Diário de Guerra: um ano depois da invasão da Rússia, Ucrânia ainda resiste

Repórter Yan Boechat mostra como está Kiev um ano depois do início da guerra; 300 mil ainda esperam por prótese

Por Yan Boechat

Um ano depois do início da guerra, os ucranianos já se acostumaram a viver em constante estado de alerta. Para o conflito que já deixou milhares de mortos não existe nenhuma negociação de paz à vista. 

O repórter Yan Boechat acompanhou na Ucrânia as primeiras batalhas e está de volta ao front. Foi o único repórter brasileiro na região do Donbass (veja no vídeo acima)

É a primeira reportagem da série "Diário de Guerra - um ano depois", que o Jornal da Band exibe esta semana.

O sol ainda não havia nascido na manhã do dia 24 de fevereiro do ano passado quando os primeiros mísseis cruzaram os céus da Ucrânia. Enquanto o pais era bombardeado, tropas russas cruzavam a fronteira pelo Norte, pelo Sul e pelo Leste. Começava naquela madrugada gelada o maior conflito armado da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

“Acabou de amanhecer, a gente foi acordado pelo som das bombas que caíram aqui perto”, relatou Yan Boechat ao Jornal da Band. “A gente pode ver bastante destruição aqui, a destruição está na parte superior do prédio”.

Um ano depois, pouca gente sabe como e quando tudo isso irá terminar. A única certeza, por enquanto, é que mais destruição, mais sofrimento e mais morte estão a caminho.

A Rússia, uma das maiores potências militares do planeta, não conseguiu subjugar a Ucrânia em poucos dias como acreditava ser possível. E a Ucrânia, com o apoio dos países da Otan, em especial dos Estados Unidos, infligiu derrotas importantes à Rússia e ao longo do ano recuperou parte dos territórios que havia perdido no início da guerra. 

Em um hospital em Lviv, no oeste do país, 300 pessoas aguardam para receber uma prótese como as que os soldados Taras e Andriy estão usando. Os dois perderam as pernas ao atravessar um campo minado na região do Donbass. 

"Nós estávamos buscando uma posição segura para nossa artilharia e então passamos por uma mina antitanque", diz o soldado Andriy.

Ninguém sabe ao certo quantas pessoas como Andrei já se feriram nessa guerra, quantos homens como ele já perderam a vida. Ambos os lados apresentam números com discrepâncias inconciliáveis. Rússia e Ucrânia dizem ter perdido menos de 20 mil soldados e, ao mesmo tempo, garantem ter eliminado mais de 150 mil homens de cada lado. 

A verdade repousa silenciosa nos cemitérios, como esse em Dnipro, na Ucrânia, ou tantos outros espalhados pela Rússia. Aqui as sepulturas nunca param de ser abertas e as bandeiras trazem alguma cor a esse inverno quase sempre cinza.

O sol, quando brilha, faz parecer que a guerra é só um pesadelo distante. 

Caminhar pela principal avenida de Kiev lembra os dias que antecederam a guerra, que ninguém acreditava que algo poderia acontecer aqui. 

No dia 15 de fevereiro de 2022, Yan Boechat relatou um cenário de tranquilidade na capital da Ucrânia ao Jornal da Band: “Boa noite a todos que estão nos assistindo. Kiev teve um dia muito tranquilo como tem sido nos últimos dias. A cidade segue a vida normal, os bares estão abertos, os supermercados estão abertos e com fartura de produtos para oferecer aos ucranianos".

Mas a guerra já dava seus sinais. “As sirenes acabaram de tocar agora novamente. A gente ouviu que os tanques estão muito próximos de onde a gente está”.

Hoje, os tanques viraram atração turística aqui em Kiev, a guerra está longe, e a vida nessa cidade, tão bonita quanto Kiev, voltou a uma estranha normalidade, está tudo aberto, todo mundo caminhando pelas ruas, mas a vida aqui pode mudar em uma fração de segundos

Alexander, morador de um prédio bombardeado em Dnipro, relata: 

“Quando a explosão acontece você não consegue reagir a nada. E então quando você sai, as coisas são ainda piores. O fogo, a destruição, os corpos. E você percebe que aqueles que te deram bom dia pela manhã já não existem mais".

Era um sábado tranquilo quando o míssil atingiu o prédio em que Alexander viveu pelos últimos 10 anos em Dnipro. Mais de 40 de seus vizinhos morreram em um dos piores ataques a civis dessa guerra.

“Eu me pergunto sempre, o que fazer agora, como seguir em frente. Porque eu não tenho ideia se eu vou ter um apartamento novo”, diz Alexander. “Eu não sei se serei recompensado pelo que perdi. Nessa guerra, novas tragédias acontecem a todo momento. Uma depois da outra. E logo se esquecerão da minha.”

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