos, crianças e adolescentes estão, ao mesmo tempo, descobrindo as novas ferramentas, possibilidades e até preocupações que surgem com o avanço da tecnologia. É preciso discutir principalmente o uso seguro desses sistemas e como usá-los sem demonizar ou restringir o uso por parte dos alunos”, explica. 

Leticia avalia que mesmo com trabalhos sendo feitos a partir de comandos dados a inteligências artificiais, o professor consegue identificar que o aluno tentou utilizar ‘um atalho’ e pode intervir na sala de aula. “Os docentes acompanham o desenvolvimento dos estudantes, principalmente por avaliações, então identificar a I.A não é um problema. Conhecendo o padrão de produção, é possível identificar o que foge do padrão”, pontua. 

“É importante ressaltar que a questão tem mais a ver com como utilizamos as ferramentas do que com a questão de utilizá-la ou não”, diz Leticia Lyle. 

Apesar dos riscos, proibir o uso pode atrapalhar o processo de aprendizado

Proibir o uso pode atrapalhar rotina em sala de aula | Reprodução/Freepik

Alex Paiva, que não recomenda o uso de Chat GPT pelos alunos, pensa que o uso das plataformas é um caminho sem volta. “É como a calculadora, quando chegou, foi uma transformação. A I.A otimiza processos e pode aumentar o potencial do professor, causando uma constante transformação”, diz. 

O processo de aprendizado, principalmente da geração atual de alunos, que nasceram no mundo digital e com o poder de pesquisa a partir de um clique, está em constante transformação. Para Andressa Luzirão, educomunicadora e presidente do Instituto Devir Educom, o professor agora se torna mediador entre as informações on-line e a sala de aula. 

“É da natureza humana estar com o outro, o professor precisa entender que não é detentor do conteúdo, ele é mediador, facilitador e provoca a construção do conhecimento. Ele também aprende com o aluno”, aponta Andressa Luzirão 

Andressa pontua que os docentes não tenham medo do Chat GPT ou das inteligências artificiais que estão surgindo. “Precisamos tirar o medo dessas ferramentas, para poder desenvolver processos seguros de aprendizado. Por isso, é preciso desenvolver o pensamento crítico no aluno, para que ele tenha bom senso e saiba encontrar o conteúdo correto a partir de várias referências e não apenas do Chat GPT ou qualquer outro sistema”, indica. 

Leticia Lyle, diretora da Camino School, dá um exemplo de como a inteligência artificial pode ser utilizada como aliada do professor. “Onde o uso de I.A já esteja acontecendo, é possível aproveitar o interesse no programa propondo atividades com o uso dele, onde além do resultado, serão avaliadas as interações com a I.A. Como identificar pontos de melhoria e até como elaborar bons comandos”, diz. 

Inteligência artificial já é aliada do professor 

Professor pode transformar I.A em aliada | Reprodução/Freepik

Caso seja bem usada, a I.A já pode ser aliada dos docentes em sala de aula. Além dos usos com programas abertos, como o Chat GPT e Dall-e, há produtos vendidos especialmente para escolas atualizarem as formas de ensinar. 

O Ecossistema Educacional, que une tecnologia com educação, já traz uma solução para os professores que temem a inteligência artificial na sala de aula. Alex Paiva cita que a I.A chegou para otimizar certos processos da educação. “Aqui temos tutores inteligentes, que, com regras educacionais, a I.A faz o aluno pensar nas etapas para chegar na resposta e não apenas com a resposta, como o Chat GPT faz”, diz. 

Para auxiliar o professor em identificar falhas no aprendizado do aluno, a inteligência artificial pode ser grande aliada, como indica Alex. “Há produtos que dão essa clareza, mostram as habilidades que a criança tem, onde está indo e o que precisa fazer para melhorar e recuperar a perda na aprendizagem, por exemplo”, pontua. 

Outro uso por parte dos professores é para dar feedbacks e avaliar o aluno amplamente, como pontua Leticia Lyle. “Muitas vezes o professor não tem tempo para dar um feedback individualizado. Com comandos bem elaborados, podemos ter modelos que funcionam como primeira camada de feeback”, explica.

Criatividade do professor será essencial no futuro

Como em todo setor em transformação, a educação também precisa ter criatividade na hora de utilizar a inteligência artificial. “A escola não tem mais aquele ensino onde o professor é a figura central. É um debate e pensar diferente é necessário neste momento de transformação. Criatividade será a regra do futuro”, avalia Alex Paiva. 

Andresa também avalia que a criatividade é essencial para os professores. “São inúmeras possibilidades, temos muito a resolver na educação, sendo preciso ter resiliência e criatividade na hora de usar a inteligência artificial para desenvolver os alunos”, pontua. 

Com os avanços na I.A, o professor não será substituído, mas pode ter o papel transformado na sala de aula, na avaliação de Leticia Lyle. “Acredito que quando utilizada corretamente, a IA pode ajudar professores e, talvez no futuro, estejamos ensinando sobre tópicos que talvez nem existam hoje, mas ainda vejo isso acontecendo em um processo que envolvem trocas e relações humanas, elementos fundamentais para nosso processo de aprendizagem”, indica. 

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