Glitter prejudica crescimento de organismos-chave para oceanos, aponta estudo

Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP avaliaram os efeitos de cinco concentrações de purpurina em duas linhagens

Da Redação

Glitter
Reprodução/Pexels

Presença constante em fantasias e maquiagem de carnaval, as partículas de glitter podem comprometer o crescimento de organismos que constituem a base de ecossistemas aquáticos, como as cianobactérias, que têm papel fundamental para os ciclos biogeoquímicos da água e do solo e na alimentação de outros organismos. A conclusão é de um estudo da Universidade de São Paulo (USP) publicado recentemente na revista Aquatic Toxicology.

Também conhecidas como purpurina, as partículas de glitter são microplásticos com menos de cinco milímetros. O tamanho reduzido impede que sejam filtradas pela rede de tratamento de esgoto. 

Por exemplo, quando os foliões tomam banho, elas escorrem diretamente pelo ralo e se espalham por praias, sedimentos, florestas, lagos e oceanos. É estimado que, nos últimos anos, mais de oito milhões de toneladas do material foram lançadas no oceano, de acordo com a literatura científica atual.

Por não ser biodegradável, o glitter entra em contato com os organismos aquáticos e afeta todo o ecossistema à sua volta. Essa exposição pode acontecer de diversas formas, como ingestão, contato com subprodutos tóxicos ou danos e ferimentos causados pelas bordas afiadas das partículas. 

Em estudo conduzido no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (Cena-USP) com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), pesquisadores avaliaram os efeitos de cinco concentrações de partículas de purpurina não biodegradáveis em duas linhagens de cianobactérias, Microcystis aeruginosa CENA508 (unicelular) e Nodularia spumigena CENA596 (filamentosa), que são responsáveis por formação de florações em corpos d’água. Ambas fazem parte da coleção de quase 800 linhagens coletadas no país pelo grupo Cyanos. Durante 21 dias, a taxa de crescimento celular das cianobactérias foi medida a cada três dias por meio de espectrofotometria (medição de densidade óptica).

“Conseguimos observar que as doses crescentes de glitter aumentam o biovolume das células de cianobactérias, fazendo com que passem por processos de estresse que comprometem até mesmo a fotossíntese, o que destaca a toxicidade pouco explorada do glitter em microrganismos”, afirma Mauricio Junior Machado, autor do estudo e pesquisador do Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Cena-USP. “Vale lembrar que, se algo afeta as cianobactérias diretamente, então indiretamente afetará outros organismos do mesmo ambiente”, acrescentou.

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