Mané Garrincha era um genial jogador, driblador como ninguém, um ‘anjo das pernas tortas’, mas também não tinha sangue de barata. Era provocado, xingado e agredido o tempo todo pelos zagueiros que tentavam adivinhar para que lado ele iria driblar.
Garrincha foi o grande nome da conquista do bicampeonato mundial do Brasil em 1962, no Chile, principalmente depois que Pelé se machucou na segunda partida da Seleção e não pode mais jogar. Mas, se fosse hoje, Garrincha não teria jogado a final daquela Copa. Ele foi expulso na semifinal contra os chilenos, donos da casa e, teoricamente, não poderia disputar a decisão. Mas, há 60 anos, as regras eram outras.
Naquela época não existia cartão amarelo nem cartão vermelho. Eles só passaram a ser usados na Copa de 1970, no México. Em 1962, jogador que aprontava em campo era expulso pelo árbitro com o dedo indicador do juiz mostrando o vestiário: “O senhor está expulso”!.
No final do jogo contra o Chile, vencido pelo Brasil por 4 a 2, no Estádio Nacional, em Santiago, Garrincha tinha aprontado de tudo: fez dois gols, deu assistência para Vavá fazer mais um (ele fez o quarto também). Aos 38 minutos, depois de tanto apanhar e ver os chilenos batendo nos brasileiros, Garrincha revidou e agrediu o chileno Rojas. O bandeirinha uruguaio Esteban Marino viu o lance, chamou o árbitro peruano Arturo Yamazaki que expulsou Garrincha.
O Brasil ‘malandro’
A verdade é que não era nem para o Brasil estar na disputa mais. A Seleção podia ter sido eliminada ainda na primeira fase não fosse a “malandragem” do experiente lateral-esquerdo Nilton Santos na partida contra a Espanha. Quando a “Fúria” vencia a partida por 1 a 0, Nilton Santos derrubou o espanhol Collar dentro da área e, como o árbitro estava longe do lance, o nosso "Enciclopédia do Futebol" levantou os braços, deu dois passos malandramente para fora da risca da grande área e, quando o juiz chegou ao local, marcou falta, e não pênalti.
Pior, na cobrança da falta, a bola foi erguida na área e o espanhol Peiró marcou de bicicleta. Mas o juiz anulou alegando jogo perigoso, sendo que o espanhol estava bem longe do zagueiro brasileiro Zózimo. Era para ser Espanha 2 a 0. Ah, se tivesse o VAR… O Brasil reagiu e, com dois gols de Amarildo, ganhou a partida e seguiu adiante.
Garrincha expulso e absolvido
Voltando à expulsão de Garrincha na semifinal. Naquela Copa, não existia suspensão automática. O jogador que era expulso em campo era submetido a um julgamento feito por membros da Fifa antes da próxima partida. Levava-se em consideração a súmula da partida.
A súmula de Brasil e Chile não consta o depoimento e a assinatura do bandeirinha uruguaio. Esteban Marino “sumiu” depois do jogo e voltou para o Uruguai sem assinar o papel oficial. Constava na súmula apenas a declaração do árbitro peruano dizendo que não viu o lance e que expulsou o brasileiro com base no que o seu assistente falou.
O julgamento da expulsão de Garrincha terminou com votação por 5 a 2 pela absolvição do brasileiro. A expulsão virou advertência e o Mané pode jogar a final contra a Checoslováquia. Os próprios checos queriam que Garrincha jogasse, depois de terem vivido de perto o drama da contusão de Pelé na primeira fase, justamente no jogo entre Brasil e Checoslováquia.
Garrincha jogou a final, mesmo com uma febre de 38°C, o Brasil venceu os checos por 3 a 1 e o resto é história.
Copa do Mundo de 1962
- Período: 27 de maio a 10 de junho de 1934
- País-sede: Chile
- Campeão: Brasil
- Vice-campeão: Checoslováquia
- 3º lugar: Chile
- 4º lugar: Iugoslávia
- Artilheiros: Jerkovic (Iugoslávia), Garrincha e Vavá (Brasil), Sanchez (Chile), Ivanov (URSS) e Albert (Hungria), 4 gols
- Participação do Brasil: bicampeão mundial. O time era PGilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. O técnico era Aymoré Moreira. Também jogou o Pelé.
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Final: Brasil 3 x 1 Checoslováquia
- Gols: Masopust (CHE) aos 15 e Amarildo (BRA) aos 17 minutos do 1º tempo; Zito (BRA) aos 24 e Vavá (BRA) aos 33 minutos do 2º tempo
- Brasil: Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira.
- Checoslováquia: Schroif; Tichy, Popluhar, Pluskal e Novak; Masopust e Pospichal; Scherer, Kadraba, Kvasnak e Jelinek. Técnico: Rudolf Vytlacil.
- Árbitro: Nickolaj Latychev (URS)
- Público: 69.000 pessoas
- Local: Estádio Nacional, em Santiago