Dados de Bruno Pereira darão base a plano de segurança no Vale do Javari

Indigenista foi assassinado em 2022 por denunciar crimes na região

Da Redação, com Agência Brasil

Manifestante cobra informações sobre Bruno Pereira, em 2022
Ueslei Marcelino / REUTERS

A proposta do governo federal para garantir a segurança no perímetro do Vale do Javari, no Amazonas, deve coincidir com dados que constam de um plano elaborado pelo indigenista Bruno Pereira. A informação é do secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar.

Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do The Guardian denunciaram crimes na região e foram assassinados por isso, em junho de 2022. Para lideranças indígenas locais, os homicídios ainda não foram totalmente elucidados pela polícia.

O plano de Pereira foi citado nesta segunda-feira (27) em um evento realizado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). "Eu não tive acesso a essas anotações do Bruno Pereira, mas, certamente, a política e a diretriz do governo [federal], de dar centralidade nesse debate de segurança pública vai nos aproximar, porque os problemas são os mesmos, só aumentaram de tamanho", disse Alencar.

Policiais federais no porto de Atalaia do Norte, em 27/02/2023. Marcelo Camargo/Agência Brasil

Para o secretário nacional, a demora para implementar medidas na Amazônia é "crônica" e piorou significativamente durante período em que Jair Bolsonaro esteve no poder. "Isso era uma tônica do governo, de fragmentar a ação dos órgãos ambientais, por exemplo, a Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas] que, ao invés de proteger aqueles que defendem a causa indígena, viravam objeto de perseguição. Então, a gente está iniciando um tempo novo", disse Alencar.

A definição de ações no campo da segurança pública, enfatizou o secretário, requer, em primeiro lugar, uma compreensão sobre o contexto social da região. "Aqui na Amazônia é, talvez, a coisa que esteja mais estruturalmente pronta para a gente lançar em curto prazo", afirmou.

"O nosso foco na Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública] é crime organizado e aqui na Amazônia há essa sobreposição de criminalidades que eu acho que é, vamos dizer assim, um piloto robusto daquilo que a gente pretende fazer no Brasil", adicionou.

Alencar destacou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública tem como base a Força Nacional de Segurança Pública, que não tem um corpo permanente, mas que tem entre suas atribuições promover articulações, o que pressupõe que os encaminhamentos dependem da contribuição de outras esferas.

Na semana passada, mencionou, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, esteve com os secretários da Amazônia Legal, para alinhar o programa interinstitucional Amazônia Mais Segura (Amas), que vai envolver sete ministérios, agências reguladoras, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto de Conservação Chico Mendes (ICMBio).

"Tem muita gente já fazendo alguma coisa. Tem uma parte de estruturação, que é fundamental. Ela, isoladamente, não tem poder de tração, mas é indispensável, que é você equipar as forças de segurança. A gente ainda está vendo o sentimento do crime organizado, que, às vezes, desafia as autoridades do Estado brasileiro."

Os recursos para viabilizar as ações no Vale do Javari e o programa Amas, segundo o secretário, devem sair do Fundo Amazônia, um mecanismo de captação de recursos (doações) gerido pelo BNDES. O foco principal do fundo é garantir a prevenção, o monitoramento e o combate ao desmatamento na Amazônia Legal, além de implementar sistemas de monitoramento e controle do desmatamento no Brasil fora da Amazônia Legal e em outros países tropicais.

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