Enem reacende discussão do trabalho das mulheres 'que ninguém vê'

Tema da redação do Enem deste ano acendeu uma discussão sobre a diferença dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres

Por Norah Lapertosa

A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano teve como tema os "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho realizado pela mulher no Brasil" e acendeu uma discussão sobre a diferença dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres. 

As tarefas domésticas e atividades relacionadas ao exercício da maternidade, por exemplo, costumam exigir um esforço maior das mulheres, ou até mesmo a dedicação exclusiva e contínua. São trabalhos não remunerados que levam milhares de mulheres brasileiras à exaustão. 

Irani Dias se desdobra para dar conta das atividades de instrumentadora cirúrgica, assistente social e dona de casa, além de cuidar de quatro filhos. 

"A remuneração eu só tenho do trabalho da enfermagem, da instrumentação cirúrgica, na verdade. O restante do trabalho não é remunerado. Eu diria que se você for colocar no papel quanto ganha uma diarista (R$ 150 a R$ 200 por dia). A gente trabalha todos os dias, não tem fim de semana, não tem feriado, não tem nada. Por esse trabalho a gente não recebe nada, às vezes nem o agradecimento, nem o reconhecimento”, disse.  

Uma pesquisa recente mostrou que a ansiedade faz parte do dia a dia de seis em cada dez mulheres brasileiras, ao lado de estresse, irritabilidade, fadiga, insônia ou sonolência, tristeza e baixa autoestima. 

“Então a gente tem altos índices de ansiedade e depressão em mulheres, muito por conta dessa questão de buscar a manutenção financeira da família ao mesmo tempo do recurso do cuidado dentro de casa”, declarou a diretora da ONG Think Olga, Maíra Liguori. 

“É muito importante falar que a gente não tá aqui dizendo que as mulheres têm que parar de cuidar, inclusive muitas mulheres tiram muita realização desse trabalho, a gente não tá aqui para pregar isso. O que a gente está dizendo é que esse trabalho precisa ser distribuído, precisa ser compartilhado”, acrescentou. 

Porem, a discussão sobre a sobrecarga e a invisibilidade do trabalho feminino precisa ultrapassar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio. ‘

“Eu acho que para além de colocar no tema lá das faculdades, desse processo todo, continuar com o tema, resgatar isso, não ser só um tema de redação que a pessoa está desesperada lá na hora, vai ter que refletir para poder fazer, mas continuar pensando no assunto de você dar essa pauta mais vezes no âmbito da educação”, pontuou Irani Dias. 

Para a diretora da ONG Think Olga, quando um tema como o da redação do Enem desse ano ganha o mundo, “ganha o Brasil por meio da redação do Enem, a gente consegue ter essa conversa acontecendo em novos âmbitos, em novas esferas da sociedade”.

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