Anistia, mulheres com direitos e aceitação internacional: veja análise de entrevista do Talibã

Grupo adota tom moderado para frear pânico, mas não explica como lidará com conquistas femininas

Da Redação, com BandNews TV

Na primeira entrevista após a tomada do poder no Afeganistão, representantes do Talibã fizeram um pronunciamento sobre a situação no país nesta terça-feira (17) falando em “momento de orgulho e comemoração” após 20 anos de dominação americana.

Especialista na cobertura de conflitos no Oriente Médio, o repórter Yan Boechat, do Grupo Bandeirantes, analisou o “tom moderado” do grupo radical para o envio de três recados à comunidade internacional: 

- anistia total àqueles que lutaram contra o Talibã e colaboraram com os americanos durante a ocupação
- preservação dos direitos das mulheres “de acordo com a lei islâmica” - a sharia, que é a interpretação do grupo sobre o Alcorão. Mas sem entrar em detalhes de como isso aconteceria.
- busca por reconhecimento internacional do novo governo do Afeganistão e fim da guerra, “sem inimigos externos ou internos”

As mulheres do país temem perder direitos políticos, educacionais e sociais conquistados nos últimos 20 anos. Antes da ocupação americana, meninas eram impedidas de frequentar escolas tradicionais e forçadas a casamentos arranjados. O Talibã insiste que as leis não serão as mesmas agora, mas comerciantes já começaram a tirar as imagens de mulheres de salões de beleza e lojas de roupa, pelo medo de punição do novo governo.

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Boechat analisa que apesar do longo tempo de ocupação americana, o grupo tinha apoio considerável em várias partes do Afeganistão. A forma de dominação dos diversos governos, republicanos ou democratas, e a forma de controle, que por vezes ignorava tradições afegãs ampliou o apoio ao grupo.

Nos primeiros dias, o Talibã tenta mostrar ao mundo uma imagem "moderada", ao contrário do extremismo quando eles estiveram no poder pela primeira vez, entre 1996 e 2001, com diversas violações aos direitos humanos.

O grupo ainda disse que o Talibã não quer nenhum inimigo interno ou externo, buscando apenas garantir que o Afeganistão não se torne novamente um campo de batalha de conflito.

O repórter ainda pontua que o projeto dos radicais passa por se manter no poder e, para isso, será necessário algum apoio internacional para investimentos e estabilização econômica do país, por exemplo. A China se tornou a primeira potência a sinalizar um reconhecimento do novo governo afegão, e espera-se, incialmente, outros apoios locais como o da Rússia, Irã e do Paquistão.

Apesar das cenas que chocaram o mundo na última segunda, quando pessoas se penduraram em aviões para tentar fugir da capital Cabul - pelo menos sete morreram no aeroporto -, havia uma tranquilidade que contrastava com o pavor de alguns afegãos, principalmente os contrários aos Talibãs, de um “banho de sangue” na cidade por vingança.

Mesmo com o discurso de moderação do grupo radical, há relatos de execuções em regiões afastadas da capital, de acordo com o repórter, que pontua que qualquer previsão sobre o futuro do Afeganistão, neste momento, é quase impossível. Como exemplo, citou a rapidez com que o próprio Talibã retomou o poder, em movimento antes previsto pelos analistas internacionais para acontecer no início de 2022.

Ainda há muita aglomeração de moradores e turistas no Afeganistão, que tentam embarcar em qualquer avião disponível. Tropas americanas e de outros países tomaram o controle do aeroporto, e apenas voos militares para a retirada de diplomatas e civis do país estão operando. Após as cenas de desespero, o tráfego de voos militares no aeroporto de Cabul foi retomado nesta terça.

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