Mesmo em ano de pandemia, cada um dos 55 vereadores de São Paulo recebeu, além do salário, mais R$ 217 mil em auxílio para gastos gerais. As informações são do Jornal da Band.
O salário dos vereadores paulistanos é de R$ 18.991,68. Além disso, eles recebem uma ajuda para gastos extras como assinatura de jornal, aluguel de carro, combustível, serviços gráficos...
A ajuda supera o valor do próprio salário. Cada um dos 55 vereadores recebe quase R$ 26 mil a mais todo mês, mas nem todos gastam o valor total, que em doze meses soma mais de R$ 310 mil. Quem economiza pode até devolver o que sobra aos cofres públicos no final do ano - o que raramente acontece.
No ano passado, por causa da pandemia, os vereadores de São Paulo tiveram um corte de 30% no salário e no auxílio entre maio e dezembro. Ainda assim, só de ajuda ao gabinete, cada um recebeu cerca de R$ 217 mil.
O vereador Adilson Amadeu (Democratas) mantém o hábito de gastar principalmente com correios. Em apenas três meses ele usou R$ 128 mil no envio de cartas.
“O dia que o Ministério Público ou a mesa diretora falar (sic) ‘você não pode usar', imediatamente eu paro. Daí eu vou me virar de porta em porta pedindo voto. Mas, até o momento, a verba é correta, eu posso usar e irei usar até o final", disse Amadeu.
"Eu acho que é um absurdo, inclusive, existir gastos com o correio hoje em dia. Porque hoje em dia, as câmaras, as assembleias no Brasil, há informações com detalhes suficientes sobre gastos ou sobre divulgação de mandato parlamentar, no próprio site do órgão”, opina Gil Castelo Branco, fundador da ONG Contas Abertas.
Já o vereador Camilo Cristófaro (PSB) gastou boa parte do dinheiro com o aluguel de duas câmeras, três lentes, um tripé e seis computadores. O equipamento foi alugado mensalmente por R$ 8 mil, totalizando R$ 96 mil no final do ano. Com esse valor dava para comprar ao menos ao seis câmeras iguais às alugadas.
A reportagem do Jornal da Band foi até o endereço da empresa que aparece nas notas fiscais, mas não encontrou ninguém. O prédio está para alugar, e nenhum vizinho conhecia a TS Imports.
A reportagem procurou Camilo Cristófaro. Por telefone, disse que não poderia atender e responder às perguntas.
Para Castelo Branco, falta controle interno de gastos nas casas legislativas e a sociedade precisa cobrá-los.
“Eu acho muito difícil que eles legislem contra a causa própria. Acho difícil que isso possa mudar, a não ser que com uma pressão muito grande da sociedade, é preciso que a sociedade fique indignada, que a sociedade cobre”, finaliza o especialista em contas públicas.