Homem preso identificado por foto de 10 anos atrás é solto em SP

Depois de uma batalha judicial, ele conseguiu a liberdade, mas ainda não superou os traumas da prisão

Por Maiara Bastianello

Uma foto 3x4 tirada há dez anos foi a prova que condenou injustamente o entregador de móveis Alexandre dos Santos. Depois de uma batalha judicial, ele conseguiu a liberdade, mas ainda não superou os traumas da prisão. Foram mais de seis meses de suplício.

“É comida azeda, banho gelado, tinha vezes que tinha 40, 45 na cela, fui tratado como bandido né?”, contou Alexandre. Ele estava de folga do trabalho cuidando dos filhos de 2 e 8 anos, quando foi preso. As crianças viram quando o pai foi tirado de casa sem saber por quê.

“Parou a viatura na minha frente e perguntou se eu era o Alexandre, o policial falou que tinha BO no meu nome”, disse. Alexandre foi preso preventivamente acusado de ter assassinado genro e sogro em um latrocínio em junho do ano passado.

Pai, filha e genro negociavam a compra de um carro pela internet e marcaram um encontro com a suposta vendedora. Ao chegarem ao local combinado, foram rendidos por três criminosos. Os dois homens foram baleados e não sobreviveram. A mulher conseguiu fugir.

O endereço do crime fica a cerca de 15km da casa de Alexandre, que foi reconhecido em um procedimento que não seguiu o previsto pelo código penal: a polícia apresentou à testemunha uma foto 3x4 dele preto e branca de dez anos atrás.

“A gente não sabe como eles chegaram ao Alexandre. Essa foto que aparece no inquérito é uma foto 3x4 que foi capturada dentro do sistema de identificação [da polícia]”, explica a advogada de defesa, Nathalie Guimarães.

Já na primeira audiência de instrução, a vítima não reconheceu Alexandre pessoalmente. Mesmo assim, ele continuou preso. Foi uma perícia feita no celular dele a pedido da defesa que provou a inocência: o histórico do aplicativo de localização mostrou que, além de estar em casa no momento do crime, Alexandre nunca sequer esteve perto do endereço. 

“Tudo o que a defesa fez, era um trabalho que a polícia podia ter feito no período da prisão temporária”, conta Nathalie. 

Absolvido pelo Tribunal de Justiça, Alexandre, que chegou até a perder o emprego, pode estar livre fisicamente, mas segue preso de outra forma, junto com a família toda. “Eu tive que passar por psicólogo, psiquiatra e vivo à base de medicamento”, disse Ana Carolina Barbosa dos Santos, esposa de Alexandre. “É muito sofrimento, é doloroso”, afirmou Alexandre. 

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