De hambúrguer no Japão à batida de carro, Rubinho lembra história com Senna

Brasileiros dividiram as pistas na Fórmula 1 entre 1993 e 1994, compartilhando boas histórias

Emanuel Colombari e Pedro Lopes

Rubens Barrichello e Ayrton Senna dividiram as pistas da Fórmula 1 por 19 corridas entre 1993 e 1994. Foi tempo mais do que suficiente para que Rubinho tivesse bons momentos fora das pistas ao lado do “Chefe”.

Muito antes de estrear pela Jordan em 1993, Barrichello já nutria um bom relacionamento com o tricampeão. Segundo ele, ao longo da carreira, os dois sempre foram bons amigos.

“‘Chefe’ é uma forma carinhosa de poder idolatrar aquele que foi o maior para mim. Quando eu tinha 13 anos e eu fui para o Mundial de kart, meu pai ligou para o Ayrton, para a família Senna, para saber qual equipe eu iria. Fui muito bem recomendado. Tinha todo um processo”, contou Rubinho durante edição do Queimando a Largada, podcast apresentado por Lívia Nepomuceno. A íntegra do programa vai ao ar na quarta-feira (6).

Apesar de descrever Ayrton Senna como um amigo “muito privado”, Rubens Barrichello lembrou de momentos de descontração entre os dois. Como em uma passagem ao Japão em 1994, em que o ídolo se permitiu sair da dieta. Na ocasião, os dois estavam hospedados em um mesmo hotel, e se encontraram quando Rubinho saía para visitar a Disneylândia de Tóquio.

“Você vê Deus, você vê uma pessoa que você idolatra, e ele pergunta onde você está indo – não fui eu que perguntei. Falei: ‘Estou indo na Disney’. Ele falou: ‘Posso ir?’”, descreveu Rubinho, lembrando que Ayrton “era muito idolatrado no Japão”. “Nesse momento, ele conseguiu ficar tranquilo. Você imagina o quanto ele deveria comer corretamente. Quando falou em hambúrguer, pensa em um cara que ficou com sorriso, com uma vontade... Mandou ver dois desses aí.”

Rubinho ainda lembrou outro momento marcante ao lado de Senna e do também brasileiro Christian Fittipaldi, piloto da equipe Minardi em 1992 e 1993 e da Footwoork em 1994. Durante uma passagem por Adelaide (Austrália), Christian e Rubinho quiseram pregar uma peça no ídolo, mas pagaram caro.

“Esse dia tem um fator muito inédito, porque o Ayrton era reconhecido como uma pessoa que adorava fazer uma brincadeira com as pessoas. Eu falei para o Christian: ‘Quando for assim, vamos bater no carro dele atrás para ver qual é a reação’. Carros alugados, na brincadeira, sem quebrar. Quando a gente chegou lá, ele não esboçou nada de emoção, não falou absolutamente nada disso. A única coisa que ele fez - e eu não entendi na hora - foi pedir para o Christian parar o carro antes, eu depois e depois ele, a 45 graus”, contou.

“Quando acabou o jantar, ele gentilmente pagou a conta e levantou um pouco antes. Quando eu chego lá fora, ele já está com o carro meio para fora. Quando ele nos viu, foi só uma ré (imita uma batida). Meu carro entrou para dentro do carro do Christian. Ele engatou a primeira e foi embora. E nunca mais falou de nada disso. Eu lembro do barulho do ferro com ferro. Eu tive que entrar pela porta lateral (do passageiro). Quando eu fui entregar o carro, o cara perguntou o que tinha acontecido. Eu falei: ‘Amigo, cheguei e o carro estava assim. Não vou falar para você que foi o Ayrton Senna que fez isso, que você não vai acreditar’.”

‘Um pouco de espectador’

Os três estiveram juntos também no Grande Prêmio da África do Sul de 1993, quando Rubens Barrichello estreou na Fórmula 1. Na ocasião, o novato da Jordan se surpreendeu ao receber as boas-vindas do tricampeão.

“O meu melhor momento com o Ayrton foi na África do Sul, quando eu estou no meu box. Eu vejo um povo todo chegando, seguindo o Ayrton Senna, e ele vindo me dar as boas-vindas, boa sorte na África do Sul pela primeira vez”, registrou.

“Mesmo no dia seguinte, eu estou dentro do meu carro, com a minha televisãozinha dentro do carro de Fórmula 1, e eu vejo o Ayrton na televisão saindo do box dele, e sei que ele passaria na minha frente. Fiquei na dúvida: olho na televisão ou ao vivo? Foi um pouco de espectador e um pouco de realidade. Lembro dele passando e eu voltando para a televisão para ver se aquilo era real mesmo.”

Confira o primeiro episódio do “Queimando a Largada”, com Sergio Mauricio

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