A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) disse na CPI da Pandemia que enviou no dia 19 de junho de 2020 uma nota técnica à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde a compra de 240 milhões de doses para combater a pandemia. À época, ainda não existia a informação de que alguns imunizantes exigiriam a aplicação de duas doses nas pessoas.
O documento, segundo ela, falava ainda na compra mínima de 140 milhões de doses, no caso de impossibilidade de aquisição de 240 milhões, para ao menos diminuir o número de mortos pela Covid-19.
O governo comprou inicialmente 100 milhões de doses da AstraZeneca, em parceria com a Fiocruz, e 42,5 milhões junto ao consórcio Covax Facility, da OMS. No final de 2020, o Ministério da Saúde assinou um contrato com o Butantan após pressão da opinião pública. Ao todo, foram compradas 188,5 milhões de vacinas que precisam de duas doses para completar a imunização, ou seja, capacidade para atender 94,25 milhões de brasileiros. O número é 45,75 milhões menor do que o mínimo pedido pelo PNI para diminuir o número de mortes.
Se considerado o pedido de 240 milhões de doses, para voltar à normalidade e sair da pandemia, o déficit é ainda maior e chega a 145,75 milhões.
Apenas pelo consórcio Covax, o governo poderia ter optado por um contrato para vacinar metade da população, com 211 milhões de doses, mas preferiu o acordo que atende apenas 10% dos brasileiros, com 42,5 milhões.
A CPI mostrou também que foram ignorados ao menos 81 e-mails da Pfizer com propostas de 70 milhões e 100 milhões. Pazuello também rechaçou várias propostas do Instituto Butantan, a primeira delas de junho de 2020 seria para 60 milhões de doses.
Uma das justificativas para a demora do acordo com a Pfizer seriam cláusulas do contrato, mas a empresa demonstrou que as condições eram as mesmas para todos os países do mundo, só alterando o valor da vacina de acordo com as negociações. A necessidade de manter o imunizante em congeladores com baixa temperatura também foi apontada como um obstáculo, mas a ex-coordenadora do PNI afirmou que esse não era um problema impeditivo e que a nota técnica aceitava toda e qualquer vacina segura, eficiente e aprovada pela Anvisa.
Em 2021, após a segunda onda da Covid-19, o governo ampliou as compras de vacinas e hoje já tem a contratação de 662,5 milhões de doses, que ultrapassa até o pedido máximo inicial do PNI. Dessas, 144 milhões já foram distribuídas pelo Ministério da Saúde, sendo que 110 milhões já foram aplicadas nos braços da população.
A ex-coordenadora disse que faltou vacina e comunicação no programa brasileiro. "O programa não teve doses suficientes para executar campanha, porque campanha é um conceito bem definido, tem que ter uma data de início e uma data final. Nós ainda estamos em fase de campanha, então eu falei que não teve dose suficiente e nem campanha publicitária. Todo programa de vacinação precisa disso", afirmou ela aos senadores.
Ela pediu demissão recentemente por razões pessoais e por causa da politização da gestão da pandemia.