Indígenas do Vale do Javari são nomeados para equipe de transição de Lula

Irmãos Beto Marubo e Eliésio Marubo, coordenadores da Univaja, vão integrar o GT Povos Originários

Da Redação

Vale do Javari é marcado por violência e conflitos frequentes na Amazônia
Reprodução / Univaja

Os irmãos Beto Marubo e Eliésio Marubo, coordenadores da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), foram nomeados para integrar o Grupo de Trabalho sobre Povos Originários da transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. As nomeações estão em portaria publicada nessa quinta-feira (1º).

O Vale do Javari concentra a maior quantidade de etnias isoladas do mundo - são 16 registros. Lá foram executados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, em crime de grande repercussão internacional. Os conflitos na região, com crimes de mando, são uma questão das mais sensíveis atualmente, com alta tensão e risco de morte na Amazônia.

Uma das sugestões apresentadas pelos indígenas é a criação de um núcleo na PF (Polícia Federal) para atuar na proteção de povos isolados, por períodos de tempo determinados, em regiões com alta tensão, à semelhança do que faz a Força Nacional de Segurança Pública. A ideia é que policiais federais fiquem na região e atuem na repressão e investigação de crimes que levem ameaças à vida nos territórios dos isolados.

O grupo temático também inclui lideranças de etnias e parlamentares indígenas, como Joênia Wapichana (Rede-RR), Sônia Guajajara (PSOL-SP), Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP), e os ex-presidentes da Funai Márcio Meira e João Pedro Gonçalves da Costa. 

Vale do Javari

A terra indígena Vale do Javari, região onde foram mortos Dom Phillips, jornalista britânico do The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, tem histórico de violência e conflitos frequentes da Amazônia.  

Com uma área de 8,5 milhões de hectares demarcada, é considerada a segunda maior terra indígena do Brasil, atrás apenas do território Yanomami, com seus 9,4 milhões de hectares.  

O Vale do Javari faz fronteira com Peru e a Colômbia, e também é conhecida por ter a maior população de povos isolados do mundo.  

A região fica no extremo oeste do estado do Amazonas e lá vivem povos como Mayuruna/Matsés, Matis, Marubo, Kulina Pano, Kanamari, além dos pequenos grupos Korubo e Tsohom Dyapá — ambos de recente contato.

Segundo o relatório Cartografias das Violências da Região Amazônica, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Vale do Javari é hoje palco de disputas e é controlada por uma facção local chamada "os Crias", que é uma dissidência da Família do Norte (FDN), maior e mais conhecida.  

Desmatamento, garimpo ilegal e domínio de rotas do tráfico de drogas são algumas das atividades criminosas mais comuns realizadas por essas facções nessa área, segundo aponta o relatório divulgado em fevereiro deste ano.  

Além dos conflitos por problemas externos ao território, há também desentendimentos internos entre os povos indígenas, sobretudo envolvendo os isolados, por espaço de terra.  

Em setembro de 2019, época em que trabalhava no Vale do Javari, Maxciel Pereira dos Santos foi assassinado em Tabatinga, no Amazonas. Ele dirigia uma motocicleta quando foi baleado com dois tiros na cabeça. O crime ainda não foi solucionado.

Dados de 2020 do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) estimam que o Vale do Javari é habitado por 26 povos com uma população de 6.317 habitantes.

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