Uma expressão, muito usada na internet, é agroboy. Ou seja, aquele homem normalmente branco e hétero, com dinheiro, do interior ou não, que escuta sertanejo. No entanto, influenciadores homossexuais, decidiram reformular o termo, a fim de incluí-los no universo do agronegócio. E aí surgiu a referência agrogay.
Odorico Reis, conhecido como agrogay, conversou com o Band.com.br e explicou porque se apropriou do termo e como é ser gay no universo agro. De psicólogo a influenciador digital, o comediante conquistou um público assíduo em suas redes sociais, com a missão de entreter e divertir quem o acompanha.
Nascido em Buriti Alegre, interior de Goiás, Odorico Reis, mais conhecido como Dorico, o Agrogay da internet, tem 30 anos, mas já possui uma história com diversas experiências. Por formação, ele é psicólogo especialista clínico e pós-graduado no Rio de Janeiro.
Ele conta, que decidiu adotar o termo, após conferir os conteúdos de Ivan Rangel, o agrogay do interior de Minas Gerais, que ganhou o apelido do público no Tik Tok.
“Eu decidi carregar a bandeira do agrogay. Fui o primeiro a usar essa nomenclatura em Goiás e ganhei uma expressividade muito grande até ao nível internacional”, explica Odorico.
Atualmente, o influenciador mora em São Paulo. Ele se mudou para a cidade a fim de estudar teatro, porque as coisas na internet deram certo, e ele planeja melhorar algumas habilidades. No entanto, durante a entrevista, enquanto gravava um clipe sertanejo, o agrogay disse que sempre está viajando a trabalho para as cidades do agro. Ele também farante, que é amigo íntimo de celebridades do sertanejo, como Ana Castela, Gusttavo Lima, Hugo e Guilherme.
Representatividade importa!
Levando as pessoas a pensarem sobre respeito e empatia, assuntos pertinentes atualmente na internet, Dorico, relaciona o meio agro à diversidade para falar com bom humor sobre saúde mental e arte. Ele explica, que essa foi a maneira que encontrou de abrir caminhos com seu público.
“Tenho aprendido na internet, que as pessoas gostam de me ver, mas não gostam quando eu milito. A vez que eu mais perdi seguidores, foi quando fui para as redes sociais explicar de onde vem esse ódio contra o gay e trouxe uma visão história da homossexualidade”, explica.
Ele comenta que para falar sobre a pauta e conseguir fazer seu público entender, ele precisou usar outra estratégia, e escolheu o humor. “Foi uma forma de defesa, porque diante de críticas, eu aprendi a me criticar e fazer piada comigo”, conta o artista.
Conservadorismo no universo agro
Do plantio à colheita, o meio rural é muito mais conservador e tradicional que o meio urbano, algo que Odorico sabe bem e vivência diariamente.
“Sou um filho de promessa. Minha mãe já tinha perdido duas gestações e eis que eles fizeram uma promessa para Santos Reis. E eu vim, para quebrar alguns paradigmas”, conta. O influenciador explica que a família é de uma base agropecuária e diz que viveu muito tempo na roça — colocando galinha para chocar e tirando leite de vaca.
No entanto, ele expõe que sofre preconceito de várias maneiras, seja explícito, ou velado, inclusive, na própria família. “Meus pais não me acolheram bem. Meu pai, que é alcoólatra, me bateu muito quando descobriu e minha mãe tentou tirar a vida. Muitos gays já passaram por isso. É um sofrimento grande”, confessa.
“Eu pensava: Como assim? Eles fizeram promessa para eu vir ao mundo, e agora que estou aqui, eles não gostam porque não saí como eles imaginaram?”, reflete. Ele explica que até hoje, a relação com os pais não é das melhores: “A gente não fala sobre relacionamentos. Se eu casar, não sei se eles vão ou não. É difícil, porque não tem como separar uma coisa da outra”.
Mesmo com tantas dificuldades, ele diz que não questiona o porquê de ser homossexual, e sim, questiona o porquê existe preconceito. Seja no âmbito religioso, como no próprio agro.
Hoje, enquanto influenciador digital, ele diz receber muitos relatos de mães, que passaram a ver os filhos de outra maneira e de homossexuais do agro que se identificam com a história dele. “Falar sobre tudo isso gera esperança”, considera o artista.
“Estou em um lugar de alto nível de crítica: universo agro, rodeios e homossexualidade. No interior, os discursos de intolerância são muito comuns”, diz. Entretanto, o agrogay explica que quando fez a locução em um rodeio de bois, muita gente o acolheu e falou da importância dele dar visibilidade para o tema.
“É um assunto muito abafado e escondido. Hoje eles estão vendo as pessoas LGBTQIA+ em rodeios de maneira diferente. É algo muito simbólico, estamos fazendo história nesse meio”, comemora. Odorico ainda acredita que para fazer algum tipo de revolução, é preciso fazer algo marcante. “O chapéu e a bota rosa, por exemplo, quebram muitos estereótipos e questionamentos”, conclui.
Lil Nas X questionou o agro nos EUA
Lil Nas X, rapper americano de 20 anos, é gay e gerou polêmica ao dizer que canta country. Foi esse o estilo escolhido quando ele subiu "Old Town Road" no YouTube e em outros serviços de download e streaming, em 2018.
A música entrou nas paradas de sucesso americana e ainda ganhou a atenção de Billy Ray Cyrus, o icônico cantor country e pai de Miley Cyrus. A ideia era impulsionar a canção ao primeiro lugar das paradas country. O cantor fez o dueto com Lil Nas X e o som chegou 19º lugar.
Mas uma semana antes do lançamento da nova versão, a Billboard fez um movimento polêmico que acabou impulsionando ainda mais o sucesso de "Old Town Road": retirar a música das paradas country, considerando que a faixa não pertence ao gênero.
O comunicado da Billboard, que explica que a faixa “não tem elementos o suficiente da música country na sua versão atual” foi considerada racista e homofóbica pelo público, que reclamou que uma canção que traz um banjo característico e fala sobre cowboys e cavalos não poderia ser mais country. A empresa refutou a crítica, mas manteve "Old Town Road" de fora das listas do estilo.