Um estudo de mestrado da economista Isadora Bousquat Árabe, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo, revela uma ligação entre violência doméstica e frustrações por resultados inesperados e negativos em uma partida de futebol, ou seja, quando o time que o agressor torce tem favoritismo, mas é derrotado.
Segundo o resultado da pesquisa, foi constatado que o número médio de boletins de ocorrência referentes a incidentes de violência doméstica, dentro de casa, aumenta em cerca de 7,5% quando ocorrem resultados frustrantes no futebol.
A pesquisa foi realizada com base nos dados de boletins de ocorrência em 737 municípios, sendo 645 cidades em São Paulo e 92 do Rio de Janeiro, entre 2015 e 2019. As informações foram cruzadas com o calendário de jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B; nesse período, 3,8 mil partidas foram realizadas.
“É um inferno em vida, é muito triste porque você perde sua identidade, você perde a sua vida, você vive para o abusador”, diz a vítima de violência doméstica, Andrea Gianini, que se considera uma sobrevivente de um relacionamento abusivo. Segundo ela, as agressões eram mais frequentes em dias de jogos de futebol.
“Ele era fanático por futebol, no dia de jogo a bebida associada a agressão e frustração fazia com que ficasse mais violento. Muitas vezes mandava eu calar a boca, não falar durante a partida, mas fazia questão que eu assistisse do lado dele”, disse a vítima. Ela lembra que uma vez o agressor colocou a mão em seu pescoço para que parasse de falar.
Em outro caso, o empresário Leonardo Ceschini confessou que matou a esposa, Érica Fernandes, após uma partida de futebol. Ele torce para o Corinthians, a vítima torcia para o Palmeiras. O crime aconteceu após a vitória do time alviverde na final da Copa Libertadores.
Esse fenômeno já era percebido pela delegada da Polícia Civil de São Paulo, Jaqueline Valadares, que atua em unidade de atendimento à mulher. “Infelizmente, o consumo de álcool associado à situação de maior estresse, por exemplo, como um jogo frustrado acaba fazendo aflorar uma violência que já existe ali”.
Em outro levantamento, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra um aumento de 24% das ameaças e de 21% em lesões corporais contra mulheres em dias de jogos.
“A vítima não deve se calar, deve pedir ajuda e que existe vida após abuso sim. Hoje eu sou uma pessoa que conseguiu reconstruir minha vida”, disse Andrea Gianini.
Atendimento psicológico na cidade de São Paulo
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) sancionou uma lei para que a cidade ofereça tratamento psicológico a mulheres vítimas de violência doméstica. A decisão foi publicada no Diário Oficial do município nesta terça-feira (3).
Um grupo de funcionários da prefeitura foi formado para propor ações que vão compor a lei. Segundo informações apuradas pela Band, cada Unidade Básica de Saúde deve ter uma equipe de psicólogos que vai atender as vítimas de forma semanal.
Porém, a prefeitura ainda não sabe se vai contratar profissionais ou se vai firmar parcerias com Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs), que já prestam serviço para as mulheres vítimas de violência doméstica. A administração tem até 90 dias para definir as ações do programa.